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Conflitos entre nações aumentam a importância da resiliência dos cabos submarinos para a comunicação global

Por Valmir Corbacho, Head de Conectividade Fixa e de Service Delivery da Deutsche Telekom Global Business Brasil


Os cabos submarinos exercem um importante papel para a comunicação global e são usados por pessoas, que precisam acessar serviços de educação, financeiros e de saúde, governos e empresas, sejam elas multinacionais com subsidiárias no Brasil ou nacionais que contam com parceiros comerciais em outros continentes. 


Atualmente é comum uma empresa desenvolver seus produtos no Brasil e ter parte da sua produção em outros continentes, especialmente na Ásia. Para se ter uma ideia de como a cadeia produtiva brasileira é globalizada, de acordo com a Associação de Empresas Brasileiras na China (BraCham) ao menos 140 empresas brasileiras, dos mais variados portes e setores mantêm operações ou escritórios de representação no país asiático.


Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), especializada em tecnologias de informação e comunicação, estão em operação cerca de 500 cabos submarinos de telecomunicações, que cobrem mais de 1,7 milhões de KM e são responsáveis por mais de 99% do tráfego internacional de dados. Portanto, proteger e manter a integridade desta infraestrutura é essencial para a comunicação global. 


Mas por estarem no fundo do mar monitorar esses cabos é uma atividade complexa e os equipamentos estão sujeitos a avarias. Há alguns anos, o vídeo de um tubarão mordendo um cabo submarino circulou na internet, por mais que tenha chamado a atenção das pessoas, o mais comum é que as avarias sejam causadas por situações mais corriqueiras como âncoras de navios e pesca ou causas naturais como terremotos. 


Impacto das interrupções nos cabos

Segundo o Comitê Internacional de Proteção de Cabos (ICPC, na sigla em inglês), formado por representantes de governos e empresas privadas que possuem ou operam cabos submarinos de telecomunicações ou de energia, em 2023, foram relatados mais de 200 reparos de cabos em todo o mundo, o equivalente a mais de três falhas por semana em média.


Para garantir a proteção dos cabos submarinos em novembro do ano passado a UIT e o ICPC formaram o International Advisory Body for Submarine Cable Resilience (Grupo de Aconselhamento Internacional para a Resiliência dos Sistemas de Cabos Submarinos, em português), que tem o objetivo de promover o diálogo e a colaboração sobre formas de melhorar a resiliência desta infraestrutura. O Grupo é formado por representantes de órgãos do governo e de empresas de países da África, Américas, Ásia, Europa e Oceania. O Brasil também faz parte do Grupo e é representado pelo superintendente executivo da Anatel, Gustavo Borges. 


Apesar dos esforços para aumentar a resiliência desta infraestrutura, as empresas donas dos cabos e governos têm novas preocupações, gerados por ataques intencionais. Há alguns meses empresas de telecomunicações alertaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre o risco de apagões globais de internet, após incidentes envolvendo cabos submarinos no Mar Báltico, na Europa, que segundo o jornal inglês The Telegraph foram causados pela Rússia. 


Desde outubro de 2023 ao menos 11 cabos submarinos foram danificados na região. Em janeiro deste ano a Otan passou a realizar a operação Baltic Senty, na qual são usados navios de guerra, aeronaves, drones navais e análise de padrões de tráfego marítimo para identificar comportamentos anormais no Mar Báltico. 


Outra notícia, recente, que causou preocupação foi a divulgação pelo jornal de Hong Kong, South China Morning Post, de que a China desenvolveu um dispositivo capaz de cortar cabos submarinos em uma profundidade de até 4 mil metros, dobro da profundidade dos cabos em operação. Esta ferramenta é equipada com carcaça de liga de titânio, tem um motor de um quilowatt e usa como ferramenta de corte uma roda de diamante de 150 milímetros capaz de girar a 1,6 mil rotações por minuto. 


Empresas precisam de rotas resilientes

O tráfego de dados cresce a cada ano e segundo a consultoria norte-americana, TeleGeography, o volume de dados trafegados nos cabos submarinos de 2016 a 2023 cresceu a uma taxa média anual de 30% a 40%. 


As empresas brasileiras com matrizes, filiais ou parceiros em outros continentes precisam reduzir os riscos de perderem a conexão com essas operações e adotar uma infraestrutura de conexão (underlay) de alta capacidade, com centenas de PoPs (points of presence) distribuídos por todos os continentes e parcerias para a utilização de cabos que cruzem os oceanos Atlântico e Pacífico.


A estrutura underlay também deve ser compatível com qualquer solução de sobreposição (overlay), atender aos requisitos de desempenho equivalente aos de uma conexão MPLS (Multiprotocol Label Switching), usada há décadas para fazer a comunicação entre continentes, e capaz de atender às necessidades de negócios como a realização de vídeo chamadas, suportar aplicações que demandam baixa latência como acompanhar uma linha de produção ou o uso de aplicativos em ambientes multinuvem.

Além disso, tecnologias como inteligência artificial e machine learning podem ser usadas para coletar e analisar dados históricos de toda a estrutura de rede para estabelecer o seu padrão de comportamento. Desta forma, a própria rede "inteligente" pode aprender, correlacionar e centralizar dados para identificar o que causou ou pode gerar um problema e corrigir ou atuar de maneira preventiva definindo a melhor rota para cada aplicação que será usada e sem interrupções ao usuário, que pode se conectar de forma segura a sites globais, data centers e ambientes multicloud com alto desempenho, baixa latência e redução de custos.


Por mais que existam ações e trabalhos para proteger os cabos submarinos de telecomunicações, como as atividades produtivas dependem cada vez mais de uma internet estável e de alta velocidade, a resiliência desta infraestrutura é fundamental para as empresas, que também precisam reduzir seus riscos em caso de interrupções de comunicação por problemas em um cabo submarino. 

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