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“Vítima de uma relação abusiva geralmente desconfia de si mesma”, explica psicóloga

Antes de iniciar a formação do primeiro Paredão do Big Brother Brasil 23, no domingo (22), Tadeu Schmidt decidiu mandar um recado aos participantes sobre a relação do casal Bruna Griphao e Gabriel no programa. A mensagem veio em forma de alerta sobre relacionamentos abusivos.

O apresentador, pela primeira vez no programa, falou ao vivo sobre uma relação dentro do reality. "Quem está envolvido em um relacionamento, talvez nem perceba, ache que é normal. Mas quem tá de fora consegue enxergar quando os limites estão prestes a serem gravemente ultrapassados".

Mesmo quem não assiste ao programa, o assunto gerou grande repercussão nas redes sociais. Afinal, como identificar um relacionamento abusivo? A psicóloga psicanalista e neuropsicóloga, Bruna Dean, explica que relacionamentos abusivos não são tão fáceis de identificar, já que não se trata apenas de agressões físicas. “Para a psicologia, há inúmeras formas de agressões que perpassam inclusive a física, mas também a patriarcal, a psicológica, a moral e a sexual, uma vez que, um relacionamento abusivo pode ser caracterizado a partir do momento em que uma das partes desse relacionamento exerce sobre o outro extremo poder e influência de modo a impedir que a outra parte responda em condições de igualdade as agressões e intimidações, justamente porque a pessoa agredida se encontra em situação mais vulnerável que o seu agressor, ressaltando que isso pode ocorrer tanto das mulheres para os homens, mas majoritariamente dos homens sobre as mulheres”, explica em entrevista para a Gazeta.

Entre os sinais mais comuns, a profissional destacou as chantagens, apelos emocionais, ameaças de términos, reações descontroladas de ciúmes, manipulação psicológica, controle, possessividade, comportamento agressivo, agressão sexual, desvalorização, ofensas, jogos de poder e as agressões físicas. “A vítima de uma relação abusiva geralmente desconfia de si mesma e de sua sanidade quando questiona sobre estar vivendo uma relação abusiva, justamente porque parece impossível uma pessoa a quem destinamos afeto, nos tratar dessa forma tão destrutiva, entretanto a vítima é exatamente uma vítima, desse modo, ela passa período de sentir vergonha, medo da exposição, muitas vezes ficando deprimida, e sentindo grande dependência afetiva emociona, além da Baixa autoestima. A culpa e o medo são sentimentos muito frequentes nas vítimas, por essa razão é difícil acessá-la, entretanto, é comum desencadear ansiedade e depressão, por isso é imprescindível que a vítima busque ajude psicológica, pois o profissional não irá julgá-la, mas sim acolher sua demanda e ajudá-la”, afirma.

O relacionamento abusivo ocorre tanto para mulher, quanto para o homem. “O contínuo abuso emocional e psicológico pode desencadear depressão, ansiedade, fobias, medos, além de problemas de saúde graves, uma vez que pode existir agressões físicas. A frequência do abuso desencadeia o trauma e este enraíza, deixando a vítima com medo, inclusive de refazer sua vida com outra pessoa, depois do desvinculo do abusador, por isso novamente a necessidade de um profissional que a ajude não repetir o ciclo de abusos em sua vida”, informa.

Caso a vítima nunca tenha percebido, mas pessoas próximas já falem sobre essa possibilidade, as vítimas devem buscar auxílio para entender se a relação apresenta a toxicidade em questão. “Inclusive, há atendimentos psicológicos gratuitos ofertados pelas faculdades através dos estágios dos futuros psicólogos. O psicólogo ou até mesmo a terapia de casal ajudará no entendimento dessas ações que ferem o outro. Em se tratando da vítima, o psicólogo consegue ajudá-la. No tratamento da ansiedade, depressão, assim como, na cura do trauma causado pelo abusador ajudando-a no desvinculo das amarras existentes. Em terapia de casal, o foco recai para ambos enquanto casal, ou seja, orienta-se o abusador sobre os comportamentos abusivos, assim como, orienta-se a vítima sobre a condição em que ela se encontra. Entretanto, quando há casos de agressões físicas outros órgãos de proteção a mulher são acionados, pois além da questão psicológica, se houve a agressão física existe a lei como respaldo”, alerta.

COMO IDENTIFICAR ISSO EM SI MESMO?

A situação de um relacionamento abusivo também pode ser inversa. Já pensou na possibilidade de ser um parceiro ou parceira abusivo (a)?. “A identificação de si mesmo é o olhar atento sobre o quanto eu impeço o outro de ser ele mesmo, ou seja, aquilo que faço que fere a identidade do outro, aquilo que impede o outro de ser feliz e de ser do modo como ele é dentro da relação já indica que a pessoa está ultrapassando os limites. Não é possível controlar a pessoa, mandar nela e coisas abusivas dessa natureza porque o outro não nos pertence e numa relação abusiva o abusador acredita que a pessoa passa a ser dela, por isso, o comportamento de impedir que o outro enxergue o abuso”, afirma. Nesse caso, é fundamental pedir ajuda, tanto de pessoas próximas, mas principalmente profissional.  

Cotovelada: "Fala de participante e não deve ser normalizada"

Ao avaliar o conteúdo exibido pela Rede Globo, o participante chegou a dizer que daria uma cotovelada na boca da companheira de confinamento. A presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), Jacqueline Valadares, alerta que condutas desta natureza não devem ser normalizadas, tão pouco em rede nacional e em horário nobre.

"Isso pode configurar crime de ameaça. Acredito que o participante poderia receber uma repreensão mais efetiva da emissora, tendo em vista o alcance do programa e do quanto ele pode influenciar, inclusive, negativamente. Faltou também a emissora conceder à vítima orientações jurídicas a respeito dos fatos".

"Se a vítima identificar que está passando por algo como abuso, controle excessivo, ameaça e depreciação, por exemplo, deve ligar o sinal de alerta. O ideal é que procure a Delegacia de Polícia mais próxima para receber orientações. É preciso verificar se aquele comportamento é passível de registro, de responsabilização criminal por parte do investigado, ou se essa mulher precisa ser encaminhada para uma rede de apoio".

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