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Economistas alertam sobre o congelamento de preços dos combustíveis

A Veedha Investimentos, um dos maiores escritórios filiados à XP, realizou nesta semana, em Limeira, um open day para receber clientes com palestras e encontros de relacionamento. Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha e comentarista da Jovem Pan News, e Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha, falaram do aumento de combustíveis, do cenário macroeconômicos e a renda variável na alta de juros em bate-papo preferencial para Gazeta de Limeira.

No acumulado dos últimos meses, o IPCA dos combustíveis, principal indicador de inflação do Brasil, teve uma alta de mais de 30%. Quais impactos diretos ao consumidor?

O consumidor brasileiro está sentindo a perda do poder de compra desde o ano passado, pois os gastos de subsistência são os vilões da inflação. Veja, antes mesmo de chegar à inflação de 33% nos preços dos combustíveis - acumulado em 12 meses até fevereiro - outros preços relevantes como Alimentação em domicílio (10,14%), energia elétrica residencial (28,12%) e gás de botijão (27,63%) comprometeram o orçamento familiar, quando pensamos na grande parcela da população brasileira. O combustível complementa esse cenário, no caso do diesel há preocupação com o efeito em cascata para os preços do frete e, consequentemente, o impacto até mesmo dessa alta acumulada de 40,54% nos preços de alimentação dado que além do transporte do alimento também existe o maquinário. Já a gasolina, afeta a parcela da população que ainda encontra dentro do orçamento alguma flexibilidade para lidar com esse encarecimento de 32,62%.  A inflação é disseminada na economia, cerca de 70% dos preços de bens e serviços vem mostrando alta mensal nos últimos meses. Portanto, todas as classes sociais estão sentindo no bolso, lógico que os mais pobres sofrem muito mais esse peso devido à inflação de subsistência.

Na sua opinião, o aumento de preços é o maior problema que o país precisa enfrentar ainda em 2022? A Guerra entre Rússia e Ucrânia pode agravar ainda mais esse cenário?

Sem dúvidas esse será o maior desafio do mundo, não apenas do Brasil. Temos o costume de falar sobre as economias desenvolvidas em detrimento do Brasil. Os Estados Unidos, por exemplo, mostraram uma inflação de 8,9% em fevereiro, alguns números pareciam até que estávamos falando do Brasil, como é o caso da gasolina que ficou 38% mais cara, alimentação que subiu 7,9% e automóveis usados com alta de 41,2%. A inflação veio no contexto do descompasso entre oferta e demanda após as políticas fiscais e monetárias que ampararam a recuperação da atividade econômica. Mas, a inflação acentuou no contexto do conflito no leste europeu, exigindo um esforço maior de combate por parte das autoridades monetárias. A resposta disso será um mundo com juros mais alto e com um crescimento econômico mais baixo para reequilibrar essa situação.

O Banco Central conseguirá alterar a rota da inflação contratada para 2022? Há algo que pode melhorar esse cenário?

A elevação da taxa Selic para 11,75% em conjunto com a contratação de uma nova elevação para 12,75% em maio, conforme indicado no comunicado do Copom, não vai solucionar a situação inflacionária já em 2022. A expectativa consolidada entre os analistas é que o IPCA irá desacelerar de 10,2% em 2021 para uns 7% em 2022, mesmo computando a elevação dos juros prevista para maio. A meta de inflação para 2022 é 3,5%, a tolerância do teto da meta é 5%, portanto, a missão foi deflagrada. Mas, como o Banco Central persegue o sistema de meta de inflação com essa elevação de juros ele pretende evitar o contágio para as expectativas dos anos subsequentes, para 2023 a meta é 3,25% e a projeção caminha para 4%. O objetivo é conter a inércia inflacionária. Portanto, a resposta é que o Banco Central do Brasil está fazendo o que está no seu controle. Mesmo a resolução da guerra exigirá tempo para a normalização da cadeia de abastecimento global. Não há solução imediatista.

