
Fila, Chuva e Encantamento: As Férias Mais Inesquecíveis da Família Santos
Todo mundo já ouviu falar que
“viagem é a única coisa que você compra e que te deixa mais rico”. Mas essa
frase, tão bonita nos posts de Instagram, nunca contou o que acontece quando a
família inteira resolve tirar férias em Orlando, em pleno julho, época em que
até o Mickey questiona se não está quente demais para usar aquelas luvas
brancas.
A história começa no aeroporto,
onde a família Santos – composta por pai otimista, mãe realista, dois filhos
cheios de energia e uma tia-avó que se auto convidou porque “sempre sonhou
conhecer o Pato Donald” – embarca rumo ao paraíso das férias. E como todo
paraíso, havia filas: fila para despachar a mala, fila para embarcar, fila para
ir ao banheiro antes de embarcar e, já em Orlando, fila até para tirar foto com
o ônibus que levaria ao hotel. Era apenas o aquecimento para a verdadeira
“maratona olímpica de paciência” que os aguardava nos parques.
O sol brilhava, os sorrisos eram
largos, as crianças corriam, e a tia-avó já comprava orelhas do Mickey antes
mesmo de entrar no Magic Kingdom. Tudo era mágico. Até descobrirem que a fila
para a montanha-russa mais famosa tinha três horas de espera. Três horas. O
pai, sempre otimista, soltou:
- Pessoal, fila é parte da
experiência! É assim que a gente aprende a valorizar cada minuto do brinquedo!
Duas horas depois, com a mãe
abanando um leque improvisado feito de mapa do parque, as crianças brigando
pelo último pacote de biscoito e a tia-avó filosofando “se vale a pena tanto
sacrifício por uma voltinha”, a magia parecia meio abalada. Mas aí, finalmente,
o carrinho da montanha-russa deslizou e, por 45 segundos, a família gritou,
riu, chorou, saiu descabelada e com a sensação de que realmente valia a pena.
Porque viagem é isso: um eterno exercício de transformar cansaço em memórias.
Orlando tem uma tradição no
verão: chover no meio do dia, sem avisar. E choveu. Ah, como choveu! Capa de
chuva de plástico virou uniforme, e todos aprenderam que não importa se você
paga vinte dólares na loja oficial ou dois no camelô da esquina: você vai suar
como se estivesse dentro de uma sauna portátil.
-A Disney devia ter um brinquedo
chamado “Fila na Chuva”, já que estamos vivendo um agora - resmungou o filho
mais velho, segurando o celular embaixo da capa como se fosse um tesouro.
E entre um trovão e outro, a
família percebeu que a chuva, em vez de atrapalhar, tinha dado uma graça extra
ao passeio. Afinal, é impossível não rir quando todos estão ensopados,
escorregando nos corredores e tentando tirar selfies com personagens que, com
certeza, também estavam arrependidos da escolha de figurino.
Foi no parque de aventuras que
aconteceu. Depois de mais uma longa espera, uma voz metálica anunciou:
-Atenção, o brinquedo está temporariamente
fora de operação.
O silêncio que se seguiu foi
digno de uma tragédia grega. As crianças quase se deitaram no chão em protesto,
a mãe suspirou fundo e o pai tentou manter o clima positivo:
-Gente, isso é ótimo! Significa
que teremos mais tempo para aproveitar as lojinhas!
Não convenceu ninguém. Mas foi aí
que a família descobriu um novo esporte: rir dos improvisos. Porque o brinquedo
não abriu, mas eles encontraram um quiosque vendendo pipoca em formato de
Minions, tiraram fotos ridículas tentando imitar poses de heróis e acabaram
dizendo que “o brinquedo quebrou, mas o dia foi inteiro”.
No quarto dia, o corpo já não
respondia da mesma forma. Os pés pareciam ter andado a distância de Orlando até
Miami. A tia-avó questionava se não seria melhor comprar um carrinho motorizado
para sobreviver. As crianças, que no início da viagem corriam como gazelas,
agora se arrastavam como tartarugas filosóficas.
Ainda assim, no fim do dia,
quando todos estavam exaustos, veio o espetáculo de fogos. E ali, debaixo das
explosões coloridas no céu, a família esqueceu as dores, as filas, a chuva e os
brinquedos que não funcionaram. Eles se abraçaram, e a tia-avó chorou baixinho,
dizendo:
- Viajar é isso. A gente se
cansa, se irrita, passa perrengue, mas no fim percebe que não trocaria nada
disso por ficar em casa.
Na volta ao Brasil, as malas
traziam camisetas que encolheriam na primeira lavagem, canecas que jamais
caberiam no armário da cozinha, bichinhos de pelúcia que custaram o preço de um
jantar em família e, principalmente, histórias. Histórias que seriam repetidas
em almoços de domingo, entre risadas, e que um dia fariam parte da memória
coletiva da família.
Porque, no fundo, viajar é como
escrever um capítulo especial no livro da vida. Não importa se as páginas têm
borrões de chuva ou rabiscos de cansaço: o que fica é a poesia do encontro, a
descoberta do novo e a certeza de que, quando olhamos para trás, não lembramos
do preço do ingresso, mas das gargalhadas no meio da fila.
E se alguém perguntasse aos
Santos se fariam tudo de novo, a resposta viria rápida:
- Claro que sim! Talvez com tênis
mais confortáveis.
As viagens, afinal, são como
marcadores de páginas no tempo. Elas interrompem a rotina, sacodem as certezas,
aproximam os que amamos e nos lembram de que a vida é feita de movimento. Como
escreveu Fernando Pessoa, “vale mais a pena ver uma vez do que ouvir mil
vezes”. Viajar é escrever lembranças com o corpo, com os passos, com os
sorrisos. Mesmo quando há filas, chuvas e brinquedos quebrados, o que resta são
memórias que nos sustentam quando o cotidiano parece sem graça.
E assim, entre filas
intermináveis e fogos de artifício, a família Santos descobriu que a verdadeira
magia não está nos parques, mas na viagem em si – esse gesto de se lançar ao
mundo e voltar para casa mais cheio de histórias do que caberia em qualquer
mala.
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