Atleta limeirense conta história de fuga da Ucrânia
Jogando na Ucrânia há pouco mais de 6 meses, o volante limeirense Wendell Ramos, de 20 anos, sofreu para conseguir sair de Karkhiv segunda maior cidade da Ucrânia, quando as tropas russas começaram a bombardear a capital Kiev, em 24 de fevereiro. Na última quarta-feira, ainda na Eslováquia, onde ficou abrigado na casa de uma barbarense, o atleta conversou com a Gazeta pela internet.
Ramos relatou que soube da possibilidade da guerra depois de retornar do Brasil, onde passou as festividades de fim do ano, ao lado da família, que mora no Jardim Santa Eulália. "Quando a gente ia voltar para lá, ficamos sabendo que a guerra poderia ocorrer. Só que lá na Ucrânia estava tudo tranquilo", relatou o atleta, que joga na equipe da divisão de acesso do futebol ucraniano. "Até o último dia o a vida estava normal por lá. O povo trabalhando, andando na rua, normalmente", relatou.
O temor da guerra ficou mais evidente para os atletas da equipe quando, depois de um treino, um dia antes do ataque, eles foram avisados que haveria guerra, mas não se sabia quando. "Fomos para casa e arrumamos nossas malas, pois tentaríamos sair imediatamente do país", alegou. Não deu tempo! Na madrugada seguinte, Ramos alegou ter sido acordado com um alerta da equipe para que eles fossem para o aeroporto, pois as tropas russas haviam atacado Kiev e que, certamente, Karkhiv seria o próximo alvo. "O time ainda tentou comprar passagem, mas já estava tudo fechado.
BUNKER
Sem poder sair da cidade, Ramos e os amigos tiveram de ficar reclusos em casa. "A gente só saia do apartamento para descer para o bunker. Moramos no 9º andar. Ficamos dois dias subindo e descendo de escada para o bunker, quando ouvíamos explosões, frisou ele. Os elevadores do prédio foram desligados e o barulho das explosões eram altos, mesmo com os ataques ocorrendo distante da casa dele. "Lá embaixo [bunker], só tinha água, energia e internet. Quando a gente percebia que os ataques acalmavam, subíamos para o apartamento. Quando explodia, largávamos tudo e descíamos para o banker, onde nos sentíamos seguros", relatou.
TUDO PARA TRÁS
Quando o grupo de jogadores ficaram sabendo que trens sairiam de Karkhiv, resolveram deixar todos os pertences para trás para tentar sair da cidade. "Pegamos algumas roupas e levamos em mochilas. Todas as nossas coisas ainda estão em Karkhiv", relatou. Ao chegar na estação encontraram centenas de pessoas tentando embarcar. "A gente não foi no primeiro trem, pois combinamos que não sairíamos um do lado do outro. Se um não pudesse ir, ninguém iria", disse. Ainda naquele dia, em um segundo momento, conseguiram embarcar e permaneceram por 26 horas dentro do trem, que passaria por Kiev, a capital do país e cidade mais atingida pelas tropas russas. "Ficamos nove horas parados em Kiev, com tudo escuro. A gente não podia fazer barulho, com medo de ataques dos russos," frisou.
Após conseguir deixar a capital, Wendell e os amigos rumaram para Liviv, onde funcionários da embaixada brasileira estavam à espera deles. "Eles nos ajudaram bastante. Nos deram água, comida, deixaram a gente carregar o celular que estavam todos sem bateria", afirmou. De lá, os atletas foram levados para Uzhhorod, divisa do país com a Eslováquia. "Ai foi mais de boa, pois o time já tinha comprado a passagem para a gente viajar", alegou.
O próximo desafio seria atravessar a fronteira. "Eles [policiais da fronteira] deixavam a gente passar de 10 em 10. Ficamos mais de 7 horas em um frio e só conseguimos acelerar a travessia, pois uma mulher que estava perto da gente começou a ter problemas com o frio", disse o limeirense.
BARBARENSE
Dai para Kosice, cidade eslovaquia a 90 km da fronteira com a Ucrânia, foram mais nove horas de trem. Na cidade, o grupo formado pelos cinco amigos foram recebidos na casa de Gisele Chamorra, uma barbarense que mora há 3 anos na cidade ao leste da Eslováquia. A mulher conhecia a família de um dos rapazes que é piracicabano e, ao saber da situação que eles estavam passando, resolveu ajudar.
SONHO
Questionado sobre a possibilidade de voltar a jogar na Ucrânia, Wendell disse ter sido muito bem aceito no país. "Quero voltar sim, quando tudo isso passar e a Ucrânia vencer a Rússia, quero voltar. Tenho contrato com o clube, mas não sei o que vai acontecer. Quero primeiro chegar no Brasil para conversar com o meu empresário também. Eu gostei demais do país e vou voltar", finalizou.
No dia da entrevista, o atleta disse que buscava formas de chegar na Polônia, que era para onde o Governo brasileiro mandaria aviões para o resgate. Por sorte, anteontem de manhã, o grupo desembarcou no país. Wendell está bem e em Limeira ao lado de familiares.
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