
Bolsonaro pede anistia e manda recado ao Congresso
Na primeira manifestação de rua após se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse neste domingo, 6, em São Paulo, que as acusações contra ele são fruto de perseguição política, atacou o ministro Alexandre de Moraes e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mandou recados ao Congresso sobre o projeto de anistia aos implicados no 8 de Janeiro.
Em um discurso de cerca de 25 minutos para apoiadores reunidos na Paulista, o
ex-presidente afirmou que quem sofreu um golpe foi ele, ao ser derrotado na
eleição de 2022, e que a manutenção de sua inelegibilidade em 2026 significaria
"escancarar a ditadura no Brasil". Bolsonaro está inelegível até 2030
por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Vamos falar quem deu golpe em outubro de 2022? Quem tirou Lula da cadeia?
O cara condenado em três instâncias por corrupção, por lavagem de dinheiro, é
tirado da cadeia. Quem descondenou o Lula para ele fugir da (Lei da) Ficha
Limpa? Os mesmos", disse ele. "O golpe foi dado, tanto é que o
candidato deles está lá."
O ex-presidente voltou a afirmar que seus adversários o querem
"morto" e que sua saída do Brasil, em dezembro de 2022, sem
reconhecer o resultado das urnas, foi medida de autoproteção. "O golpe
deles só não foi perfeito porque eu saí do Brasil em 30 de dezembro de 2022. Se
eu estivesse no Brasil, seria preso na noite de 8 de janeiro, ou assassinado
por esses mesmos que botaram esse vagabundo na Presidência. Estou no caminho
deles. Se acham que vou desistir, fugir, estão enganados. O que os canalhas
querem é me matar."
Aliados
O ato na Paulista para pressionar por uma anistia aos envolvidos nos
atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 contou com a presença de sete
governadores, além de parlamentares e outros aliados. Foram à Paulista Tarcísio
de Freitas (Republicanos-SP), Jorginho Melo (PL-SC), Romeu Zema (Novo-MG),
Wilson Lima (União Brasil-AM), Mauro Mendes (União Brasil-MT), Ratinho Júnior
(PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). A vice-governadora do Distrito
Federal, Celina Leão (PP), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB),
também marcaram presença.
Embora tenham, na época, condenado a destruição na Praça dos Três Poderes,
Tarcísio, Caiado, Zema e Ratinho Jr., agora pré-candidatos em 2026, defenderam
ontem uma anistia aos radicais. "Quero prisão para assaltante,
para quem rouba celular, para quem invade terra e para corrupto", disse
Tarcísio em discurso. Segundo ele, se ovo, carne e outros alimentos estão
caros, é porque Bolsonaro precisa voltar.
Ao chegar ao ato, Caiado afirmou que o 8 de Janeiro é indefensável, mas que as
penas são desproporcionais. "É isso que estamos buscando: justiça, mas sem
ser uma ação do Estado que venha punir como se fosse um gesto de
vingança", disse o pré-candidato à Presidência em 2026.
Segundo o Monitor do Debate Público do Meio Digital, da USP, a manifestação de
ontem reuniu cerca de 44,9 mil pessoas na Paulista. O levantamento foi feito
com base em fotos aéreas do momento de pico do ato, durante o discurso de
Bolsonaro. Em fevereiro do ano passado, quando o ex-presidente também foi à Paulista
pedir anistia, ele reuniu cerca de 185 mil manifestantes, conforme a mesma
contagem da USP. Já a Secretaria de Segurança Pública estimou 600 mil pessoas
presentes. Neste ano, secretaria e Polícia Militar informaram que não haveria
estimativa de público.
Após o ato esvaziado no mês passado, em Copacabana, no Rio, em que o mesmo
grupo de pesquisa estimou público de 18,3 mil pessoas, bolsonaristas evitaram
falar sobre a expectativa para São Paulo.
Batom
A manifestação foi marcada por referências à cabeleireira Débora Rodrigues dos
Santos, que pichou "Perdeu, mané", com batom, a estátua da Justiça,
durante o 8 de Janeiro. Moraes propôs pena de 14 anos de prisão para ela, que
está em prisão domiciliar.
Bolsonaro levou ao caminhão de onde discursou a mãe e a irmã da ré. "Não
tenho adjetivo para qualificar quem condena uma mãe de dois filhos a pena tão
absurda por um crime que ela não cometeu. Só um psicopata para falar que aquilo
que aconteceu no dia 8 de janeiro foi tentativa armada de golpe militar", disse
ele.
"A grande maioria do povo brasileiro entende as injustiças, e agora se
socorre na nossa Câmara e no nosso Senado para fazer justiça. E
a anistia é competência privativa do Congresso. Caso o projeto seja
sancionado ou promulgado, vale a anistia. Estamos aqui impulsionados pelo
episódio da Débora", declarou Bolsonaro
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) também discursou. Em alusão a
Débora, ela convocou um "levante dos batons" por um perdão aos
"presos injustiçados". A mulher de Bolsonaro disse que a cabeleireira
deveria ser punida como um pichadora comum, a uma pena que não resultaria em
prisão. "Não houve golpe", afirmou Michelle. "Não iremos
desistir. Nosso Deus levantou Jair Messias Bolsonaro para cuidar da nossa
Nação."
Câmara
Durante o ato, os manifestantes fizeram coro de "Fora, Moraes" e
criticaram a condução da proposta de anistia pelo presidente da
Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Bolsonaro evitou esboçar
reações. O pastor Silas Malafaia, por sua vez, atacou o deputado e afirmou que
Motta está "envergonhando o honrado povo da Paraíba" por não se
empenhar a favor do projeto de lei da anistia. Na semana passada,
pressionado pela bancada do PL, o presidente da Câmara pediu
"equilíbrio" a ações "sem mesquinhez"
Segundo o Placar da Anistia do Estadão, levantamento exclusivo
para identificar como cada um dos 513 deputados se posiciona sobre o tema, 197
são a favor do perdão ao 8 de Janeiro. Esse número é mais do que o suficiente
para garantir a apresentação da urgência do projeto no plenário da Casa.
Comentários
Compartilhe esta notícia
Faça login para participar dos comentários
Fazer Login