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EMILIA PÉREZ : Um polêmico musical francês

Por José Farid Zaine

@farid.cultura

 

Em “Emilia Pérez”, longa de Jacques Audiard indicado a 13 Oscars , a história é a de um chefe do narcotráfico mexicano, Manitas del Monte, que contrata uma advogada para que ela encontre um cirurgião ao redor do mundo para que lhe faça uma cirurgia de mudança de sexo . Isso acontece e  Manitas muda sua vida radicalmente , deixando a mulher e dois filhos na Suiça após se transformar em Emilia Pérez, a mulher que sempre desejou ser; um dia, Emilia decide retornar ao México, pela saudade dos filhos, e nessa volta  passa a ajudar a descobrir o paradeiro de corpos de mortos na guerra do narcotráfico no México. Emilia conhece Epifania e se apaixona por ela. Um enredo e tanto.

“Emilia Pérez” tem recebido duras críticas pela forma como foi tratada a mudança de gênero de Manitas para Emilia, embora a atriz principal, Karla Sofia Gascón, seja uma mulher trans, a primeira na história a ser indicada ao Oscar da categoria. O diretor Audiard, francês, também é alvo de críticas ferozes no México, por diversas escolhas que fez , incluindo o fato de  o filme ter sido filmado praticamente todo na França, apesar de ambientado no México, falado num espanhol questionável –  inclusive com uso de IA - e com elenco em que há apenas uma atriz mexicana, Adriana Paz (Epifania). Audiard chegou a pedir desculpas ao México pela forma com que o país retratado no filme. Num período de fortes campanhas para o Oscar, maior e mais cobiçado prêmio do cinema, as polêmicas surgem e podem influenciar os votantes da Academia. Nem Fernanda Torres escapou de críticas, por causa de um “blackface” dela num Fantástico de 2008, o que fez com que a atriz também se desculpasse.

Polêmicas à parte, vamos ao filme: “Emilia Pérez” é um musical diferente, com uma história original e complexa. Sou apaixonado por musicais, e gosto das músicas e das coreografias do longa de Audiard, apesar da miscelânea que é a trilha sonora. Duas canções do filme estão indicadas ao Oscar da categoria, “El Mal” (vencedora do Globo de Ouro) e “Mi Camino”. Em “Para”, por exemplo, nota-se uma semelhança com “Deus lhe Pague”, de Chico Buarque.

Karla Sofia Gascón, a atriz espanhola trans que faz o papel principal de “Emilia Pérez”, é ótima. Ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes, dividido com suas colegas de elenco, Zoë Saldaña , Adriana Paz e  Selena Gomez, que fazem, respectivamente, a advogada Rita Moro , a amiga e amante de Emilia, Epifania, e a mulher de Manitas, Jessi Del Monte. Gascón está indicada ao Oscar de Melhor Atriz, competindo com Fernanda Torres, nossa esperança brasileira por “Ainda Estou Aqui”.

Como o próprio diretor Jacques Audiard tem dito, “Emilia Pérez” é operístico, um filme de  ficção, e como tal deve ser apreciado. As indicações e vitórias que o longa tem obtido até agora em festivais e na temporada de premiações, refletem o impacto que teve desde sua estreia em Cannes, quando foi longamente aplaudido e de onde saiu também com o Prêmio do Júri.

Apesar das polêmicas e das críticas, “Emilia Pérez” é o grande concorrente do Brasil no Oscar. Sem bairrismos, pela qualidade e importância do nosso representante, as vitórias muito merecidas para  “Ainda Estou Aqui” seriam as de Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz para Fernanda Torres. Como Melhor Filme do ano, a disputa é mais pesada, e por enquanto parece destinada a “O Brutalista”, que deve estrear nos cinemas brasileiros apenas no dia 20 de fevereiro. Na categoria de Melhor Atriz, quem mais ameaça Torres, na verdade, é Demi Moore, por “A Substância”. Moore se destacou no Globo de Ouro como melhor atriz de comédia ou musical, e seu discurso impressionou pela honestidade da fala, e por se mostrar um exemplo de superação, algo que os votantes da Academia adoram.

Enfim, “Emilia Pérez” chegou aos nossos cinemas e agora o público brasileiro pode analisar o recordista do ano em indicações ao Oscar, aprovando ou não o representante da França que, envolvido  num furacão de críticas e acusações,  vem perdendo força nas apostas sobre o que acontecerá no dia 2 de março em Los Angeles, no Dolby Theatre, diante dos olhos do mundo.

EMILIA PÉREZ – musical francês dirigido por Jacques Audiard, com 13 indicações ao Oscar 2025 – em cartaz nos cinemas.

Cotação: ****MUITO BOM

 

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