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A Garota da Agulha: monstros existem
Por José Farid Zaine
@farid.cultura
O expressionismo alemão está em alta nos dias de hoje,
principalmente pela inequívoca influência em pelo dois filmes que estão
indicados ao Oscar 2025, “Nosferatu” e “A Garota da Agulha”. Releitura do
clássico alemão de F.W. Murnau de 1922, com uma versão igualmente magnífica
feita por Werner Herzog em 1979, o “Nosferatu” de 2024 é dirigido por Robert
Eggers, trazendo a marca registrada que imprimiu no estranho “O Farol”, que tem
sua grande força na fotografia em preto e branco. O dinamarquês “A Garota da
Agulha” bebeu na mesma fonte e seu visual é igualmente sombrio e assustador.
Nos dois casos temos uma categoria em que podem ser encaixados, a de “filme de
monstro”. Enquanto “Nosferatu” nos remete à clássica história do vampiro , um
dos mais famosos monstros da literatura e do cinema, saído de uma ficção
engenhosa, “A Garota da Agulha” nos apresenta um monstro verdadeiro, e por isso
é mais cruel, mais assustador.
Concorrendo ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme
Internacional, representando a Dinamarca, “A Garota da Agulha” tem direção de
Magnus von Horn, que caprichou em todas as escolhas que fez para chegar ao
resultado final que é esse longa surpreendente. A história se passa em
Copenhague, em 1919, após a Primeira Guerra Mundial. Os cenários são parte
fundamental do filme, com ruas e casarios que sempre parecem refletir situações
incômodas, sufocantes. Tudo parece perigoso, mesmo quando os interiores de uma
mansão são registrados. Na trama, Karoline, uma jovem que se julga viúva, pois
o marido não retornou do campo de batalha – ele depois reaparece, com o rosto
desfigurado - , luta pra sobreviver como operária em uma fábrica, de onde tira
um salário irrisório que mal dá para que ela se sustente num quarto imundo;
Karoline, após um caso com seu chefe, que a engravida e a abandona, passa a
procurar todas as formas de sobrevivência, incluindo tentar um aborto usando a
agulha do título, quando é socorrida por Dagmar, mulher que mantém uma agência
clandestina de adoção de crianças, bebês entregues por mães sem condições de criá-los.
Karoline acaba trabalhando com Dagmar, a quem entrega seu bebê, e aos poucos
vai conhecendo o mundo em que se meteu. Falar mais da história a partir desse
ponto é dar spoiler, mesmo quando se sabe que o roteiro é baseado na história
real de Dagmar, que é a verdadeira protagonista do longa dinamarquês, estranhamente belo e fascinante, apesar do
show de horrores em que o espectador precisa mergulhar e do qual será difícil sair, mesmo quando o
filme acaba.
Com interpretações irrepreensíveis de Vic Carmen Sonne como
Karoline, e especialmente de Trine Dyrholm como Dagmar, “A Garota da Agulha”
nos leva, mais uma vez , a sentirmos o quanto são piores os monstros da vida real do que aqueles
que surgem na ficção.
A atriz dinamarquesa Trine Dyrholm rouba a cena em toda a
segunda parte do longa, e cresce particularmente na sequência final. Sufocante
e doloroso, o drama retratado em “A Garota da Agulha” arrebata o espectador, ao
mesmo tempo em que exige dele paciência e resistência para os duros golpes que
receberá nas suas duas horas de duração .
“A Garota da Agulha” é
um dos 5 finalistas na categoria de Filme Internacional, representando a
Dinamarca. Os outros são “Emilia Pérez” (França), “Flow” (Letônia), “A Semente
do Fruto Sagrado” (Alemanha) e aquele que merece levar a estatueta, “Ainda
Estou Aqui”, do Brasil.
A GAROTA DA AGULHA – representante da Dinamarca no Oscar 2025
– Disponível na Plataforma MUBI.
Cotação: ****MUITO BOM
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