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Autismo: Vitor Fadul fala sobre os desafios no mundo da música

O cantor, compositor e ator Vitor Fadul é autista e debate abertamente o tema em suas redes e na imprensa, mostrando um pouco sobre a carreira profissional, os desafios e soluções. Neste dia 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo, Vitor, que é marido do historiador Leandro Karnal, reforça a importância da data falando um pouco mais sobre os desafios das experiências que envolvem os múltiplos sentidos. 

"O mundo da música é um universo multissensorial, um lugar em que se vive em todas as dimensões. Faço um grande esforço para entender tudo o que se passa comigo, e um maior para explicar. As experiências que envolvem múltiplos sentidos são as mais desafiadoras", explica Vitor. 

Já é difícil administrar um único sentido, o da audição, por exemplo, quando se está num ambiente de gravação de vídeo, em que o cérebro recebe o som produzido pela própria voz. O que vem dos instrumentos musicais. O som que vem das pessoas que estão junto no mesmo ambiente, os ruídos da rua. "É preciso uma concentração imensa para que eu consiga fazer tudo o que me desafiei, afinal, sempre sonhei em ser cantor. Também é saudável entender os limites de cada momento, quando não se consegue, aguardar um novo amanhecer e tentar de novo". 

Para um artista autista, a experiência da música pode ser diferente da de uma pessoa neurotípica. A sensibilidade pode ficar à flor da pele com certos aspectos da música, como a intensidade e a frequência. Daí entram os outros estímulos, o tato, os cheiros, a visão, o coração acelerando lá dentro, reações na pele acontecendo por fora, suar demais ou sentir frio demais. Cada sentido vai se somando na experiência vivida e causando reações a serem consideradas. "É preciso muita concentração, faço meditação duas vezes por dia, pratico atividade física, faço terapia, faço exercícios de concentração e me esforço ao máximo para ter o melhor rendimento e performance. Tenho parceiros que criam um ambiente de trabalho inclusivo e respeitoso, o que desejo a todos que precisam de acessibilidade e compreensão".

"O autismo não é algo que está em minha cabeça, como o meu cabelo está e que forma o meu estilo, interfere no meu visual, não. O autismo é como o meu neurodesenvolvimento se formou, portanto tudo o que eu faço está influenciado pelo autismo. Tive que aprender a ser muito forte e resiliente, ter paciência comigo antes mesmo de esperar que qualquer outra pessoa possa ter. O lado bom é que hoje eu tenho muito carinho e orgulho de quem eu me tornei, aprendi a ver minhas qualidades e aceitá-las, o que é o mais importante. A criatividade que todos parabenizam em meu trabalho, faz com que seja uma verdadeira aventura viver em meu cérebro. Perceber os detalhes das coisas e colocar minha arte no mundo, minhas músicas. Na minha carreira eu penso em tudo, desde a coreografia, até o videoclipe, e tudo sai com a impressão de minha percepção do mundo".  

Cada autista é único, as variações de cada indivíduo são enormes porque se trata de um espectro, onde há infinitas possibilidades. Alguns autistas podem ter hipersensibilidade, já outros não. Portanto, é um espectro e não um gradiente, onde se poderia medir a quantidade ou intensidade do autismo. 

Importante frisar que não tem cura porque não é uma doença, é uma maneira diferente de existir. A psicóloga Sheila Simões (CRP 07/12827) completa que "o funcionamento cerebral do autista é neurodivergente, funciona num espectro, precisando de suporte para se organizar e realizar as tarefas. Por isso é tão importante o diagnóstico. Dessa forma, cada pessoa começa a se entender mais, ter acompanhamento especializado para cada grau do autismo, além de saber como se adequar em cada situação".

"Preciso, sim, de apoio e suporte, mas de uma forma geral, com técnicas, estratégias e compreensão das pessoas que me amam, posso fazer o que tenho que fazer", finaliza Fadul. 

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