Foto de capa da notícia

Vacina contra a dengue do Butantan atinge eficácia de 79,6%

A vacina contra a dengue em desenvolvimento pelo Instituto Butantan apresenta 79,6% de eficácia geral para prevenir a doença, segundo os resultados iniciais do estudo clínico de fase 3. Segundo o Instituto, não houve nenhum caso de dengue grave ou com sinais de alarme durante os dois anos de seguimento dos voluntários.

Os resultados referem-se às análises realizadas entre fevereiro de 2016 e julho de 2021, por 16 centros de pesquisa em diferentes regiões do Brasil, incluindo mais de 16 mil voluntários de 2 a 59 anos, que receberam uma dose única da vacina. Foi observada a incidência de casos de dengue sintomáticos confirmados por laboratório após 28 dias da vacinação até o segundo ano de seguimento dos indivíduos. O estudo seguirá até todos os participantes completarem cinco anos de acompanhamento, em 2024.

Foram incluídas na pesquisa pessoas com e sem exposição prévia ao vírus da dengue. Nos participantes que já haviam sido infectados antes do estudo, a eficácia foi de 89,2%. Já naqueles que nunca tinham contraído a doença, a proteção foi de 73,5%. A vacina é tetravalente (com capacidade de proteção contra os quatro sorotipos do vírus) e o estudo avaliou a eficácia contra os sorotipos DENV-1 e DENV-2, que foi de 89,5% e 69,6%, respectivamente.

Não há dados de eficácia contra DENV-3 e DENV-4 já que estes vírus não circularam amplamente no país durante o período analisado. No entanto, a fase 3 segue em andamento e existem planos de desenvolvimento clínico para gerar dados de eficácia para esses dois sorotipos. Anteriormente, na fase 2, publicada na "The Lancet Infectious Diseases", 80% dos voluntários produziram anticorpos contra os quatro tipos.

A Butantan-DV, análoga à vacina americana TV003, é desenvolvida em parceria com a farmacêutica multinacional MSD e com apoio do Instituto Nacional de Saúde Americano (NIH). Os novos dados reforçam a alta capacidade da vacina de gerar resposta imunológica contra a dengue, já observada nas fases anteriores do estudo. 

SEGURANÇA

Dos 16.235 voluntários que participaram do estudo, 10.259 receberam a vacina. Até 21 dias após a vacinação, somente três (menos de 0,1%) apresentaram eventos adversos graves relacionados ao imunizante. As reações adversas foram comparáveis entre o grupo que recebeu placebo e o que recebeu a vacina, exceto por reações esperadas que aconteceram fora do local da aplicação, como febre e irritação na pele.

A frequência de eventos adversos foi semelhante entre as três faixas etárias (2-6, 7-17 e 18-59 anos) e entre participantes previamente expostos a dengue ou não. "Este dado representa um importante marco para a comunidade científica brasileira no combate à dengue, que é um problema de saúde pública global. Há uma grande expectativa que esta vacina se torne uma medida de prevenção para casos de dengue, sintomática e grave, impactando positivamente a população", destaca a diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos.

"Esse é um exemplo de cooperação tecnológica que cria soluções inovadoras para ajudar a atender necessidades médicas em saúde ainda sem solução, como a dengue. Neste sentido, se unem experiência do Butantan em vacinas, e a histórica experiência global da MSD neste campo, para acelerar este desenvolvimento. A sinergia desta parceria público-privada em pesquisa e em inovação mostra as possibilidades de cooperação no Brasil", completa Hugo Nisenbom, CEO da MSD Brasil.

A VACINA

Em 2009, o Instituto Butantan licenciou do NIH as patentes e os materiais biológicos referentes às quatro cepas virais que compõem a vacina da dengue. Com os dados da instituição americana, o Butantan executou o estudo clínico de fase 2 e em 2016 iniciou a fase 3. Em dezembro de 2018, o instituto firmou parceria com a farmacêutica MSD para co-desenvolvimento e licenciamento dos dados referentes à vacina, em uma ação conjunta para acelerar o desenvolvimento e registro do produto.

O objetivo do Butantan é disponibilizar o imunizante para o Sistema Único de Saúde (SUS). Após a conclusão do ensaio clínico, prevista para 2024, os resultados finais serão submetidos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para avaliação. O órgão irá definir, com base nos dados de eficácia, segurança e imunogenicidade, quais públicos poderão se beneficiar da vacina, e se irão recomendá-la para incorporação ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).

A vacina candidata é composta pelos quatro sorotipos do vírus atenuados, ou seja, incapazes de causar a doença. Isso é importante pois, ao contrair um dos tipos de dengue, o indivíduo adquire imunidade contra aquele subtipo, mas ainda pode ser reinfectado por outro. A reinfecção tem maiores chances de induzir quadros graves da doença. Estes fatores aumentam a complexidade para a formulação de um imunizante tetravalente seguro para pessoas que já contraíram ou não algum tipo de dengue.

Os vírus atenuados foram cultivados em células Vero, uma técnica amplamente conhecida, e depois o material foi purificado e seguiu para a formulação. Depois, passa pela liofilização, processo que transforma o líquido em pó, e a criação do diluente para diluir o pó no momento da aplicação da vacina.

 

SOBRE A DENGUE

 

A dengue é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das 10 maiores ameaças à saúde pública global. Anualmente, os vírus da dengue causam cerca de 400 milhões de infecções no mundo. Este cenário ocorre devido à grande distribuição territorial do mosquito Aedes aegypti, que abrange regiões tropicais e subtropicais.

 

No continente americano, o Brasil é o país com maiores índices de casos. Segundo dados do Ministério da Saúde, só nos primeiros oito meses de 2022, o país registrou mais de 1,3 milhão de diagnósticos clínicos de dengue, o que representa um aumento de 189 vezes dos casos registrados em todo o ano de 2021. Isso pode gerar uma sobrecarga do sistema de saúde pública, deixando a população ainda mais suscetível a complicações da doença. 

 

Apesar da maioria das infecções ser assintomática ou se manifestar de forma leve, cerca de meio milhão de pessoas ao redor do globo podem apresentar sintomas graves e precisar de hospitalização. Os sinais mais característicos da dengue são febre alta, manchas vermelhas, dor ao redor dos olhos, dores musculares e nas articulações. Nos casos graves, a chamada dengue hemorrágica, podem ocorrer sangramentos intensos, queda súbita da pressão e até morte. 

Comentários

Compartilhe esta notícia

Faça login para participar dos comentários

Fazer Login