Dias de luta, dias de glória
Graziela Félix e Hélia Araújo
Ao olhar para 2024 pela última vez, percebo que o ano me deu tanto quanto tirou. Não foi um ano fácil. Ele chegou com sua carga de promessas e possibilidades, mas também com tempestades que eu não esperava enfrentar. Agora, ao fechar os olhos para ele, percebo que o balanço não é apenas sobre perdas e ganhos, mas sobre tudo o que aprendi a carregar e o que escolhi deixar para trás.
Houve dias em que senti o peso do mundo sobre os ombros, como se cada luta feminista fosse um grito que eu precisava amplificar sozinha. E houve outros, mais leves, em que a força das mulheres ao meu redor me fez acreditar que a mudança, embora lenta, é possível. Aprendi que não somos ilhas. Somos um arquipélago inteiro, conectado por dores, amores e sonhos que nos fazem continuar.
Olho para trás e penso nas vezes que chorei em silêncio, enfrentando o medo de não ser suficiente, de não conseguir dar conta de tantas batalhas. Mas, também me lembro de quantas vezes sorri ao perceber que, mesmo cansada, ainda havia força em mim – e em nós. Essa força que não vem da ausência de medo, mas da escolha consciente de seguir em frente apesar dele.
Pensei muito sobre o que significa resistir. Não se trata apenas de permanecer em pé, mas de se reinventar todos os dias. Aprendi que resistência pode ser um abraço que damos em nós mesmas quando tudo parece desmoronar. Ou a coragem de dizer “não” quando o mundo espera que aceitemos tudo caladas. Resistir também é descansar. Porque descansar é reconhecer que nosso corpo e nossa mente merecem cuidado, mesmo que o mundo grite o contrário.
Lembrei das vezes em que me questionei se minhas pequenas vitórias importavam. E percebi que sim. Importam porque são sementes. Importam porque, em algum lugar, uma mulher se sente menos sozinha ao ver outra se levantar. Importam porque a mudança, ainda que pareça tímida, está sempre germinando.
Enquanto escrevo estas palavras, sinto um aperto no peito. Não por tristeza, mas por gratidão. Gratidão por cada mulher que cruzou meu caminho este ano, cada história compartilhada, cada mão que segurou a minha quando eu quase desisti. Gratidão por aquelas que vieram antes de mim e abriram trilhas para que eu pudesse caminhar hoje.
E, pensando em todas essas conexões, deixo como última recomendação do ano um livro que li recentemente e que ecoa esse sentimento. "Fúrias: Histórias de Mulheres Perversas, Selvagens e Indomáveis" é uma coletânea de contos feministas que reúne 15 autoras renomadas, incluindo Margaret Atwood, Emma Donoghue, Chibundu Onuzo, Kamila Shamsie, entre outras.
A obra me mostrou que nossas histórias, por mais individuais que sejam, sempre se entrelaçam. Cada página me lembrou da força que encontramos umas nas outras, da coragem que brota da partilha, e da importância de nos enxergarmos nas narrativas alheias.
Que 2025 chegue com a mesma força que usamos para enfrentar 2024. Que ele traga mais abraços do que silêncios, mais união do que solidão, mais esperança do que medo.
Mas, acima de tudo, que ele nos encontre exatamente onde estivermos: cansadas ou revigoradas, chorando ou sorrindo, mas sempre resistindo. Porque é isso que fazemos, não é? Seguimos. Juntas.
Feliz Natal e um ótimo 2025 para todas!!
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