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Com apoio da mãe, jovem com TEA conclui curso técnico na Etec Trajano

Em meio à correria dos dias letivos, havia sempre uma figura sentada no rol de entrada da Etec Trajano Camargo, faça chuva ou faça sol. Rosinei Bernardes da Silva Tomé, 58 anos, moradora de Iracemápolis, acompanhava a filha Vithória da Silva Tomé, de 19 anos, todas as noites, durante um ano e meio. O que parecia simples rotina era, na verdade, o retrato de uma jornada de afeto, inclusão e superação. Rosinei não faltava um só dia: com sol forte ou em dias chuvosos, ela estava lá, firme, aguardando a filha — um gesto de amor que ia além do cuidado, era uma ponte essencial para que Vithória pudesse frequentar a escola com segurança, devido às suas limitações.

 

Vithória, aluna do curso técnico em Nutrição e Dietética, residente em Iracemápolis — cidade localizada a 15 km de Limeira — frequentou o curso no período noturno. Inicialmente, foi diagnosticada com deficiência intelectual e apresentava grandes dificuldades de socialização, comunicação e autonomia — não conseguia pegar ônibus sozinha, subir escadas ou mesmo abrir o caderno sem orientação. Além disso, trazia um histórico de trauma causado por uma queda em escada em outra escola, o que gerou medos profundos e barreiras emocionais ao chegar à Etec.

 

Foi aí que entrou em cena a agente inclusiva Daiane Regina de Oliveira Massaro, profissional que acompanhou cada passo de Vithória durante os três módulos do curso. Ao observar o comportamento da aluna, Daiane notou sinais de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, com apoio da equipe pedagógica, novos exames foram solicitados, confirmando o diagnóstico.Mais do que identificar a condição, Daiane se tornou o elo entre a escola e a confiança da aluna em si mesma.

 

Gradualmente, Vithória passou a subir as escadas com apoio, a copiar a matéria, a conversar, a participar das aulas — e, aos poucos, a se apresentar. “No segundo módulo, ela apresentou seminário com auxílio de uma folha de apoio. Eu preparava o material, orientava a postura, a fala e ficava por perto, encorajando”, conta a agente.

A evolução foi nítida. Vithória aprendeu a utilizar a calculadora, compreender os cálculos nutricionais e estruturar falas mais claras. Já no terceiro módulo, veio o maior desafio: o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). E Vithória surpreendeu. Sem precisar ler os slides, microfone em mãos, apresentou com segurança, foi aplaudida pela banca e elogiada por sua desenvoltura.

 

Tudo isso só foi possível graças a um tripé de apoio: a atuação técnica e humanizada de Daiane, o amor incondicional da mãe Rosinei e a força interior de Vithória. “Foi uma alegria imensa acompanhar esse processo. Ver a Vithória se transformando, vencendo medos, acreditando em si, foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida profissional”, afirma Daiane.

 

Agora, Vithória conclui sua formação técnica com dignidade e esperança. A história das três mulheres inspira e reafirma a importância da inclusão verdadeira, que vai muito além da sala de aula — ela começa com empatia, se fortalece com apoio familiar e floresce com profissionais que acreditam na capacidade de cada estudante.

 

E dona Rosinei, aquela mulher cujo silêncio se revela uma verdadeira poesia. Cada degrau daquela escada simboliza não só passos de uma jornada de superação, mas também a força daquela mulher que vê a vida através dos olhos da Vithória — uma mulher que não precisou ver para crer, pois é movida pelo amor. Vithória, que personifica seu próprio nome e que, ao conquistar a vitória de um curso concluído, representa a realização de tantas mulheres.

 

Essa “menina” alcançou um lugar que, academicamente, dona Rosinei talvez nunca tenha chegado. Mas a verdadeira poesia está aqui:“Mãe, eu cheguei onde você não pôde chegar, mas só estou aqui porque você me deu a melhor parte de si. Eu te honro quando transformo em algo incrível tudo aquilo que recebi de você.”

 

Legenda: Daiane, Rosinei e Vithória: uma história de superação, dedicação e inclusão

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