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Acelerando o saneamento em tempos de crise e o desafio da universalização

Por André Ricardo Telles*

 

Imagine viver em uma cidade onde, após uma enchente devastadora, a única água disponível para beber está contaminada. Essa é a realidade de milhares de brasileiros que enfrentam tragédias naturais todos os anos. O saneamento básico, que deveria ser um direito garantido, ainda é um desafio para muitas comunidades, e a falta dele agrava os impactos das crises ambientais.

Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que permite agilizar obras de saneamento em casos de calamidade pública. Essa medida é fundamental, mas levanta uma questão importante: por que precisamos esperar uma crise para agir?

O Marco Legal do Saneamento estabeleceu metas ambiciosas: até 2033, 99% da população deve ter acesso à água potável e 90% ao tratamento de esgoto. Porém, a realidade mostra que ainda estamos longe desse objetivo.

Atualmente, mais de 30 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada e quase metade da população não conta com coleta de esgoto. Esse cenário não pode ser normalizado e expõe a fragilidade da infraestrutura atual e tornam urgente a implementação de medidas mais ágeis.

Os gestores públicos têm a responsabilidade de garantir a aplicação eficiente dos recursos, fortalecer a regulação e viabilizar parcerias com o setor privado para acelerar a universalização do saneamento. Além disso, precisam enfrentar desafios como a modernização de sistemas defasados, a redução do desperdício de água e a adoção de soluções tecnológicas que otimizem o uso dos mananciais.

O avanço do saneamento precisa ser tratado como prioridade antes que tragédias aconteçam. Obras emergenciais são importantes, mas não podem ser a única solução. Precisamos de planejamento estratégico, políticas públicas bem estruturadas, investimentos contínuos e maior participação do setor privado para garantir que as exigências do Marco Legal sejam atendidas dentro do prazo. O país não pode esperar uma calamidade para agir.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), por exemplo, tem implementado projetos para cumprir as metas estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento. A Companhia, inclusive, pretende assegurar a universalização dos serviços até 2029, quatro anos antes do prazo estabelecido pelos órgãos governamentais.

Para 2025, a Sabesp planeja investir R$ 4,7 bilhões em diversas iniciativas voltadas à modernização e expansão dos serviços de saneamento. Os recursos serão direcionados para programas como o Água Legal, além da renovação de equipamentos, automação de processos, melhoria da eficiência energética e ampliação das redes de abastecimento de água e coleta de esgoto. Essas inovações visam otimizar a operação do sistema e reduzir perdas, garantindo maior eficiência e qualidade no atendimento à população.

Agir com eficiência não significa buscar apenas soluções paliativas, mas sim investir em infraestrutura duradoura que previna futuras crises.

Para isso, a empresa também tem buscado expandir sua atuação por meio de concessões e parcerias público-privadas, que podem ser uma aliada nesse processo, trazendo tecnologia, expertise e recursos para acelerar o avanço do saneamento.

Quando garantimos acesso à água potável e ao tratamento de esgoto, reduzimos doenças, aumentamos a qualidade de vida e promovemos um crescimento sustentável para o país.

É hora de mudar a mentalidade e parar de tratar o saneamento como um problema secundário. A universalização não pode ser um sonho distante – deve ser uma realidade construída agora. Afinal, não há desenvolvimento sem água e saneamento para todos.

*André Ricardo Telles é CEO da Ecosan, empresa de soluções sustentáveis para o tratamento de água e recuperação de efluentes. Pós-Graduado em Inovação na Universidade CUOA na Itália, com MBA pela FGV, Telles já publicou livros no Vale do Silício pela IBM-USA e está à frente de inovações que transformam desafios ambientais em soluções de engenharia eficientes e sustentáveis.

 

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