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Qual o preço de um julgamento antecipado?

Elis Monfardini | elisandra@gazetadelimeira.com.br 

Nesta semana, a libertação de Lucélia Maria, acusada de envenenar dois meninos em Parnaíba, reacendeu um debate crucial: o impacto do "tribunal do povo". Após cinco meses na prisão, Lucélia foi solta por decisão judicial, amparada por um laudo que descartou o veneno nos cajus de sua casa como causa da morte das crianças. A acusação inicial levou vizinhos a tentarem linchá-la, sua casa foi destruída, e sua reputação foi esmagada antes mesmo de um julgamento.  

Lucélia relatou que, na prisão, vivia sob constante ameaça. Detentas a avisavam que "havia uma cabeça sobrando" – a dela. Ela também perdeu noites de sono e, mesmo agora em liberdade, carrega traumas que talvez nunca cicatrizem. Enquanto isso, o verdadeiro suspeito do crime foi preso: Francisco de Assis Pereira da Costa, padrasto da mãe das crianças, acusado de outro caso de envenenamento na família. Mas o estrago na vida de Lucélia já foi feito.  

Este caso nos obriga a refletir sobre o julgamento precipitado que ocorre dentro e fora das redes sociais. Quantas vezes vemos a vida de alguém ser destruída com base em suposições, boatos ou julgamentos superficiais? Linchamentos, físicos ou virtuais, transformam vítimas em culpados, desconsiderando o impacto emocional, social e físico que isso pode causar.  

Estamos em janeiro branco, um período que busca conscientizar sobre saúde mental. No entanto, parece que esquecemos que atitudes impensadas, como a propagação de falsas acusações, são tão destrutivas quanto agressões físicas. Quantas Lucélias já vimos serem esmagadas pelo peso de uma sociedade ansiosa por culpados e alheia às consequências?  

Enquanto exigimos justiça de forma tão efusiva, esquecemos de nos perguntar: estamos preparados para lidar com as consequências de nossas acusações? Podemos devolver o tempo, a dignidade e a segurança de alguém injustamente acusado?  

Se queremos um mundo menos violento, precisamos começar pela empatia. Não é apenas sobre esperar a decisão de um tribunal; é sobre dar espaço para que a verdade seja apurada. Menos ataques, menos julgamentos precipitados, menos pedras atiradas – seja na mão ou no teclado.  

O caso de Lucélia nos lembra que todos nós, como sociedade, carregamos a responsabilidade de construir um ambiente onde a justiça seja feita nos tribunais e não nas ruas. Afinal, o mundo já está cheio de "advogados do diabo". O que falta mesmo é um pouco de humanidade.  

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