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O medo da igualdade

Tenho pensado muito sobre o pavor que algumas pessoas sentem diante da ideia de um mundo mais justo. Parece absurdo, mas é real: há quem se incomode profundamente com o avanço da diversidade e da inclusão, como se o reconhecimento das desigualdades fosse uma ameaça pessoal. O que me pergunto é: por que tanto medo da equidade?


O discurso “anti-woke” tem ganhado força por aqui, embalado por uma rejeição raivosa a qualquer tentativa de corrigir desigualdades históricas. O termo “woke”, que nasceu como um chamado à consciência sobre injustiças sociais, foi sequestrado por grupos ultraconservadores e transformado em um inimigo imaginário. O que era um alerta contra o racismo, a misoginia e a transfobia virou, na boca de quem resiste à mudança, sinônimo de exagero ou “vitimismo”.


E então me pergunto de novo: como negar o que está diante dos nossos olhos? Como fingir que mulheres ainda ganham menos do que homens no mesmo cargo? Que pessoas negras são as maiores vítimas de violência policial? Que a população trans tem uma expectativa de vida vergonhosa? Que imigrantes enfrentam barreiras invisíveis e visíveis para serem tratados com dignidade?


Ninguém quer tirar nada de ninguém. O que se quer é que os direitos não sejam privilégios de poucos, mas garantias para todos. E para isso, sim, é preciso reconhecer que partimos de lugares muito diferentes. Que a história não foi generosa com certas pessoas. Que algumas portas se abrem mais facilmente para uns do que para outros.


É curioso como os que mais se incomodam com a pauta da diversidade são justamente aqueles que nunca precisaram lutar por pertencimento. Para eles, o mundo sempre foi um lugar de acolhimento – ou, no mínimo, de aceitação automática. Não sabem o que é entrar em um espaço e ser questionado se realmente pertence a ele. Não conhecem a exaustão de provar o tempo todo que merecem estar ali.


O medo da igualdade nasce da falsa sensação de perda. Mas justiça não é um jogo de soma zero. Quando tornamos o mundo mais inclusivo, ninguém perde – pelo contrário, todos ganham. Porque diversidade não é sobre tomar o espaço de alguém, mas sobre fazer caber mais gente nele.


Se você quer entender melhor como podemos transformar boas intenções em mudanças reais, deixo aqui a recomendação do livro "A lacuna da diversidade: quando boas intenções geram verdadeiras mudanças culturais", de Bethaney Wilkinson. É uma leitura essencial para quem deseja ir além do discurso e realmente contribuir para um mundo mais justo.


E no fim das contas, é disso que se trata: construir, não destruir. Somar, não dividir. Expandir, não encolher. A quem ainda se incomoda tanto com o avanço da diversidade, um conselho sincero: não tenham medo. A justiça não morde.

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