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“Adolescência” na Netflix : alerta aos pais de adolescentes

Por Farid Zaine

@farid.cultura 

Mal acabou de estrear, a minissérie “Adolescência” já se transformou em um grande sucesso, sendo a série da Netflix mais assistida em mais de 70 países. O fenômeno se dá, em primeiro lugar, pelo interesse gerado sobre o assunto, que é o perigo que ronda os jovens pelo uso contínuo das redes, pelo tempo em que eles ficam online e pelos conteúdos trocados capazes de gerarem tragédias. A série foi produzida no Reino Unido e filmada em Yorkshire. Além do tema, que precisa ser tratado com urgência, a série tem qualidades artísticas e técnicas notáveis. São quatro episódios, e cada um deles – de cerca de uma hora de duração – foi filmado num único plano-sequência. É impressionante.

“Adolescência” começa com a invasão da casa do trabalhador Eddie Miller (Stephen Graham) pela polícia, que prende ali o seu filho de 13 anos, Jamie Miller (Owen Cooper), acusado de assassinar Katie, sua colega de escola. A família fica em choque, pois no momento da prisão ninguém esclarece o motivo do garoto ser levado. A sequência é emocionante, causa grande tensão e é magnificamente filmada e dirigida. O que vem a seguir é uma história assustadora sobre o comportamento de adolescentes, suas relações com os colegas de escolas, com os professores, o ambiente escolar e com as suas famílias. O choque do possível envolvimento de Jamie com o crime abala profundamente o cotidiano dos pais e da irmã. O que vemos e sentimos durante as investigações, são emoções, perguntas e dúvidas que crescem a todo instante, e que vão além de simplesmente julgar se Jamie é culpado ou inocente, se agiu por seus próprios impulsos ou sob o efeito de bullying.

“Adolescência” nos coloca diante de um problema gigantesco que é próprio dos dias atuais, quando as redes sociais engolem os jovens, e esses passam a criar seus próprios códigos de conduta e comunicação. É comum ver como os adultos frequentemente precisam ser “ensinados” sobre esses códigos, e essa falta de alcance à linguagem e comportamento dos jovens pode ter consequências extremamente danosas. Quando e quanto os adolescentes devem ser ouvidos? Com que meios podem ser vigiados, sem que isso possa configurar opressão e supressão de liberdade de expressão? Quais os limites entre a liberdade que lhes é conferida e a necessidade de saber o que fazem com essa liberdade?

“Adolescência” está causando furor em todo o mundo, por tratar de um assunto polêmico e absolutamente atual. É tão relevante que chegou ao parlamento britânico e, segundo notícias divulgadas nesta semana, o próprio premiê britânico Keir Starmer manifestou o desejo de ver a série ser exibida em escolas, para “discutir a violência motivada por conteúdo online”.

Na série, aparece com evidência o termo “incel”, junção das palavras “involuntary” e “celibate”, traduzido aqui como “celibato involuntário”, para se referir a pessoas que são incapazes de encontrar parceiros românticos ou sexuais, embora tenham esse desejo.

“Adolescência” trata de um drama devastador, que é o assassinato de uma garota e cujo suspeito é um colega de escola. Não bastasse ser tecnicamente fascinante, pelo uso de um único plano-sequência para cada um dos 4 episódios, a série conta com um elenco perfeito, em que se destaca o jovem Owen Cooper, que interpreta o adolescente acusado de assassinato, Jamie Miller. É o primeiro trabalho do garoto, escolhido entre centenas de candidatos, e não poderia haver melhor escolha. Ele é um assombro como ator, e a partir do sucesso imediato de “Adolescência”, já tem convites para voos mais altos, como interpretar Heathcliff jovem no remake de “O Morro dos Ventos Uivantes”, clássico de Emily Brontë, dirigido por  Emerald Fennel (Bela Vingança) com estreia prevista para fevereiro de 2026.

Um recado aos pais de filhos adolescentes: vejam, com urgência, a série “Adolescência”, por mais angustiante que seja essa experiência.

Adolescência : Série britânica em 4 episódios, escrita por Stephen Graham e Jack Thorne e dirigida por Philip Barantini – Disponível na Netflix.

Cotação: *****ÓTIMO

 

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