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“Ameaças escondem intenção de provocar pânico”

 

Especialista em educação, da Unicamp, comenta casos recentes e pontua papel da escola e sociedade

Considerada uma das mais importantes pesquisadoras de problemas de convivência na escola e radicalização da juventude, Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação (FE) e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, revela que a maior parte das mensagens veiculadas pelas redes sociais que tratam de supostos ataques em escolas tem características de um movimento organizado para causar pânico. Esses eventos, segundo o que vem sendo difundido, ocorreriam especialmente entre 12 e 20 de abril, este último, dia do massacre de Columbine e aniversário de Hitler.
A professora estuda violência extrema em escolas desde o episódio em Suzano (SP), em 2019, quando sete pessoas foram mortas. Segundo ela, muitas das mensagens com ameaças de ataques em escolas que ganharam as redes sociais nas últimas semanas, e têm preocupado autoridades, dirigentes de instituições de ensino, pais e estudantes, apresentam um padrão diferente do verificado entre adolescentes que interagem com comunidades extremistas.
De acordo com a pesquisadora, as expressões empregadas nas ameaças e as motivações das publicações diferem das utilizadas pelos jovens que cometem atentados. “Tudo indica que se trata de uma ação coordenada intencionalmente para gerar o caos, mas não temos certeza ainda, porque está sendo investigado”, afirma a professora. “Nas mensagens analisadas foram encontradas muitas fake news e nem sempre se consegue separar o falso do verdadeiro”.
Isso não quer dizer, segundo ela, que o perigo não exista. “Em nenhum momento podemos afirmar que um ataque não vá acontecer. Não existe garantia, nem mesmo em instituições que são verdadeiros bunkers – tanto que nos Estados Unidos, país com a maior indústria de segurança escolar e o mais alto índice de armas em circulação, é o lugar onde com o maior número de tiroteios em escolas. Contudo, é preciso cautela e não entrar em pânico”, exemplifica a professora.
De acordo com a especialista, também chamam a atenção as tentativas e ataques efetivamente realizados por estudantes após o que aconteceu nas escolas de São Paulo e de Blumenau. “As investidas apresentam uma dinâmica diferente daquela identificada em ataques nos últimos dez anos, cujas características eram vivências negativas em escolas, interação desses jovens com fóruns online, racismo e misoginia. Tudo indica que esses novos ataques são decorrentes do chamado de ‘efeito contágio’, somado a outros fatores, entre os quais ressentimentos, raiva, preconceitos, impulsividade e transtornos mentais. Em linhas gerais, o ‘efeito contágio’ acaba inspirando novos ataques”, diz a professora.

PLANEJAR AÇÕES

A docente sugere, diante desse quadro, que os dirigentes das instituições educativas discutam todas as dimensões do fenômeno, planejando uma atuação mais coesa e direcionada. “Em seguida, é preciso que os gestores reúnam professores e funcionários de modo que, juntos, planejem ações de acolhimento e condutas comuns para evitar a disseminação de informações incorretas ou mesmo falsas.”
Vinha reitera a importância da escuta, do diálogo e da conexão entre professores e adolescentes. “Nesse contexto, é fundamental saber o que está acontecendo e como os jovens se sentem”. Na opinião da especialista, o aluno precisa saber que não deve compartilhar informações falsas. Para além dessa orientação, deve denunciar esse tipo de material para os órgãos oficiais. A escola precisa, ainda, orientar sobre o que é necessário ser denunciado.
A coordenadora da Secretaria de Vivência do Campus (SVC) da Unicamp, professora Susana Durão, diz que não há registro de ameaças dirigidas à Universidade – que, além de oferecer ensino superior, mantém o Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), o Colégio Técnico de Limeira (Cotil) e unidades de educação infantil para filhos de servidores. Juntas, essas unidades totalizam cerca de 3.700 estudantes. 
Segundo ela, o patrulhamento de segurança foi reforçado em todos os campi da Universidade.

LIMEIRA

A instituição cita que medidas preventivas também foram adotadas em Limeira, município que abriga a Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), a Faculdade de Tecnologia (FT) e o Cotil. “Estamos cientes e vigilantes quanto ao cenário nacional de boatos e supostas ameaças a unidades escolares. Entendemos que essas notícias podem ser preocupantes e queremos garantir que, apesar de não termos recebido nenhuma ameaça direta, estamos tomando as medidas necessárias para garantir a segurança e tranquilidade de todos”, informou o professor Alcides José Scaglia, coordenador da Secretaria de Administração Regional (SAR) da Unicamp. (Com informações do portal Unicamp)

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