Por Farid Zaine

@farid.cultura

Tive o privilégio de assistir a muitos shows de Maria Bethânia em teatros. Dona de uma voz potente, com um registro inconfundível, Bethânia acrescenta aos seus dotes de cantora uma capacidade ímpar de interpretar , tanto as canções quanto os textos que escolhe para seus shows. Lançada  num musical de meados de 1960, substituindo Nara Leão no antológico “Opinião”, Bethânia começou muito cedo a desenvolver seu talento para utilizar o palco. Sucesso em todo o Brasil, sua interpretação vigorosa e dramática de “Carcará”, de João do Vale, deu início a uma carreira vitoriosa que emenda um show ao outro, até hoje levando multidões para aplaudi-la. A recente turnê que fez pelo Brasil junto com o irmão Caetano Veloso, com espaços gigantescos lotados com meses de antecedência, dá mostras de um sucesso que só tende a crescer, dado o respeito que o público brasileiro tem por ela.

“Rosa dos Ventos” é um marco na história dos shows de MPB com um diretor de teatro, no caso Fauzi Arap, grande parceiro da cantora. Muitos outros vieram revelando a intensidade dramática de Bethânia em canções complexas, como Janelas Abertas Nº 2,  bem como sua agilidade e seu ritmo em músicas românticas e de outros gêneros. Roberto Carlos e Chico Buarque, por exemplo, reconhecem Bethânia como uma das principais intérpretes de suas canções.

Marcando os 60 anos de sua carreira, Bethânia prepara uma turnê comemorativa. Sobre essa efeméride e sobre detalhes de sua vida e de sua carreira, ela conversou com Sandra Annenberg para o Globo Repórter – Personalidades. É delicioso assistir ao programa, principalmente por termos acesso a uma Bethânia simples e despojada, contando de forma sincera e muitas vezes engraçada vários detalhes de sua infância e juventude em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, onde nasceu, até  à passagem pelos estudos numa escola em Salvador – onde , segundo ela, foi campeã de “zeros” em matemática – , sua ida ao Rio para integrar o elenco de “Opinião”, e depois caminhar para se tornar uma das mais celebradas artistas brasileiras de todos os tempos.

Na entrevista, Bethânia se mostra uma mulher completa, com respeito à sua história, sua ligação com os pais, e principalmente com a mãe, Dona Canô, sua religiosidade , seu apreço pela literatura – com destaque para suas preferências, Fernando Pessoa e Clarice Lispector -, e  seu compromisso com o público , o que a tornou uma cantora exigente e rigorosa com o próprio trabalho e o da sua equipe.

Durante o programa Globo Repórter – Personalidades, muitos artistas dão depoimentos sobre Bethânia, sendo um deles seu grande parceiro Gilberto Gil. Todos concordam sobre o fato de que, ao gravar uma canção, ela se torna também sua autora, tamanha a força e a personalidade que ela imprime nas coisas que interpreta. Vanessa da Mata e Adriana Calcanhoto reforçam essa qualidade de Bethânia. É lindo acompanhar a história do nascimento da música “A Força que Nunca Seca”, com letra de Vanessa da Mata e melodia de Chico César, canção essa que deu nome a um de seus discos e shows. Adriana Calcanhoto é outra que viu uma de suas músicas, a linda “Âmbar”, ganhar antológica interpretação de Bethânia e ser título de disco e show.

Emoções semelhantes às experimentadas ao assistir a um show de Bethânia só tive vendo Elis Regina ao vivo, desde seu histórico “Falso Brilhante”. Agora, após as partidas de Elis e Gal, Bethânia reina solitária, como a maior cantora brasileira em atividade. Eu e meu parceiro musical, Joaquim Prado, fizemos uma canção dedicada a ela que se chama “A Mulher que Canta”. É isso que vemos no programa Globo Repórter – Personalidades: a mulher Maria Bethânia, com sua história, seus anseios , sua fé, suas angústias humanas, mas que quando pisa num palco se transforma numa potência artística inigualável, merecedora de toda reverência e todos os aplausos.

Globo Repórter – Personalidades : Programa jornalístico da Rede Globo dedicado a Maria Bethânia – Disponível no Globoplay.