O Governo pretende congelar preços dos combustíveis para segurar inflação. Qual sua avaliação?

O congelamento de preços não foi efetivo na Argentina e no Brasil, durante o último ano do governo Dilma, também não foi resolutiva quanto aos preços de energia, pelo contrário, os preços ficaram represados e depois foram repassados ao consumidor em uma “paulada”.  Sem contar que existe um efeito secundário de outros preços, como a taxa de câmbio. Interferência política nos preços gera apreensão dos investidores sobre interferência, o que eleva a percepção de risco e gera uma saída de recursos estrangeiros da economia. A consequência é a desvalorização do câmbio e mais pressão inflacionária. O fato é que o consumidor acaba pagando a conta de qualquer jeito, sendo “a prazo” pelo fato de que após o represamento vem o reajuste acumulado, ou sendo instantânea via câmbio por exemplo.

Em ano eleitoral, em um cenário de maior vulnerabilidade, o cenário pode se agravar ainda mais?

Olhando para o Brasil, nesse momento podemos olhar a situação através de duas lentes. A realidade da economia real, que se depara com um cenário inflacionário e juros alto que resultarão em desaceleração econômica ao longo de 2022. E, a realidade do mercado financeiro que está surfando o contexto inflacionário das commodities, que resultou na recuperação da bolsa e da taxa de câmbio, dado o ingresso de cerca de R$ 73,6 bilhões no acumulado de 2022 (até 16.03). Portanto, na lente do mercado financeiro a depender dos desdobramentos das campanhas eleitorais e das declarações, não é desprezível o risco da desvalorização dos nossos ativos. Consequentemente, dependendo da extensão da situação, pode reverberar na economia real.  Se a percepção de risco for muito elevada, por exemplo, pode inclusive exigir um esforço ainda maior do Banco Central para subir juros, pois os investidores passam a exigir um “prêmio de risco” maior para investir no Brasil.

A resposta do Banco Central, com aumento de juros, deve atrair capital externo e melhorar esse cenário?

O diferencial de juros do Brasil está atraindo capital estrangeiro para a nossa economia com os investimentos em renda fixa. Atualmente, a exportação de commodities e juros estão balizando o cenário brasileiro. No entanto, juros elevados não melhora cenário econômico, juros altos é um instrumento para corrigir a rota inflacionária ao preço de um crescimento econômico menor. O investimento que entra na nossa economia com juros altos é especulativo, o Brasil precisa de ingresso de investimento de longo prazo, aquele em Formação Bruta de Capital Fixo, que normalmente acontece nas economias com uma taxa de juros estrutural mais baixa.

Como a Veedha Investimentos, um dos grandes escritórios de agentes autônomos da XP, enxerga essa alta de juros. Isso muda o perfil de risco do investidor, que passa a ficar mais em renda fixa?

Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos: Sem dúvida muda, já estamos sentindo desde o final de 2021 um volume de migração muito alto, da renda variável para a renda fixa. Somado aos juros mais altos que voltaram a ser pagos pelos títulos de renda fixa em geral, ainda temos uma dose grande de incertezas no radar desse ano e por si só isso já era fator de uma mudança de risco para portfólios mais conservadores, com o prêmio atual dos juros, isso fica ainda mais favorável. Agora para quem está acostumado a correr risco e tem horizonte de investimento mais longo, a renda variável em geral, ações e fundos imobiliários, começam a ficar exageradamente baratos e vão oferecer um potencial de retorno muito interessante.

Por fim, qual o perfil de investidor da região de Limeira e quais as expectativas da Veedha?

Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos: Nosso plano é oferecer para os investidores de Limeira e Região uma alternativa mais completa de informações, maior gama de produtos e estratégias e, principalmente, uma assessoria personalizada e mais próxima dos clientes, pois sabemos que é nesse relacionamento que existe o maior gargalo hoje com os bancos tradicionais.

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