“A mulher cuida de todos, mas, quem cuida da mulher?”
“A mulher cuida do marido, do filho, do pai, do irmão, mas, quem cuida dela?”, pergunta a presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DCM/SBC), Maria Cristina Costa de Almeida. Com a indagação, a cardiologista faz um alerta sobre os riscos que o modo de vida feminino traz para a saúde das mulheres e faz um apelo para que o Dia Internacional da Mulher seja uma data de conscientização. “É importante aproveitarmos estas datas para esclarecermos que as doenças cardiovasculares estão matando as mulheres”, enfatiza a Dra. Maria Cristina, e complementa: “Elas cuidam da família e se cuidam menos; são mais sedentárias do que os homens, se alimentam mal e têm mais sobrepeso”, pontua.
Estudos desta última década reconheceram que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as mulheres. Contudo, as mais interessadas nesta informação não sabem disso. “As mulheres fazem anualmente a mamografia para prevenção de câncer de mama. Isso é necessário, e foram feitas campanhas para alertar a respeito. Porém é fundamental fazer o acompanhamento das doenças cardíacas, pois matam mais mulheres do que todos os cânceres juntos”, adverte.
O estudo Saúde Brasil do Ministério da Saúde revela que o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e as doenças cardíacas são as que mais matam as mulheres entre 30 a 69 anos. A pesquisa identificou também que há quatro fatores de riscos prevalentes para a incidência das doenças: o tabagismo, a atividade física insuficiente, o uso nocivo do álcool e a falta de alimentação saudável.
Esse avanço na mortalidade feminina não é por acaso. A cardiologista lembra que a mulher está o tempo todo sendo bombardeada por possíveis fatores de risco. “Na idade reprodutiva as complicações podem ocorrem em decorrência da contracepção – não podemos esquecer dos anticoncepcionais especialmente associados ao tabagismo, que levam às tromboses e risco de embolia pulmonar; da gravidez (como a pré-eclampsia, o diabetes gestacional e a própria hipertensão) e outros distúrbios como a síndrome do ovário policistico. Esses são indicadores que futuramente ela tem mais risco de ter doença cardiovascular”, adverte.
Se na fase reprodutiva a mulher já sofre com situações que podem levar a problemas cardíacos no futuro, na menopausa, elas estão prestes a vivenciá-los. “Quando chega nessa fase a mulher deixa de produzir o estrogênio e com a ausência desta proteção, ela iguala o risco do homem para as doenças isquêmicas [aquelas que afetam as artérias]”.
DIAGNÓSTICO DIFERENTE
A presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher da SBC, Dra. Maria Cristina Costa de Almeida observa ainda que pode haver diferenças no diagnóstico das doenças cardiovasculares entre homens e mulheres. Dra. Cristina destaca que até a dor no peito é distinta.
“A mulher muitas vezes tem dor no peito muito mais atípica do que a no homem. Elas podem sentir um mal-estar, uma sensação que está passando mal e não sabe explicar. Essa sensação, muitas vezes, não é aquela dor clássica que o homem se queixa. Os sintomas podem enganar... quando ela chega na emergência, seus sintomas são subestimados, e quando é feito um cateterismo, pode parecer que as coronárias estão normais, mas, são normais entre aspas, pois é outro mecanismo de circulação. A mulher tem as coronárias mais finas, tem doenças nas micro artérias, o que muda a forma de detectar”, alerta.
Por isso, a médica defende que sejam feitas mais pesquisas com mulheres e difusão de campanhas educativas. “A mulher precisa ser cuidada e precisa ser conscientizada. É um caso de saúde pública.”
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