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Oscar 2025: ... E o Brasil levou !

Por Farid Zaine

@farid.cultura

Como estava previsto já no título de meu comentário na Gazeta do domingo passado, “Oscar 2025: A noite do Brasil”, realmente tivemos finalmente a primeira estatueta dourada para o país. Deu Brasil na noite do Oscar.

Parece que tudo já foi dito sobre “Ainda Estou Aqui” -  o filme de Walter Salles, o livro de Marcelo Rubens Paiva, a história de Eunice Paiva. Mas é bom ser repetitivo e fazer com que esses momentos incríveis vividos pelo Brasil e seu cinema durem para sempre.

A vitória de “Ainda Estou Aqui” não se resume ao Oscar de Melhor Filme Internacional, mas a tudo o que o filme conseguiu ao redor do mundo: trazer visibilidade ao cinema brasileiro, cada vez mais reconhecido por sua inventividade, sua criatividade, sua capacidade técnica e artística. Fernanda Torres brilhou, virou ícone e, mais do que ninguém, mostrou a força do talento brasileiro. Walter Salles já merecia estar com a estatueta nas mãos, desde que ela nos foi tirada pelo italiano “A Vida é Bela”, um bom filme, mas não superior à obra-prima “Central do Brasil”. E o que dizer de Fernanda Montenegro, uma das maiores atrizes do mundo, perdendo o Oscar  para a então jovem e inexperiente e não muito expressiva Gwyneth Paltrow ? A história se repetiu agora, quando Fernanda Torres, atriz madura, com sólida carreira, com uma soberba interpretação em “Ainda Estou Aqui”, perdeu para  Mikey Madison, jovem de 25 anos, em início de carreira. Não que Madison não seja uma ótima atriz, o que ela é, nem que “Anora” seja um filme ruim, e não é. Longe disso. Mas se Fernanda perdesse para alguma outra concorrente, deveria ser para Demi Moore, por “A Substância”. Demi Moore interpreta nesse fascinante terror, uma atriz que, aos 50 anos, fazendo um programa de TV, vai ser substituída por uma mais jovem. Ironicamente, foi o que aconteceu na noite de 2 de março, quando a estatueta foi para uma atriz bem mais jovem que Moore e Torres. É só assistir com atenção ao longa de Sean Baker, “Anora”, uma delícia de filme, para notar sem esforço as diferenças entre o que fizeram  Fernanda Torres, Demi Moore a a vitoriosa Mikey Madison.

“Ainda Estou Aqui”, quinta indicação de um filme brasileiro na categoria de melhor filme internacional, antes chamado filme estrangeiro, faz história quando o Brasil vence os concorrentes da Dinamarca (4 vezes vitoriosa), Alemanha ( 4 vezes) França (12 vezes) e Letônia, que levou o Oscar de Melhor Animação pelo belíssimo “Flow”. Os 5 finalistas são ótimos filmes, incluindo o polêmico musical Emília Pérez, o que valoriza ainda mais a vitória do Brasil.

“Anora” levou o Oscar de Melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original , melhor montagem e melhor atriz. O mais premiado desta edição não foi recordista de prêmios, pois a premiação foi bem pulverizada. “O Brutalista” levou 3 de suas dez indicações , sendo Adrien Brody o melhor ator, e tendo recebido as mais do que merecidas premiações em Fotografia e Trilha sonora. Perfeito. Conclave, o ótimo drama de Edward Berger, que não foi indicado a melhor diretor, merecia mais do que somente o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Kieran Culkin, o melhor ator coadjuvante por “A Verdadeira Dor”, era a maior barbada desta edição, juntamente com  Zoë Saldaña como atriz coadjuvante e “El Mal” como melhor canção, ambos de “Emília Perez”. Como previsto, “Duna 2”levou merecidamente os Oscars de Som e Efeitos Visuais, assim como “Wicked” , com dez indicações, só confirmou o favoritismo absoluto em figurino e design de produção, a direção de arte. Demi Moore não levou, mas “A Substância” foi lembrado por sua impressionante maquiagem. “Nickel Boys”, excelente adaptação do livro  de Colson Whitehead, “O Reformatório Nickel”e “Um Completo Desconhecido”, com um Thimothée Chalamet perfeito como Bob Dylan, saíram sem nada. Merece um destaque o melhor documentário,  “No Other Land” (Sem Chão), excepcional parceria entre dois jovens talentosos, um palestino e um israelense.

Laureado em Veneza, no Globo de Ouro , no Goya , no Oscar e em muitas outras premiações, “Ainda Estou Aqui” sacudiu o Brasil e chamou a atenção do mundo inteiro para nosso cinema. O público está respondendo a esse chamado e tem lotado as salas  para ver outros filmes brasileiros, o que é maravilhoso, principalmente por estimular as pessoas a não abandonarem essa experiência magnífica que é ver filmes em cinemas, compartilhando com outras pessoas momentos de emoção, suspense, aflição, sorrisos, lágrimas...isso tudo só se consegue plenamente  numa sala de cinema.

O Oscar de Melhor Filme Internacional finalmente fez o país inteiro soltar um grito de vitória, como se tivesse acabado de ser feito um gol decisivo numa Copa do Mundo, como realmente pareceu nas comemorações vibrantes e ruidosas que ocorreram em todo o Brasil. Um grito de orgulho, de alívio, de felicidade, como se cada um de nós estivéssemos colocando a mão na estatueta dourada , como fez o emocionado Walter Salles.

Ganhamos o Oscar, o Globo de Ouro de Fernanda, o Urso de Prata em Berlim com o filme “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, Cannes vai homenagear o cinema brasileiro na edição de 2025 do maior festival de cinema do mundo. Sim, não é exagero dizer que a partir deste primeiro e tão esperado Oscar, nosso cinema, nossa arte, nossa cultura e nossa história ganharão novos e interessados olhares vindos de todas as partes do planeta. 

Uma boa semana para todos, com muitas idas ao cinema!

 

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