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Celulares não causam câncer, mas podem afetar sua saúde de outras formas

A relação entre celulares e câncer é uma dúvida que acompanha a popularização dos aparelhos desde os anos 1990. O receio surgiu porque, durante as chamadas, o dispositivo permanece próximo à cabeça e emite radiação eletromagnética. Em 2011, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), ligada à OMS, chegou a classificar essa radiação como “possivelmente cancerígena”. A decisão, tomada por precaução, gerou ampla repercussão, mas não se apoiava em evidências conclusivas.

Desde então, profissionais vêm acompanhando milhões de pessoas em diferentes países por longos períodos sobre esse caso. A conclusão predominante é que não há aumento significativo no risco de câncer entre usuários de celulares, mesmo entre aqueles que utilizam o aparelho por muitas horas semanais. Se algum risco existir, apontam os cientistas, ele seria extremamente baixo. 

Para compreender esse resultado, é importante diferenciar os tipos de radiação. Os celulares emitem radiação não ionizante, que não tem energia suficiente para danificar o DNA das células. É um fenômeno distinto da radiação ionizante, como raios-X e radiação nuclear, que sim pode causar mutações genéticas e câncer. O efeito máximo da radiação de um celular é um leve aquecimento localizado, insuficiente para provocar danos celulares permanentes.

Aparelhos comercializados no Brasil e no mundo precisam obedecer a padrões internacionais de segurança que limitam a emissão de radiação. Mesmo em situações de sinal fraco, quando o celular aumenta a potência para se conectar, os níveis permanecem dentro do considerado seguro pelas autoridades regulatórias.

Se o risco de câncer não encontra respaldo científico, os efeitos mais preocupantes do uso inadequado dos celulares estão em outras áreas da saúde. Dormir com o aparelho próximo à cabeça pode prejudicar o sono, devido à luz da tela e às notificações constantes. Além disso, o uso excessivo está relacionado a ansiedade, sedentarismo, dores musculoesqueléticas e até acidentes de trânsito.

Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, concluiu que o uso excessivo de telas está ligado à piora da saúde mental de idosos, adultos, adolescentes e crianças. Segundo o estudo, sintomas de estresse, depressão e ansiedade foram observados nas pessoas que utilizam aparelhos como celular e computador com muita frequência.

Por isso, algumas medidas podem reduzir os impactos negativos do uso, como evitar dormir com o celular embaixo do travesseiro, preferir o viva-voz ou fones em ligações longas, fazer pausas durante o uso prolongado da tela, reduzir o tempo de exposição antes de dormir e evitar chamadas muito extensas quando o sinal estiver fraco. Essas práticas não estão ligadas ao medo de câncer, mas sim ao bem-estar e à preservação da saúde física e mental.

Portanto, os celulares não representam risco comprovado de câncer dentro das condições normais de uso. O que a ciência já mostra com clareza é que os efeitos do mau uso são imediatos e tangíveis, afetando sono, postura e atenção. O desafio atual não é temer a radiação, mas aprender a equilibrar os benefícios da conectividade com cuidados essenciais de saúde.



*Alexandre Henrique Martori é médico cooperado da Unimed Franca. Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina de Marília (2000). Residência médica em Neurologia e Neurofisiologia Clínica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP). Título de Especialista em Neurologia pela Academia Brasileira de Neurologia. Título de Especialista em Medicina do Sono pela Sociedade Brasileira de Sono. Mestre em Ciências (Neurologia) pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). 

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