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A Importância das Comunidades Digitais na Literatura Fora dos Grandes Centros

Por Camila Veloso*


Em 2023, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro surpreendeu o público ao colocar estantes que diziam "livros populares no Tik Tok". Parecia chocante a ideia de uma rede social conhecida por dancinhas ser responsável por divulgar e vender livros que se tornaram best-seller, e desde então, o movimento literário digital ganhou mais relevância aos olhos do público geral. O que não se discutia com tanto afinco até então, era a importância de comunidades digitais dentro do consumo literário, principalmente fora dos grandes centros.


Segundo um artigo produzido por estudantes da UFPE, o fato de residir na capital de um estado, ou região metropolitana apresentou efeito positivo sobre o consumo cultural dos indivíduos. Isso porque na capital e regiões metropolitanas, onde existem maiores níveis de aglomeração, as pessoas têm maiores incentivos no consumo de bens e serviços culturais diretos fora do domicílio, e o consumo não está atrelado à rotina domiciliar.


Minha própria vivência como leitora interiorana sempre apontou para essa realidade, pois já cheguei a morar em cidades que não tinham livrarias. Segundo artigo publicado pela PublishNews, em 2023, o Brasil tinha apenas 2.972 livrarias, e mesmo com o Sudeste liderando o ranking, são apenas 1.814 livrarias disponíveis. Foi nesse contexto que descobri comunidades digitais como uma forma para alavancar o meu consumo de livros. Ao descobrir os chamados booktubers, criadores de conteúdo literário que postavam vídeos no YouTube, passava horas e horas vendo conteúdos gratuitos que me mostravam dezenas de novos livros. Descobri cedo o poder dessas comunidades, espaços de aceitação, acolhimento e descoberta da identidade. Isso foi uma quebra de paradigma para mim que, em uma cidade sem livraria, não tinha muitos amigos leitores.


Minhas amigas mal liam um livro por mês, eu não podia compartilhar com elas que tinha lido dois, três, e que tinha uma lista de 50 próximos livros que queria ler. Talhada pelo o que era considerado normal, me mantinha escondida, e comunidades digitais eram meu escape. Até hoje, as comunidades digitais oferecem acolhimento de diferentes formas, pois se estruturam como clubes de leitura, box de livros por assinatura, comunidades criadas por influenciadores literários ou até mesmo em cursos, como é o caso da Aldeia Literária. Essas iniciativas acabam normalizando a literatura em ambientes que podem ser escassos do ponto de vista do consumo cultural. Aliás, é por isso que a compra de livros em plataformas digitais continua em alta.


Segundo pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros do Brasil, a maioria dos entrevistados compra livros na Amazon (66,38%), entre outros sites, tanto por melhores preços quanto por o acesso à livros ser possível apenas através desses sites. É por isso que novas iniciativas que incentivem a formação de comunidades literárias digitais são importantes, pois são espaços que tornam possível acesso a livros, e consequentemente, novas perspectivas, interações e possibilidades. É importante lembrar que a leitura por vezes é uma atividade solitária, e fazer parte de uma comunidade que interage e conversa sobre livros torna a atividade mais dinâmica, criando uma repetição importante para a solidificação do hábito da leitura.


*Camila Veloso é escritora e empreendedora, idealizadora do Aldeia Literária, negócio disruptivo que objetiva formar uma nova geração de autores adotando a metodologia Cohort Learning Method para fomentar a composição literária.

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