
Caminhos para o Amanhã: LBV oferece suporte e inclusão para crianças autistas
O Dia Mundial de Conscientização sobre o
Autismo — instituído, no ano de 2007, pela Organização das Nações Unidas
(ONU) para ser celebrado em 2 de abril — traz uma grande oportunidade para a
sociedade conhecer mais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como
as necessidades e o potencial das pessoas nessa condição.
Por
sinal, vale aqui destacar que estudos feitos a partir de 2013 foram os
responsáveis por acrescentar o termo “espectro” a esse transtorno, exatamente
pela diversidade de sintomas e níveis apresentados pelo TEA. Os conjuntos de manifestações
são próprios, individuais, o que exige uma atenção única, especial para cada
cidadão.
Vencer
as dificuldades de comunicação, interação social e aprendizagem pede preparo,
paciência e muito amor de pais ou responsáveis e dos professores e profissionais
que os acompanham, tendo em vista que uma das características do TEA é o
comportamento restrito e repetitivo.
Por conta
desses desafios, as mais de 80 unidades da Legião
da Boa Vontade (LBV) pelo Brasil
têm se aperfeiçoado nas providências necessárias para receber crianças,
adolescentes e jovens autistas. A base de todo o trabalho da Instituição está
nos conceitos das vanguardeiras Pedagogia do Afeto (para crianças de até os 10
anos de idade) e Pedagogia do Cidadão Ecumênico (a partir dos 11 anos), as
quais propõem “uma visão além do intelecto”, conforme destaca o seu
propositor, o educador Paiva Netto, presidente da LBV.
Nesta
matéria, a LBV traz história inspiradora que demonstra que é possível
assegurar a todos uma melhor qualidade de vida, a fim de que as pessoas
autistas também tenham os seus direitos assegurados.
“A LBV é a rede de apoio que eu nunca tive”
Imagine
encontrar uma mãe com dois filhos autistas, uma mulher que se preparou muito
para a maternidade, mas que se viu diante de algo que a princípio não entendia.
Nesta reportagem, a atendida pela LBV Marilene Araújo, moradora da cidade de
Sorocaba/SP, representará milhares de outras mulheres que se veem, diariamente,
diante do desafio de oportunizar o melhor para suas crianças. No caso dela, a
Sophia, de 12 anos, e o Murilo, de 11, aos quais ela se dedica para que possam
crescer e se desenvolver como os demais, tornando-se adultos felizes e
independentes.
Informação de qualidade e combate ao preconceito
Após
contar com o suporte de especialistas da área da saúde que ajudaram a
diagnosticar o TEA de seus dois filhos, oportunizando o tratamento correto, ela
encontrou a “família da Legião da Boa Vontade”, como gosta de afirmar.
Marilene, em conversa com nossa equipe, evidenciou diversas vezes como o
conhecimento sobre essa condição fez a diferença na sua trajetória e na de suas
crianças, porque é a partir da “identificação que você sabe o que tratar, os
pontos em que se têm dificuldade”, explica. Além disso, a falta de
informação alimenta o preconceito e a discriminação contra as pessoas com o
transtorno.
O
diagnóstico do Murilo foi feito apenas quando tinha 8 anos, conta a mãe: “Quando
eu descobri o autismo dele, era nível 3 de suporte, ele não falou e usou fralda
até os 6 anos de idade. Hoje, está no nível 2, houve um grande progresso”, revela.
Em relação à filha Sophia, foi mais difícil perceber o TEA, que se mascarou por
anos, sendo confundido com depressão, levando-a a tomar remédios errados. A
menina era muito quieta, tímida, e não conseguia fazer amizades, sofrendo bullying
na escola, até que um neuropsiquiatra fechou o laudo de autismo dela como
de nível 2 de suporte, há um pouco mais de um ano, quando já estava com 11
anos.
Além da
falta de interação social dos dois filhos, o fato de ainda serem muito
dependentes dela, mesmo com o passar dos anos, fez Marilene procurar ajuda no
Centro Comunitário de Assistência Social da LBV na cidade do interior paulista,
por meio do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. Criança:
Futuro no Presente!, cujo público atendido é de usuários entre 6 e 15 anos.
Primeiro, veio a Sophia, em novembro de 2022, e depois o irmão, em janeiro do
ano seguinte.
A
Instituição a surpreendeu de forma bastante positiva: “Quando vim conhecer, falei
da dificuldade de incluí-los mais na sociedade. Não sabia se eles poderiam
ficar aqui, porque é bem complicado esse negócio de aceitação, mas fui recebida
com muito carinho”.
Divisor de águas
Na Legião
da Boa Vontade, a genitora encontrou exatamente o amparo de que necessitava: “Aqui
é a extensão da minha família, a rede de apoio que eu nunca tive, tanto para as
crianças quanto para mim. Todas as vezes que precisei, a Instituição me deu um
norte. Foi e é muito importante para nossa família. A LBV é um divisor de
águas, tanto na evolução das crianças como no suporte, no apoio para mim”.
Sobre o
desenvolvimento com os estímulos certos ofertados na Entidade, Marilene
emociona-se ao enumerar: “O Murilo tinha dificuldades na parte de
coordenação motora fina; atualmente ele toca instrumentos, dança e ama
tecnologia, chega em casa cantarolando as canções que aprende aqui [na LBV].
(...) Ele e a Sophia têm paixão pela música. Ela adora flauta, teclado e,
agora, está aprendendo a tocar pandeiro, também passou a conversar com todo
mundo e, na semana passada, contou para mim toda contente: ‘Mamãe, me
escolheram como líder de sala’”.
