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Criação de conteúdo e empreendedorismo: o criador como protagonista da nova economia

Silmara Regina de Souza, consultora de negócios do Sebrae-SP


Nos últimos anos, o Brasil viu nascer uma nova economia, menos silenciosa do que parece, mais poderosa do que muitos previram. Só entre 2024 e 2025, o número de influenciadores digitais no país cresceu 67%, alcançando mais de dois milhões de criadores, segundo um estudo da Influency.me. Os dados impressionam, mas a mudança mais relevante não está nos números. Está na forma como as pessoas passaram a enxergar o conteúdo como trabalho, como ferramenta de posicionamento, como ponte para a renda e, em muitos casos, como forma de reinvenção.

Durante a pandemia, muitas pessoas começaram a criar conteúdo porque precisavam. Algumas tinham perdido empregos. Outras queriam divulgar seus negócios. Muitas simplesmente viram na internet uma chance de conversar com o mundo e, ao fazer isso, descobriram uma nova possibilidade de futuro. Foi nesse cenário que a Creator Economy (ou economia dos criadores de conteúdo) deixou de ser um conceito distante para se tornar um ecossistema gigantesco. Uma economia em que o conteúdo é um ativo, e o criador é também gestor, produtor, estrategista, comunicador e, principalmente, empreendedor. Sim, a Creator Economy é uma realidade. Ela movimenta bilhões, gera empregos, ativa nichos e constrói novas formas de valor.

Segundo um estudo da Goldman Sachs, a economia dos criadores deve atingir US$ 480 bilhões até 2027 (previsão global), um crescimento significativo em relação aos US$ 250 bilhões atuais. Um outro estudo, da Hotmart, prevê uma tendência de que esse mercado cresça entre 10 e 20% ao ano. São números muito expressivos. E quem cria conteúdo, mesmo que ainda não se perceba assim, está inserido nesse ecossistema. Agora, mesmo que nem todo mundo se reconheça nesse papel, o movimento já está acontecendo. Criar com frequência, planejar temas, testar formatos, observar métricas e desenvolver uma comunidade é um trabalho que exige mais do que criatividade. Exige visão, decisão e constância. Quem faz isso não está apenas postando. Está construindo presença. Está abrindo caminho para transformar conteúdo em oportunidade, ideia em produto, voz em negócio. E isso é empreendedorismo.

Na nova economia, o conteúdo não é só o que você posta. É o que você constrói, entrega, sustenta e posiciona ao longo do tempo. O criador de conteúdo hoje é multifacetado. É alguém que pesquisa, que precisa analisar dados, pensa em estratégia, entende comportamento, se posiciona e busca relevância. Essa pessoa não é só criativa, ela é uma marca e é gestora de si mesma. E como todo negócio, precisa de visão, consistência e estratégia. Sim, nem todo criador percebe o próprio potencial empreendedor, mas esse é um caminho sem volta. É uma necessidade que, uma hora ou outra, vai surgir no trabalho do creator.

Pensando nisso, compartilho três reflexões para quem está nesse lugar:

1. Se você está criando valor, você já está empreendendo: Criadores que entendem seu público, que planejam conteúdo com intenção, que pensam em monetizar e que buscam transformar conhecimento em entrega já estão, na prática, atuando como empreendedores. Isso vale mesmo para quem ainda não monetiza. A mentalidade vem antes da receita. Ao perceber seu conteúdo como ativo, você começa a fazer escolhas mais estratégicas, deixa de criar apenas por demanda do algoritmo e passa a se posicionar como criador.

2. Você pode (e deve) diversificar suas fontes de renda: Publicidades para marcas são uma das formas mais conhecidas de monetização, mas estão longe de ser a única. Muitos criadores Classificação: PÚBLICA constroem produtos próprios, lançam cursos, criam mentorias, escrevem livros, desenvolvem comunidades pagas, assinaturas de conteúdo, consultorias, eventos e lançam produtos físicos. E quanto mais alinhado estiver o conteúdo com esses caminhos, mais sustentável será o negócio criativo.

3. Empresas precisam de alguém que fale com o público delas de uma maneira que elas não conseguem: Os criadores que vão se destacar nos próximos anos não serão apenas os que têm bons números, mas os que têm clareza de posicionamento, repertório e capacidade de conversar com mercados. Quem entende de conteúdo, precisa entender de comportamento.

A nova economia é feita por pessoas que compartilham o que sabem e criam pontes com suas comunidades. Os criadores são protagonistas desse movimento. Mas não basta criar. É preciso saber o que se está criando, por que, para quem e com que intenção. Isso exige estratégia, gestão, escuta ativa e capacidade de transformar visibilidade em proposta de valor. E exige essa visão de empreendedorismo. Talvez, o passo mais importante hoje seja esse: parar de se enxergar apenas como alguém que publica e começar a se reconhecer como alguém que constrói. Porque quem constrói, permanece.

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