
Inexplicável : lágrimas de fé
Por Farid Zaine
@farid.cultura
Filmes que têm como tema problemas de doenças em crianças já
mexem com o coração das pessoas mesmo antes de vê-los, pois já se antecipa que
haverá dor e lágrimas. É natural. Os pais de filhos muito jovens,
principalmente, precisam de força extra para enfrentar histórias que reflitam
seus piores pesadelos. “Inexplicável”, filme brasileiro dirigido por Fabrício
Bittar, que estreou nos cinemas no final de 2024, chegou com tudo ao catálogo
da Netflix em meados de abril, e já figura entre os títulos em língua não
inglesa mais vistos da plataforma. Um sucesso que pegou de surpresa até mesmo o
diretor do longa, segundo suas declarações na imprensa.
“Inexplicável” é um drama baseado em fatos reais. Trata-se da
história de um menino apaixonado por futebol, capitão de um time infantil , que
repentinamente começa a sentir fortes dores de cabeça, sofre um desmaio, o que
leva os pais a uma busca imediata de soluções médicas para o caso. A princípio
tido como um mal passageiro, logo os exames revelam um tumor no cérebro do
menino, Gabriel. Uma notícia devastadora para a mãe, grávida, e para o pai.
Gabriel já tem um irmão mais novo. Letícia Spiller e Eriberto Leão dão vida ao
casal que precisa enfrentar uma luta desesperada pela vida do filho. Quando as
possibilidades da medicina vão se esgotando, o apego à fé surge como a única
arma possível para segurar a esperança. A mãe, desde o recebimento da notícia,
trata não apenas de manter inabalada a própria fé, como se dedica, junto a
familiares e amigos, a manter e ampliar uma corrente de orações pelo restabelecimento
da saúde de Gabriel. O pai, revoltado, resiste inicialmente a aceitar o poder
dessas orações, mas será tocado por algo transformador, como o “inexplicável”
do título, que não se refere apenas à cura pelo poder da fé.
O sucesso internacional de “Inexplicável” na Netflix se deve
ao fato de estarmos diante de uma história que pode acontecer com qualquer
família, em qualquer lugar do mundo. E Bittar soube explorar bem o drama real e
transportá-lo de forma eficiente para o cinema. O longa é muito comovente, e as
lágrimas são inevitáveis. Pais jamais estão preparados para notícias trágicas
como essa, a de saber que um filho de apenas 8 anos, alegre, esportista e cheio
de sonhos, esteja entre a vida e a morte, sustentado por um tênue fio de
esperança, muito mais tecido pela fé do que pela ciência.
Num tempo em que as pessoas estão sensíveis pelo momento
histórico que vive a Igreja Católica, quando morre um dos mais populares papas
de todos os tempos, Francisco, e um novo, Leão XIV, é eleito, e um menino italiano, Carlo
Acutis, morto aos 15 anos por causa de
uma leucemia, vai se transformar no milagroso
“santo protetor da internet”, as coisas relacionadas à fé, à espiritualidade, e
mesmo ao sobrenatural, parecem ganhar mais espaço no mundo.
“Inexplicável” é mais um exemplo da boa fase pela qual passa
o cinema brasileiro. É um filme digno da clássica recomendação “preparem os
lenços”. Letícia Spiller (Yanna, a mãe), Eriberto Leão (Marcus, o pai) e o garoto Miguel Venerabile (Gabriel),
garantem cenas de grande intensidade dramática. Mesmo quando o filme resvala no
melodrama – no pior sentido da palavra -, há um conjunto que funciona bem sob a
batuta do diretor, Fabrício Bittar, o que faz com que as lágrimas provocadas
por essa história carregada de humano sofrimento e altas doses de religiosidade,
sejam suficientes para aliviar o corpo e abrir frestas na mente para aceitar o
inexplicável.
Inexplicável (Brasil, 2024) – longa de Fabrício Bittar
baseado em fatos reais. Disponível na Netflix.
Cotação: ***BOM
Comentários
Compartilhe esta notícia
Faça login para participar dos comentários
Fazer Login