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Aos 76 anos, Dorinha é um exemplo de superação no atletismo

Edmar Ferreira

Para seus amigos, Dorinha. Para seus companheiros de corrida, Papaléguas. Enfim, vamos contar hoje a história da dona
E olha que além de lutar contra o cronômetro, ela tem um adversário bem mais complicado na vida: a baixa visão. Desde 2014, Dorinha tenta encarar o dia a dia com naturalidade, mas ela sofre de degeneração macular. Primeiro, perdeu a visão do olho esquerdo. Sete anos depois, foi a vez do direito. "Perdi o centro das retinas e enxergo tudo bem embaçado. Mas não parei. E vou continuar até quando Deus me der forças para treinar e competir".
Com apenas 1m48 e pesando 53 kg, essa "gigante" das pistas e ruas serve de exemplo para sua turma. É a mulher mais velha e mais elétrica. Acorda às 3h30 e logo às 5h já está na pista do Tiro de Guerra. Não falta um dia sequer. Treina com vontade e determinação. E depois, ainda tem pique para frequentar a Academia Guilherme Guido, onde faz fortalecimento de pernas.
Dorinha nasceu em Caruaru, no Pernambuco. Em 2004 veio a trabalho para Limeira e daqui não saiu mais. É a moradora mais ilustre do Parque Novo Mundo. "Parece até que nasci aqui, de tanto que gosto desta cidade", brincou. E o alto astral é seu ponto forte. O sorriso não sai do seu rosto em hipótese nenhuma, nem quando fala de sua deficiência.
Mudar de cidade também é sinônimo de saudade. Os olhos enchem de lágrimas quando fala da filha Rosana Costa Correia, que reside no Mato Grosso do Sul. Elas não se veem há quatro anos. E o mais dolorido ainda é que essa bisavó tem quatro netos e oito bisnetos, todos distantes.
Dorinha deu uma guinada na vida a partir do momento que vira sócia do Gran São João. Foi no clube que conheceu o professor Leandro Negrucci, o Bala. "Primeiro, entrei na natação. Depois, o Bala montou um grupo para iniciantes de corrida de rua. Topei na hora. Foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Eu sempre brinco que minha vida é dividida em duas partes, antes e depois que conheci o atletismo", frisou.
Dorinha disse que corria errado e que a partir do momento que passou a ser orientada por Negrucci, melhorou seu desempenho, corrigindo os movimentos de pernas e braços. Foram oito anos de parceria até receber o convite para fazer parte da equipe de José Carlos da Silva, o lendário Fumaça.
Dorinha não perde uma prova. Convidou, ela tá dentro, não importa onde. Já são mais de 100 medalhas conquistas - sua bolsa anda até pesada. Participa de tudo, desde as corridas de bairro de Fumaça até provas conhecidas como a Volta da Pampulha (18 km) e a São Silvestre (15 km).
Falando em São Silvestre, em 2023 ela participou pela segunda vez da corrida internacional. Na primeira vez, chegou em terceiro lugar na categoria 60+, isso aos 75 anos. No ano passado, já como PCD e precisando de um guia por conta da perda da visão, foi a 12ª colocada. Dorinha é presença certa também nos Jogos Regionais da Terceira Idade. Já na Corrida Integração de Campinas, ganhou sua primeira medalha com braile, que exibe com orgulho.
Provas de velocidade também fazem parte dos planos desta atleta. "Com 80 anos eu quero correr os 800 metros. Estou me preparando para isso. Quem sabe eu arrisque os 100m também", sorriu.
Dorinha concluiu nosso bate-papo dizendo que ama o que faz e que sua vida ganhou um novo sentido. "É bem melhor fazer atividade física do que ficar em casa vendo televisão. Isso é qualidade de vida minha gente. Me sinto jovem e cheia de disposição. Quero sempre mais. Para fazer o atletismo você não pode se preocupar com chuva ou frio. A disciplina é tudo. Muitos desistem no meio do caminho. Lamento mesmo. Uma coisa eu te falo, sou feliz até demais", completou.

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