
Cinema 2025 : Destaques do primeiro semestre – Parte 1
Por Farid Zaine
@farid.cultura
Todos os anos, ao final do primeiro semestre, cinéfilos,
críticos, sites especializados, todos gostam de avaliar os filmes lançados no
período e escolher quais seriam seus destaques. Aqui, no Cineart, fizemos o
mesmo. Então aí vão os destaques do cinema em 2025, até o momento:
1-
PECADORES
(Sinners)
Um filme de terror? Um filme sobre vampiros? Um filme que tem
forte apelo musical em torno do blues? Um filme sobre racismo e violência
contra negros nos EUA? Estamos falando de vários filmes? Sim, temos incontáveis
exemplos desses gêneros, mas foi lançado neste ano um longa que reúne todas
essas características, “Pecadores” (Sinners), de Ryan Coogler. Vale a pena
mergulhar no universo pensado por Coogler, através da história de Sammie,
talentoso guitarrista e cantor de blues, filho de um pastor e primo dos irmãos
gêmeos Smoke e Stack. Os gêmeos , após longo período trabalhando com Al Capone
em Chicago, retornam à sulista cidade natal para abrir uma casa de shows
destinada à população negra. Aí já tempos grandes trunfos do filme, que são as
interpretações irretocáveis dos intérpretes dessas personagens: Sammie é
interpretado pelo músico Miles Caton, e os gêmeos por Michael B. Jordan que, num papel duplo, é responsável por boa parte
da força do filme.
Estamos chegando apenas ao final de junho, mas “Pecadores” já
entra na lista dos melhores filmes do ano, com chances de indicações e vitórias
em diversas categorias dos principais prêmios do cinema, incluindo o Oscar.
“Pecadores” surge como um filme inovador e corajoso, que usa
todos os seus elementos – violência, racismo, preconceito, misticismo,
vampirismo, romance e o poder da música – para revelar os verdadeiros demônios
de cada um e os antídotos para combatê-los.
PECADORES (Sinners, EUA, 2025) – Longa escrito e dirigido por
Ryan Coogler , com Michael B. Jordan e Miles Caton. Disponível para aluguel e
compra em várias plataformas, incluindo Prime Video e Apple TV+.
2 – Missão Impossível- O Acerto Final
O título “O Acerto Final” antecipa um sentimento de despedida
para Tom Cruise na franquia “Missão: Impossível”. Mas como tudo é possível
nesta cinessérie derivada de um antigo seriado de televisão de enorme sucesso,
também não está descartada a presença do destemido Cruise numa nova empreitada
dentro da franquia. Ficou famoso o fato dele dispensar dublês mesmo nas cenas
mais perigosas, e isso acrescentou charme extra a cada novo filme, com a
plateia procurando descobrir os segredos da coragem do ator e de sua decantada
forma física, mesmo tendo passado dos 60.
“Missão Impossível - O Acerto Final” é um divertimento de
primeira. Tem um roteiro bastante intrincado, e é preciso muita atenção para
saber exatamente o que está acontecendo, ainda mais quando a história precisa
ser explicada com cenas e fatos de muitos filmes anteriores. Neste “Acerto
Final” tudo se repete: ação vertiginosa, lutas bem coreografadas, suspense
contínuo, tudo com visual espetacular e efeitos visuais impressionantes, com
uma trilha sonora que realça a tensão, sem dispensar o icônico tema criado por
Lalo Schifrin. Há uma longa sequência particularmente tensa, que é quando Ethan
Hunt fica submerso buscando o código de fonte da “Entidade” - uma inteligência artificial que ameaça
controlar armas nucleares e, num segundo, devastar grande parte do planeta -, e
aí , com a falta de diálogos, a música ganha grande relevância, associada a
efeitos sonoros.
O oitavo filme da franquia, este “Missão Impossível: O Acerto
Final” está profundamente conectado com os avanços tecnológicos dos nossos dias
, enquanto que em 1966 algo como a Inteligência Artificial era pura ficção.
Unir essas duas pontas traz uma mistura de nostalgia com o espantoso avanço da
ciência da computação, que é o que vemos acontecendo hoje.
Missão Impossível – O Acerto Final (EUA, 2025) – Direção de
Christopher McQuarrie, com Tom Cruise, Hailey Atwell, Esai Morales, Ving
Rhames, Angela Bassett e grande elenco – em cartaz nos cinemas.
3 – HOMEM COM H
A primeira coisa que impressiona em “Homem com H”,
cinebiografia de Ney Matogrosso, é a entrega total que Jesuíta Barbosa faz ao
personagem. Barbosa é um excelente ator e, desde “Tatuagem”(2013), de Hilton
Lacerda, demonstra que há talento de sobra além de sua celebrada beleza.
Interpretando Ney Matogrosso, ele tem o melhor papel de sua carreira até agora.
Sem imitações forçadas, Barbosa capta tanto a decantada expressão corporal do
cantor no palco, quanto a serenidade do homem em seu cotidiano.
O diretor Esmir Filho acertou em cheio ao escolher, como fio
condutor da biografia de Ney, sua relação com o pai, um militar rígido com quem
ele teve problemas de relacionamento desde criança. Aliás, o filme começa com o
Ney menino, no meio de uma mata, já revelando a interação que ele sempre teve
com a natureza, as águas, os bichos, as plantas, elementos que viriam a compor
sua imagem, seus cenários, seus figurinos.
Ney se revelou sempre um homem independente, livre, sem nunca
ter carregado bandeiras. Sua vida, sua arte, sua presença nos palcos, sua
maquiagem e suas ousadas performances, tudo isso compunha a figura com que ele
demonstrava sua liberdade criativa e sua forma de expressão. A voz, de um
timbre único e de uma invejável extensão, logo fez dele uma referência
indispensável na história da música brasileira. Jesuíta Barbosa captou todas as
nuances do homem e do artista Ney Matogrosso.
“Homem com H” revisita não apenas a história do artista Ney
Matogrosso, como faz uma leitura do período vivido pelo Brasil, da infância ao
auge de sua carreira. Há uma passagem especialmente interessante, que mostra
homens da Censura Federal da época da ditadura militar, questionando
“movimentos impróprios” do corpo de Ney
em um show. O episódio demonstra o quão ridícula era a censura, e o quão
estúpidos eram os censores, o que acaba por deixar a cena hilária.
Com um acabamento visual belíssimo, recriação perfeita de
época, elenco de peso e a primorosa trilha sonora composta pelos grandes
sucessos de Ney, a cultura brasileira ganha, com “Homem com H”, mais um grande
filme, num momento importante do reencontro do público com nosso cinema, após o
sucesso popular e os prêmios, incluindo o inédito Oscar, de “Ainda Estou Aqui”.
Ao final de “Homem com H”, a plateia sente um irrefreável
desejo de aplaudir, como se estivesse saindo de um dos magníficos shows do
cantor, dessa vez carregando também uma lição: o importante é viver a vida de
forma plena, livre, independente, sem se deixar ferir e sem ferir ninguém. Que
bom que Ney Matogrosso, esse homem com H, hoje aos 83 anos, continue a repartir
conosco sua arte e sua história, e que Esmir Filho tenha escolhido contar essa
história no seu filme.
HOMEM COM H (Brasil, 2025) – longa de Esmir Filho com Jesuíta
Barbosa, Hermila Guedes e grande elenco. Em cartaz nos cinemas e já disponível
na Netflix.
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