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Cinema brasileiro: Vitória

Por Farid Zaine

@farid.cultura

 

A maior expectativa da semana estava em torno da estreia do novo filme estrelado por Fernanda Montenegro, “Vitória”, que aconteceu nesta quinta-feira, 13 de março. Fernanda interpreta uma personagem inspirada na vida real de Joana da Paz, Nina,  uma ex-empregada doméstica e massoterapeuta, que filma, através da janela de seu apartamento,  toda a movimentação de criminosos, incluindo tiroteios pesados, na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. O filme foi idealizado por Breno Silveira, que morreu durante as filmagens, depois completadas por Andrucha Waddington, o marido de Fernanda Torres. Silveira teve um ataque cardíaco fulminante aos 58 anos, e o cinema brasileiro perdeu um cineasta que sabia fazer filmes que conquistavam o público, como foi o caso de “2 Filhos de Francisco”, grande sucesso popular, com mais de 5 milhões de ingressos vendidos, na chamada “retomada” do cinema nacional.

Com o roteiro escrito pela viúva de Breno Silveira, Paula Fiúza,  Andrucha Waddington continuou dirigindo “Vitória”, respeitando as escolhas do parceiro e sócio dele na Conspiração Filmes.

“Vitória” é um filme envolvente do começo ao fim. Saber que se trata de uma história real passada em 2005, e que a situação de violência e tráfico de drogas no Rio continua a mesma, com praticamente todos os dias havendo notícias de tiroteios em favelas, pessoas que perdem a vida por balas perdidas, truculência policial e corrupção, torna a experiência de assistir ao filme mais dramática.

Como era de se esperar, Fernanda Montenegro carrega o filme todo, presente em quase todos os 112 minutos de duração do longa. A plateia anseia por ver qual será sua próxima fala, seu próximo gesto, as mudanças de suas expressões. Naturalmente, ninguém se decepciona. É puro deleite acompanhar a performance dela como Dona Nina, depois Vitória. Injusto seria não destacar as demais qualidades do filme, que são muitas, incluindo a fotografia, o design de produção, a trilha sonora. No elenco, participações mais do que especiais como a de Alan Rocha, como o repórter Fábio Gusmão, que foi o responsável por se interessar pelas filmagens de Nina, ignoradas pela polícia. Laila Garin, sempre ótima em tudo o que faz, também colabora no papel da Delegada que aceita abrir uma investigação sobre as denúncias feitas por Nina; Linn da Quebrada dá show no papel da cabeleireira Bibiana, incluindo uma cena em que dança um bolero com Fernanda. Destaque ainda para o garoto Tawan Lucas, no papel de Marcinho, demonstrando impressionante naturalidade ao contracenar com uma atriz do porte de Fernanda Montenegro.

“Vitória” é um banho de realidade, uma realidade amarga, mas palpável, porque está diante de nossos olhos cotidianamente. Inteligentemente, o longa de Silveira/Waddington, é muitas vezes bem incômodo, justamente por nos lembrar o tempo todo dessa triste realidade que persiste em continuar existindo.

No momento em que o cinema brasileiro vive uma fase excepcional, após a repercussão mundial de “Ainda Estou Aqui”, é muito bem-vindo esse novo filme estrelado por Fernanda Montenegro, totalmente ativa aos 95 anos. Na terça-feira, 11 de março, foi calorosamente aplaudida na Academia Brasileira de Letras, quando fez a leitura de textos de outros acadêmicos, encantando a plateia.  Que exemplo. Que orgulho.

Vitória : longa brasileiro dirigido por Andrucha Waddington, com Fernanda Montenegro e grande elenco. Em cartaz nos cinemas.

Cotação: *****ÓTIMO

 

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