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Brasil tem média de 38 suicídios por dia

Passamos a viver de maneira automática, mesmo que seja de forma inconsciente, seguindo sempre a mesma rotina, nos mesmos horários, realizando as tarefas diárias, permitindo abusos psicológicos no trabalho e na vida pessoal, muitas vezes (ou quase sempre) em silêncio. Esse acúmulo de sentimentos acaba se transformando em um caos interno que afeta a saúde física e mental. 

 

Dados do Ministério da Previdência Social, divulgados em 2024, revelam uma crise alarmante de saúde: quase meio milhão de pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais, o maior número em pelo menos 10 anos. Em comparação com o ano anterior, as 472.328 licenças médicas concedidas representam um aumento de 68%.

 

Dos 3,5 milhões de pedidos de licença no INSS, 472 mil solicitações foram atendidas por questões de saúde mental. Os dados apontam que em 64% dos atendimentos realizados a maioria são mulheres, com idade média de 41 anos, e que possuem quadros de depressão e ansiedade. Elas passam até três meses afastadas do trabalho. 

 

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), aproximadamente 14 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, o que equivale a uma média alarmante de 38 mortes por dia, no Brasil. Esses números refletem uma triste realidade e apontam para a crescente preocupação com a saúde mental no país.

 

O cuidado com a saúde mental é fundamental tanto para prevenir doenças graves quanto para salvar vidas. A depressão, por exemplo, é uma das principais causas do suicídio e pode se manifestar de diversas formas. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são cruciais para ajudar as pessoas a lidarem com suas dificuldades emocionais e melhorarem a qualidade de vida.

 

“O Setembro Amarelo é um movimento de conscientização que, ao longo dos anos, tem se consolidado como um dos principais marcos no combate ao suicídio. A campanha convida a sociedade a romper o silêncio, reduzir estigmas e ampliar o diálogo sobre a saúde mental. O suicídio deve ser compreendido como um fenômeno complexo, influenciado por aspectos psicológicos, sociais, culturais e biológicos. Mais do que um ato individual, trata-se de um processo de intenso sofrimento, frequentemente acompanhado de sentimentos de desesperança e desamparo”, orienta Guilherme Cosme, neuropsicólogo na INSELF Neuropsicologia Avançada.

 

O suicídio não pode ser visto apenas como uma questão individual. Ele está atravessado por fatores sociais e culturais, como desigualdades, preconceitos e ausência de políticas públicas efetivas. Ambientes escolares e profissionais, por exemplo, precisam se preparar para identificar sinais e criar redes de acolhimento. 

 

Programas como o Ressignificações e Acolhimento Integrativo do Sofrimento Existencial, o RAISE, (Fukumitsu, 2019) mostram o impacto positivo de ações comunitárias que integram prevenção e posvenção. Além disso, é importante lembrar que pessoas neurodivergentes, como autistas, muitas vezes enfrentam sobrecarga emocional e social, o que aumenta a vulnerabilidade ao suicídio quando não há ambientes de aceitação e inclusão.

 

O Setembro Amarelo deve ser entendido não apenas como uma campanha, mas como um compromisso permanente com a valorização da vida. Reconhecer sinais, oferecer apoio e garantir o acesso a tratamentos, como a DBT (Terapia Comportamental Dialética) e programas de prevenção comunitária, são passos concretos na construção de uma sociedade mais acolhedora e resiliente. “Mais do que estatísticas, estamos falando de pessoas, histórias e vínculos que podem ser preservados quando a escuta, a empatia e a intervenção precoce se tornam prioridade”, finaliza o neuropsicólogo.

 

 

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Sinais de alerta de uma crise suicida

 

Identificar os sinais de uma crise suicida pode ser decisivo para salvar vidas. Entre os principais destacam-se:

 

• Isolamento social e afastamento das rotinas habituais.

• Expressões verbais diretas ou indiretas de desesperança e desejo de morrer.

• Oscilações emocionais intensas, com episódios de irritabilidade, tristeza profunda ou apatia.

• Alterações no sono e no apetite, refletindo desregulação emocional.

• Despedidas incomuns, como doar pertences ou escrever mensagens finais.

• Cada um desses sinais deve ser considerado um pedido de ajuda, nunca um gesto irrelevante.

 

A ajuda começa com o escutar com empatia, não julgar, não interromper e não minimizar a dor do outro. O apoio pode incluir:

 

• Escuta ativa e validante, reconhecendo a gravidade do sofrimento.

• Apoio na busca de atendimento especializado, envolvendo psicólogos e psiquiatras.

• Acionamento de redes de apoio, familiares, amigos e colegas próximos.

• Encaminhamento a serviços especializados, como o CVV (188) ou pronto-socorro em situações de risco iminente.

 

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