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Branca de Neve não é mais a mesma

Por Farid Zaine

@farid.cultura

 

Não foi desta vez que a Rainha Má conseguiu fazer com que seu carrasco arrancasse o coração de Branca de Neve, mas muitas coisas mudaram desde que a Disney lançou, em 1937, seu primeiro longa de animação ,  “Branca de Neve e os Sete Anões”, que  virou um clássico adorado por gerações, embora sua história – como muitos contos infantis – seja recheada de momentos de terror : um caçador prestes a arrancar o coração de uma menina, uma floresta com árvores tenebrosas prontas para agarrá-la, uma bruxa travestida de velhinha bondosa que lhe oferece uma maçã envenenada... O refresco da história seriam os simpáticos e bagunceiros sete anões, que passam a ser a companhia da princesa, e o encontro com um príncipe encantado que se apaixona por ela à primeira vista...

Na versão live-action que estreou há poucos dias, o filme se chama apenas “Branca de Neve”, e chegou carregando uma carga pesada de críticas e polêmicas. A decepcionante bilheteria da primeira semana já deixou a alta cúpula da Disney muito preocupada. Antes mesmo da estreia, a poderosa produtora, atenta aos ruídos das redes, baixou o tom da campanha de divulgação do longa. Vejamos alguns motivos de tanto barulho:

 Parte do público rejeitou a escolha de Rachel Zegler como a protagonista, uma rejeição carregada de preconceito por ser ela uma atriz americana, mas de origem colombiana, então não sendo suficientemente branca para interpretar a personagem. Uma bobagem, pois Zegler é uma das coisas boas da live-action. Ela é ótima atriz, canta bem demais, e é muito bonita. Acontece que a jovem atriz, que fez sucesso no remake de “Amor, Sublime Amor”, clássico detentor de dez Oscars em 1962, dirigido por Steven Spielberg em 2021, andou dando declarações que vão desde falar mal da história original até detonar Donald Trump e condenar Israel na guerra contra o Hamas. Aí foi gerado um incômodo direto com Gal Gadot, colega de elenco, intérprete da Rainha Má. Como se sabe, Gadot , uma mulher belíssima, é israelense, foi Miss Israel no concurso de Miss Universo, e integrou o exército do país. Gadot, naturalmente, defende Israel abertamente. Climão gerado, sem dúvida.

Outro ponto foi a escolha da produção a respeito dos anões, agora chamados de “criaturas mágicas”, e criados por computação gráfica (CGI). Houve protestos por parte dos atores com nanismo, prejudicados por ser fechada mais uma oportunidade de trabalho para eles.

Com tantas polêmicas e um retorno nas bilheterias muito abaixo do esperado, “Branca de Neve” sofre também pela tentativa de “atualizar” a história, colocando Branca de Neve como uma princesa forte, corajosa, defensora dos súditos maltratados pela Rainha Má, e muito dona do seu nariz. O príncipe, nesta versão, não existe, e foi trocado por Jonathan, líder de um grupo de ladrões corajosos, cuja ação é destinada a manter fidelidade ao rei, pai de Branca de Neve, na verdade morto a mando da Rainha Má. O intérprete de Jonathan, Andrew Burnap, não atende às expectativas do público, e forma com Zegler uma dupla sem nenhuma química. Os números musicais também não ajudam, nem nas canções da animação original mantidas, nem nas novas, apesar de Zegler ser muito boa.

Visualmente, “Branca de Neve” tem aspectos positivos, com alguns efeitos interessantes. As caracterizações de Branca de Neve, com seu tradicional vestido, e da Rainha Má, com seu traje negro, conferem graça à princesa e imponência à rainha. Mas é só.

Dependendo do desempenho de “Branca de Neve” 2025 nas bilheterias mundiais nas próximas semanas, saberemos se a produção da famosa animação em live-action valeu a pena, ou se teria sido melhor manter intacto o original, em que o beijo do príncipe na princesa adormecida é um elemento de salvação inocente, e não um ato abusivo, por não ter sido consentido, como diz outra parte da polêmica.

BRANCA DE NEVE (EUA, 2025) – Direção de Mark Webb, com Rachel Zegler e Gal Gadot – em cartaz nos cinemas.

Cotação: **Regular

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