
A Sociedade dos Reborns, o fio da arte e da ilusão
Queridos e amados
leitores,
Nas
últimas semanas, inúmeras pessoas ficaram chocadas com o que pode ser chamado
de Sociedade dos reborns. E não é novidade ou algo que já não tenha sido
comentado aqui, a preocupação e o lado doente da nossa sociedade. Conheço em
Limeira algumas bonequeiras que fazem esses bebês. Um trabalho artesanal
peculiar, de material caro, cuja o resultado, promete e entrega brinquedos de
altíssima qualidade.
Recordo
que uma dessas artesãs que conheço, há algum tempo já promove encontros de bebê
reborns para meninas. O intuito? Socializar, atrair o olhar de outras pessoas
para vender suas bonecas e claro, com o resultado alimentar a própria família.
O fato dessas bonecas se assemelharem tanto com bebês reais é o diferencial,
oportunidade que muitas pessoas encontraram para popularizar, já que o
artesanato permite criar a experiência de parir uma criança.
Me
pergunto em que momento o fio da arte foi confundido com uma mera ilusão, e estes
encontros de crianças foi estendido para mulheres adultas. A resposta não é
difícil de obter, desde a Revolução Industrial as pessoas, por várias gerações
tiveram as dificuldades atenuadas. Para a nossa alegria, hoje existe a máquina
de lavar que fazem as mãos doerem menos que das nossas avós, a de secar que
facilita a vida de quem tem crianças ou mora em apartamento, o computador para
facilitar o trabalho intelectual, um carro ou ônibus presente na vida de muitas
famílias, enquanto antigamente era preciso horas e horas para chegar a algum
lugar, a internet foi criada para aproximar pessoas, assim como o avião que
possibilita atravessar o atlântico em horas.
Essa
facilidade toda, trouxe consequências desafiadoras, essas que exigem um olhar
atento para saber lidar com sabedoria e constância. Dentre elas, o sentimento
de solidão que muitos vivenciam todos os dias. Muitas pessoas podem não se
achar solitárias, mas no fundo sabem, mesmo tendo inúmeros contatos, se
precisar de uma mão amiga, não há com quem contar. E com o tempo, desde a
pandemia, estamos nos habituando a viver assim, sem a presença de quem
incomoda, com ausências justificadas de necessidade ou descanso.
Já
era previsto que lidar com as emoções seria o grande desafio deste milênio e
que psicólogos seriam necessários cada dia mais. O que os psicólogos fazem em
resumo, é ajudar as pessoas a se encontrarem, reacenderem a chama e gosto por
viver, redescobrir o propósito de vida quando tudo fica sem graça.
Profissionais necessários e que diante de tanta cegueira emocional, fazem
muitas pessoas voltarem a ver o real, o palpável e bonito da vida.
As
mulheres deixaram os afazeres domésticos para trabalhar, ter uma vida ativa e
os filhos são enviados para as creches onde podem estudar e adquirir conhecimento.
Os homens trabalham, e a maioria passou a entender que a esposa precisa de
ajuda na educação dos filhos e nas tarefas de casa. Se todos sabem suas
funções, onde estamos errando? Seria o saber ignorado ou a não vivência do que
deveria existir?
Em
que momento a sociedade errou a ponto de considerar que as escolas devem ter
cargas horárias estendidas, mesmo que as crianças ainda pequeninas fiquem longe
de suas mães? Onde está o erro de não aceitar que as crianças e jovens sejam
corrigidas, enquanto crescem fazendo bullying, depredando paredes,
desrespeitando os funcionários e até mesmo sendo hostis com quem é diferente?
Onde erramos ao valorizar um carro novo, e xingar os avós porque sem querer
riscaram o carro, quando estes fazem visitas esporádicas? Que acerto há em
comprar e ter tudo ao acesso de um clique, ficar bem-vestido, enquanto crianças
e jovens são expostos a horas inúmeras de trabalho forçado? Quando aprendemos
que era certo valorizar uma refeição fora de casa, como se fosse mais
importante que nos sentar na mesa com os membros da nossa família ao lado?
Onde
estamos errando é apenas um pressuposto de reflexão, não uma acusação já que
também podemos perguntar: “Como podemos acertar?”
Se
uma criança no passado errava, as mães e as avós corrigiam seus filhos. Se hoje
a escola cumpre o papel de estar com as crianças, não estaria também na
educação a chave para mudar e ter outra realidade no futuro?
Podemos
começar naturalizando as mães que queiram ser mães e donas de casa. Não há nada
de errado em querer ver os filhos crescerem, estar perto do cotidiano da
construção educacional e da personalidade em desenvolvimento.
É
possível ensinar aos jovens que podem zelar dos prédios públicos ao invés de
depredarem? Já viram, caros leitores, as paredes externas da nossa biblioteca?
Há joias de arte que retratam a história da nossa Limeira, com riscos e
rabiscos, pixações e inúmeros nomes escritos. E se esses jovens que depredam
fossem convidados a repintar as paredes? Seria bonito de ver!
Se
pudéssemos desejar bom dia aos estranhos, doar uma receita feita para uma
amiga, chamar os amigos para uma partida dos jogos da infância para reviver os
bons momentos e afastar a solidão. Se pudéssemos descansar à sombra de uma
árvore que plantamos, ou colher seus frutos e fazer um belo piquenique com
aqueles que amamos, numa tarde de domingo. E se naturalizássemos a presença dos
pais em família, ajudando nos deveres e sendo com a esposa realmente um? A
varrer as ruas, sem esperar que o prefeito faça tudo... Ajudar as escolas a
criarem uma horta, arrumar um muro, consertar algo que precisa ser arrumado? A
falar nas indústrias que está em nossas mãos a chave de um mundo melhor.
Ensinar que ler é mais importante que perder horas e horas no celular.
Podemos
acertar se mudarmos o nosso hábito. Se colocarmos valores onde o dinheiro não
compra e dar o dinheiro somente aquilo que pode comprar. Se valorizarmos mais
os professores do que valorizamos os políticos, já que estão nestes, o futuro
da educação.
Os
pais e mães de bebês reborns só ilustram como a nossa sociedade está doente.
Para curá-la, é preciso uma atitude diferente, que fale mais de vida e haja
mais vida na vida da gente.
Linda
semana para cada um de vocês!
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