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Francisco, o Papa que liderou com simplicidade e estratégia

A carreira de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, que nos deixou nesta semana, é um exemplo raro de gestão de trajetória em meio a contextos de alta complexidade e pressão constante. Sua história de vida é um caso clássico para quem estuda teorias de liderança transformacional e a adaptação de trajetórias em organizações centenárias.


Nascido em 1936 em Buenos Aires, filho de imigrantes italianos, Bergoglio foi técnico químico antes de ingressar no seminário aos 21 anos. O dado é importante: ele inicia sua carreira com um background técnico, o que moldaria seu estilo de liderança pragmático, voltado para resultados e organizações. A teoria da contingência, de Fred Fiedler, explica que o estilo eficaz de liderança é aquele que melhor se adapta à situação. Bergoglio, em toda sua vida, adaptou-se.


Sua entrada na Companhia de Jesus, uma ordem conhecida pela formação intelectual rigorosa e disciplina militar, foi o primeiro grande passo. Ali, aprendeu o que hoje chamaríamos de "resiliência operacional" — conceitos que autores modernos, como Angela Duckworth, chamariam de "grit", ou garra. Em 1973, aos 36 anos, tornou-se o Provincial dos Jesuítas na Argentina, liderando um grupo em meio à ditadura militar, onde manter a neutralidade política e garantir a sobrevivência dos seus membros eram desafios tão grandes quanto a missão espiritual.


Entre as métricas relevantes, destacam-se seus 15 anos de atuação pastoral intensa nas periferias argentinas, acumulando experiência direta com gestão de crises, pobreza extrema e conflitos sociais. Na década de 90, sua ascensão ao episcopado mostrou um perfil que combinava a teoria da "servant leadership" — modelo em que o líder serve antes de liderar, prezando pela empatia e crescimento coletivo —, de Robert Greenleaf, com a prática realista de Maquiavel: servir com astúcia.


Em 2013, aos 76 anos, foi eleito Papa. Como um "outsider" dentro da Cúria Romana, rompeu padrões à moda de Clayton Christensen, em "O dilema da inovação": questionou as estruturas estabelecidas, simplificou protocolos e buscou uma aproximação mais autêntica com os fiéis. Um dado interessante: entre 2013 e 2023, o número de audiências gerais quadruplicou em relação ao papado anterior, mostrando a eficácia de seu novo estilo comunicacional.


Olhando para o Brasil, seu impacto é visível: na XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em 2013, reuniu mais de 3 milhões de pessoas na praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Sua habilidade em comunicar-se de forma simples, direta e emocional é um estudo de caso para qualquer líder que queira engajar grandes audiências sem perder a profundidade.


No futuro, o legado de Francisco será avaliado pela capacidade de modernizar a Igreja sem romper com sua essência — um desafio semelhante à "Teoria dos jogos", de John Nash, onde cada movimento estratégico altera o tabuleiro de forma permanente. Seu processo de gestão e liderança serve como exemplo para qualquer profissional: adaptar-se sem se corromper, inovar sem alienar, liderar sem perder o sentido do serviço.


O que a carreira do Papa Francisco nos ensina? Que não há liderança de impacto sem coragem moral, sem capacidade técnica de gestão e sem uma comunicação autêntica. E que, na vida e na carreira, os desafios são grandes — mas é justamente nos maiores que surgem as trajetórias mais memoráveis.


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