
AS MORTAS : minissérie mexicana revive macabra história real
Por
Farid Zaine
@farid.cultura
farid.cultura@uol.com.br
Quem
procura uma minissérie para maratonar no fim de semana deve dar uma chance para
“As Mortas”, da Netflix. Misturando suspense, violência, erotismo e alta dose
de crítica social, a minissérie mexicana
é provocante ao causar incômodo com uma história macabra baseada em fatos
reais. As ótimas atrizes Arcelia Ramírez e Paulina Gaitán interpretam,
respectivamente, as irmãs Arcângela e Serafina Baladro, duas mulheres fortes e
determinadas que fazem fortuna montando bordéis. No México repleto de corrupção dos anos 1960,
com o apoio de políticos , membros do exército e da Igreja, as irmãs compram
toda sorte de proteção para seus crimes. Arcângela e Serafina são personagens
fictícias inspiradas na vida real de duas irmãs que ficaram conhecidas como as
“Poquianchis”, protagonistas de um rumoroso caso que repercutiu em todo o país,
dadas as suas características chocantes.
“As
Mortas” (Las Muertas) é uma minissérie com 6 episódios baseada no romance de
Jorge Ibargüengoitia, sendo dirigida por Luís Estrada. Prostituição, tráfico humano e de drogas, cárcere privado,
assassinatos e ocultação de cadáveres são elementos de uma trama pesadíssima,
mas que não descarta o humor e o cinismo. O humor ácido surge muitas vezes da
participação de Joaquín Cosío, intérprete do Capitão Bedoya, um dos protetores
das irmãs, amante de Serafina. Bedoya é a forma de mostrar a corrupção das instituições;
ele, sempre com seu uniforme de Capitão, regiamente pago pelas irmãs, não só as
protege como comanda todo tipo de violência contra as mulheres que trabalham
nos bordéis que elas controlam com mãos de ferro. O contraponto mais leve fica
no relacionamento entre Serafina e um padeiro, Simón Corona, interpretado por Alfonso Herrera. As cenas de
sexo entre Serafina e Simón são intensas, e a vingança que ela arquiteta contra
ele por ter sido abandonada três vezes, é hilária. Já o cinismo aparece nas inaugurações
dos bordéis, lotadas de homens poderosos da política, da justiça e do exército,
sempre com a presença de um padre para dar a bênção.
Os crimes das irmãs Baladro , tenebrosos,
motivaram uma imprensa sensacionalista que, ao ampliar os horrores de
descobertas macabras, acabou por acelerar um processo que levou muita gente à
prisão, incluindo as duas maiores responsáveis e o corrupto e violento Capitão.
O desmonte do império criminoso das irmãs Baladro começa quando morre uma das
mulheres ,Blanca, prostituída desde menina, e uma sequência de mortes acontece
a seguir, com os corpos de muitas mulheres sendo enterrados em covas rasas improvisadas
em quintais.
“As Mortas” sustenta o interesse não apenas
pela brutalidade da história, mas por se saber que a ficção mostrada pode ter
sido mais amena do que os fatos que realmente aconteceram na vida real e
abalaram a sociedade mexicana nos anos 1960.
“As Mortas” é tecnicamente muito bem realizada,
com fotografia, direção de arte e trilha sonora que realçam o ambiente tóxico
onde se desenrola todo o drama. Difícil é aceitar que coisas semelhantes ou
piores acontecem nos dias de hoje pelo mundo afora.
AS MORTAS (Las Muertas, México, 2025) –
minissérie para adultos disponível na Netflix, com 6 episódios.
Cotação: ****MUITO BOM
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