
O retorno de “CONCLAVE” durante o adeus ao Papa Francisco
Por Farid Zaine
@farid.cultura
A morte do Papa Francisco surpreendeu o mundo; apesar de sua idade e da perigosa pneumonia dupla que o levou a ficar internado no Hospital Gemelli por 38 dias, Francisco teve alta para voltar ao que mais gostava: exercer sua função de maior pastor da Igreja Católica, e estar perto de muita gente. Os médicos alertaram para a necessidade de um longo período de recuperação, que exigiria repouso e afastamento das atividades exigentes de um Papa. Francisco não se convenceu disso e, no último domingo de Páscoa, deu a bênção para uma multidão de fiéis e foi para perto deles no Papamóvel. Sua despedida foi fazer o que mais amava, que era estar no meio do povo. As pessoas estavam confiantes na recuperação de Francisco, e o anúncio da morte causou choque e espanto. Ao mesmo tempo, foi quase que imediata a aceitação da partida de um dos mais queridos Papas de todos os tempos, pois permaneceu um sentimento de amor, respeito e gratidão por tudo o que ele fez, não apenas pela Igreja Católica, mas pelas religiões e povos do mundo todo. O Papa Francisco, dono de um invejável senso de humor, conseguia dizer o que todos precisavam ouvir, fossem apenas fiéis ou Chefes de Estado ou líderes de outras religiões. Ele foi um grande exemplo de humildade ímpar associada a uma profunda sabedoria, o que fazia com que tocasse em temas delicados para a Igreja Católica, como os abusos sexuais cometidos por religiosos e a aceitação da homossexualidade, quanto em assuntos como as guerras devastadoras que se espalham pela Terra, bem como nas questões ligadas às mudanças climáticas.
A repercussão planetária da morte do Papa Francisco refletiu-se nos cinemas, com o retorno às salas do longa “Conclave”, que fez sucesso nas bilheterias, veio para o streaming e agora pode ser visto de ambas as formas. A experiência de ver “Conclave” nos cinemas é muito mais impactante, dada a grande qualidade técnica do filme.
Edward Berger, diretor de “Conclave”, mostrou muito do seu talento em 2022, quando dirigiu “Nada de Novo no Front”, que foi indicado em nove categorias no Oscar 2023, e venceu em 4, incluindo Melhor Filme Internacional. “Nada de Novo no Front” tem sua dramática história ambientada na Primeira Guerra Mundial, com seu poder devastador sobre os jovens, principalmente.
“Conclave” é inteiramente focado em outra guerra, como diz um personagem , que é a eleição de um Papa, revelando com detalhes poucas vezes mostrados, os procedimentos da votação secreta, quando os cardeais ficam isolados de tudo e envolvidos na manutenção ou destruição de “candidaturas”. Na história, o Cardeal Lawrence, interpretado com brilhantismo por Ralph Fiennes, é incumbido de levar adiante a difícil tarefa de conduzir o complexo processo de votação. A princípio, com tal sinopse, pode parecer que o filme seja monótono. Pelo contrário, há um enredo intrincado que gera drama e mistério, além de alta dose de suspense. Um elenco primoroso carrega com categoria todos os minutos do longa, com destaque para John Lithgow como o Cardeal Tremblay e Isabella Rossellini, como a Irmã Agnes. Dentre as oito indicações ao Oscar 2025, que incluiam Melhor Filme e Melhor Roteiro adaptado, estavam Ralph Fiennes como Melhor Ator e Isabella Rossellini como Melhor Atriz Coadjuvante. Berger não foi indicado pela direção, e o longa acabou vencendo apenas como Melhor Roteiro Adaptado. Merecia mais.
Na cobertura da morte do Papa Francisco, muitas imagens reais remetem ao longa, que é riquíssimo nos detalhes de tudo o que acontece após a morte de um pontífice. A comoção mundial pela morte de uma figura tão amada quanto à do Papa Francisco, teve a consequência natural do relançamento do filme “Conclave” nos cinemas e sua permanência entre os filmes mais vistos no streaming nos últimos dias e, no caso do Prime Video, o mais procurado. Como efeito paralelo, o belíssimo “Dois Papas”, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, sobre um encontro fictício entre Francisco, na época o Cardeal Jorge Bergoglio, e o Papa Bento XVI, pouco antes de sua renúncia, também arrastou milhares de pessoas para a Netflix.
“Conclave” merece ser visto e revisto, tanto como homenagem ao Papa que se vai, quanto pelas expectativas em torno da escolha do novo ocupante do Trono de Pedro. Para o bem da humanidade, que ao fim do Conclave real de 2025, possamos estar diante de um Francisco II.
CONCLAVE – Filme de Edward Berger com 8 indicações ao Oscar 2025, e vencedor na categoria de Roteiro Adaptado – em cartaz nos cinemas e disponível no streaming (Prime Video).
COTAÇÃO: ****MUITO BOM
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