Ferramentas educacionais
A
educadora social Rosane Cavalcante, que atua na unidade da LBV em Sorocaba,
ressalta que, além do atendimento de profissionais externos, o progresso dos
irmãos é resultado de inúmeras iniciativas da Legião da Boa Vontade: “O
Serviço de convivência atua na prevenção de situações de risco social por meio
do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, bem como da promoção
da autonomia dos usuários, para a superação de suas vulnerabilidades,
oferecendo um ambiente acolhedor e estimulando o convívio social como forma de
proteção e inclusão”, explica.
Outro
passo importante, que, por sinal, é uma das premissas do serviço de convivência
da LBV, foi o de conscientizar os demais usuários sobre as questões que
envolvem o autismo. “Este é um assunto que não é muito abordado,
principalmente nas escolas. Fiz um planejamento sobre as dificuldades e os
potenciais das pessoas autistas, e, numa roda de conversa, eles puderam falar
um pouco sobre como se sentem, manifestaram suas dúvidas sobre como se
relacionar... Alguns, querendo até superprotegê-los, pensam que os autistas não
têm capacidade de fazer as coisas sozinhos, e não é isso. Eles são super
capazes de aprender, é só ter paciência. Foi interessante essa troca, uma
maneira de acolhermos os dois, para que se sentissem mesmo pertencentes ao
grupo.”
Para Marilene, essa ação
de reforçar o vínculo entre eles foi fundamental: “Eles conseguiram se
ajustar à sociedade, e a sociedade entendeu as dificuldades deles. Hoje são
outras crianças”.
Criança: Futuro no Presente!
Por meio
desse serviço, a Legião da Boa Vontade busca garantir a crianças e adolescentes
de 6 a 15 anos de idade proteção social e acesso a atividades socioeducativas
que propiciem seu desenvolvimento integral. Além disso, oferece tranquilidade
às famílias para que possam trabalhar, pois sabem que os filhos estão em local
seguro e saudável, longe da violência das ruas. “O mundo é porta aberta para
todos os caminhos. E, hoje, os meus filhos, estando na LBV, têm a oportunidade
[de serem conduzidos à] boa conduta, ao amor, ao carinho ao próximo, ao
respeito. Eu digo que a LBV me ajudou, porque tinha uma visão do que é ser mãe,
e mudei ao passar por essa transição na minha vida. Com tudo o que aconteceu,
aprendi a ser a mãe que eles precisavam, e não a que eu queria ser”, afirma
Marilene Araújo, mãe da Sophia, 12 anos, e do Murilo, de 11, atendidos pela
LBV.
Em
Sorocaba/SP, são mais de 100 crianças e adolescentes que participam das ações
no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV, localizado na Rua José Benedicto
Martins, 24, Jardim São Guilherme, tel.: (15) 3302-4034. Essa turminha se
desenvolve com atividades diárias lúdicas, esportivas e culturais, que promovem
a socialização, o diálogo, a aprendizagem e a troca de experiências. Todos os
anos, os atendidos são beneficiados também com kits de material
pedagógico e uniforme.
Sinais e sintomas do TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças pode ser
identificado por diversificados sinais, variando em intensidade e manifestação.
É amplamente reconhecido que um diagnóstico precoce oferece à pessoa a
oportunidade de um melhor desenvolvimento, por isso, é fundamental estarmos
atentos. As questões elencadas variam de indivíduo para indivíduo.
1 - Dificuldades na
interação social:
Contato visual reduzido:
as pessoas com TEA tendem a evitar ou manter pouco contato visual durante
interações.
Preferência pelo
isolamento: podem buscar atividades solitárias, mostrando desinteresse em
brincar com outras crianças.
Déficit na percepção
emocional: há um desafio em entender e responder adequadamente às emoções
alheias.
2 - Obstáculos na
comunicação:
Atraso ou ausência da
fala: algumas crianças podem não desenvolver a fala no período esperado ou
apresentar ausência completa da comunicação verbal.
Ecolalia: repetição
de palavras ou frases de forma insistente, muitas vezes fora de contexto.
Dificuldade em iniciar ou
manter conversas: é possível apresentar desafios para começar ou sustentar
diálogos.
3- Comportamentos
repetitivos e restritivos:
Movimentos repetitivos:
incluem balançar o corpo, bater palmas ou agitar as mãos de maneira constante.
Apego rígido a rotinas:
resistência a mudanças na rotina diária, podendo causar grande desconforto
quando alterada.
Interesses restritos:
foco intenso em temas ou objetos específicos, como partes de brinquedos ou
assuntos peculiares.
4 - Sensibilidade sensorial
alterada:
Reações exageradas a
estímulos: sensibilidade aumentada a sons, luzes, texturas ou cheiros,
podendo resultar em reações intensas a estímulos sensoriais comuns.
5 - Dificuldades na
compreensão e uso da linguagem:
Interpretação literal:
difícil entendimento de expressões idiomáticas, sarcasmo ou humor, levando a
interpretações literais da linguagem.
Destaques:
70 milhões de pessoas no
mundo possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA), de acordo com estimativa da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
2,8% da população de
crianças de 8 anos norte-
-americanas, ou seja, 1 em cada 36, tinham
diagnóstico de autismo, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças
(CDC) dos Estados Unidos, em 2020.
48% foi o índice de
aumento de alunos matriculados com TEA no Brasil, entre 2022 e 2023, passando
de 429 mil para 636 mil, de acordo com o Censo Escolar 2023.
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