
Hemofilia impacta mais de 600 atendimentos na região
A
hemofilia é uma condição hereditária rara que afeta cerca de 14 mil pessoas no
Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Caracteriza-se por um
distúrbio na coagulação sanguínea, que faz com que os portadores apresentem
sangramentos prolongados e frequentes, mesmo diante de pequenos traumas. Essa
característica impacta diretamente a qualidade de vida e exige cuidados médicos
desde a infância.
A
Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que, entre janeiro e fevereiro
deste ano, 97 atendimentos ambulatoriais e hospitalares a pacientes
diagnosticados com hemofilia foram registrados nas cidades atendidas pelo
Departamento Regional de Saúde (DRS) de Piracicaba, que inclui Limeira.
Considerando todo o ano de 2024 até o momento, foram 621 atendimentos. No mesmo
período de 2023, o total havia sido de 877, indicando uma redução no número de
procedimentos realizados.
Embora
o diagnóstico e o tratamento tenham avançado nas últimas décadas, ainda existem
muitos mitos em torno da doença, o que dificulta o reconhecimento dos sintomas
e o início do tratamento. A desinformação pode atrasar o diagnóstico e agravar
o quadro dos pacientes.
A
hemofilia é classificada em dois tipos principais: a hemofilia A, mais comum,
causada pela deficiência do fator VIII da coagulação, e a hemofilia B,
resultante da falta do fator IX. Os sintomas podem variar de acordo com o nível
de deficiência, indo de leve a grave. Em alguns casos, pacientes podem
desenvolver inibidores ao fator administrado, o que torna o tratamento padrão
ineficaz e exige abordagens terapêuticas alternativas. Para identificar esses
inibidores, são realizados exames específicos como o coagulométrico e o
cromogênico.
Especialistas
também esclarecem outro mito: atualmente, pessoas com hemofilia podem ter
expectativa de vida semelhante à de indivíduos sem a doença, graças ao acesso a
tratamentos mais eficazes e contínuos. Nos hemocentros, inclusive, já é comum
encontrar pacientes idosos, alguns com mais de 70 anos, vivendo com a condição.
Quanto
à qualidade de vida, a chegada de novas tecnologias e medicamentos também tem
permitido que pessoas com hemofilia levem vidas mais ativas e autônomas. Um
exemplo é a possibilidade da prática de esportes. Atividades como natação e
corrida são recomendadas, enquanto práticas de alto impacto exigem maior
cautela. Futuramente, com a evolução de novos tratamentos, a prática de
esportes mais intensos poderá ser uma realidade ainda mais acessível a esses
pacientes.
Outro
ponto frequentemente desconhecido é que, embora a hemofilia seja uma doença
genética ligada ao cromossomo X e, portanto, mais comum em homens, mulheres
também podem ser afetadas. Isso acontece em casos específicos de mutação
genética ou quando ambos os pais apresentam fatores que levam à transmissão.
Os
sintomas da hemofilia vão além dos sangramentos externos visíveis. Hemorragias
internas, como hematomas musculares e sangramentos nas articulações
(hemartroses), podem causar dores intensas e sequelas permanentes. Há também o
risco de sangramentos intracranianos e abdominais, que representam risco de
morte se não tratados rapidamente. O acesso venoso dificultado em alguns
pacientes também representa um desafio, tornando a administração do tratamento
mais complexa em casos de emergência.
Uma
das grandes evoluções no tratamento da hemofilia foi a introdução da profilaxia
domiciliar. Atualmente, com treinamento adequado das famílias, o tratamento
pode ser feito em casa, proporcionando mais qualidade de vida e autonomia aos
pacientes. Este cuidado domiciliar é fundamental, especialmente considerando
que 30% dos casos surgem sem histórico familiar — o chamado caso "de
novo", conforme dados da Federação Mundial de Hemofilia (WFH).
O
diagnóstico precoce e a informação correta sobre a hemofilia são considerados
fatores cruciais para o sucesso do tratamento. Profissionais da saúde da
atenção primária precisam estar atentos aos sinais da doença, como sangramentos
excessivos, para encaminhar rapidamente o paciente a serviços especializados.
No
Brasil, São Paulo concentra 20,5% dos pacientes com Hemofilia A, seguido pelo
Rio de Janeiro (9%) e Minas Gerais (8,7%). Esse cenário reforça a necessidade
de campanhas de conscientização, especialmente para combater os mitos que ainda
dificultam o diagnóstico e o início precoce do tratamento.
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