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Da batalha de Pinhal à glória máxima: Inter campeã

Kina Mercuri

 

Hoje nossa historia é da Divisão Intermediária de 1978, (A-2 hoje) “a batalha de Pinhal” e o título paulista de 1986.

Sobre 1978, o campeonato teve várias fases, iniciando com dois grupos de 10 clubes. Os cinco melhores de cada grupo foram para a segunda fase nos chamados “Grupos dos Vencedores”. E mais dois grupos dos cinco piores classificados na 1ª fase, formando os “Grupos dos Perdedores, uma espécie de “repescagem”. Nestes grupos só o campeão estava garantido na fase final.


Na 1ª fase os 20 clubes foram divididos em dois grupos de 10 equipes, com jogos de ida e volta, dentro do grupo.

A Inter fez parte do Grupo B e terminou em 1º lugar, indo para a 2ª fase no Grupo I, junto com Ginásio Pinhalense, Santo André, Aliança e Taubaté. E novamente, terminou em 1º lugar, passando para fase final, com próprio Ginásio Pinhalense, mais Velo Clube e Catanduvense, que vieram do Grupo G (Vencedores) e os campeões dos Grupos dos “Perdedores” (H e J), São José e Corinthians de Presidente Prudente. O Independente não foi bem na 1ª fase e não se recuperou na tal “repescagem”.


Inicia- se a fase final, agora começa para valer a Intermediária. O campeão teria acesso direto à Divisão de Elite, chamada de Divisão Especial. O 2º colocado teria que disputar uma melhor de três com o penúltimo colocado do Campeonato Paulista Especial de 78 (Paulista de Jundiaí). Na 1ª rodada, a Inter vence o Velo, no Limeirão, em 12 de novembro, com gol de Ademir Melo. Já na 2ª rodada, o grande imbróglio do campeonato, que se arrastou nos Tribunais do TJD e do STJD, e que só foi resolvido em abril de 1979.


O jogo era em Pinhal e uma caravana levando mais de mil torcedores do Leão. Jogo quente no campo e nas arquibancadas. Pinhalense foi mais feliz no 1º tempo (único tempo, aliás), vencia por 2 a 0, com gols de Paulinho aos 17 e outro aos 42 minutos. A festa era dos Pinhalenses. As equipes, o árbitro Ulisses Tavares da Silva e seus auxiliares foram para os vestiários. Na volta, assistiu uma “confusão generalizada”. Torcedores na maioria da Inter, dentro de campo e uma parte do alambrado no chão.


O chefe do policiamento não dava garantia quanto a segurança. O que aconteceu? Por que se deu tudo isso? As matérias dos jornais da época eram um tanto confusas. Só quem esteve lá poderá relatar fielmente o ocorrido (se é que também não esteja “confuso”). Uma indagação que paira até hoje: se o time da casa vencia por 2 a 0, qual a razão que teria a torcida local provocar algo que levaria a uma interrupção da partida? E dentro de uma “lógica”, o TJD deveria remarcar (e, em data próxima) a continuação do jogo, no seu 2º tempo total, com o placar de 2 a 0.

E tanto a arbitragem como os jogadores os mesmos, enfim tudo que estava na súmula. E óbvio, portões fechados e total segurança no entorno. Porém, não aconteceu isto. Pelo contrário, se arrastou, com acusações e defesas, aqui e dali, até abril de 79. O Velo Clube, interessado direto, já que a vitória da Pinhalense dava a ELE o título.



As campanhas até esta decisão do Tribunal estavam assim: Velo: 10 jogos, 6 vitórias, 1 empate e 3 derrotas, total 13 pontos, com 15 gols pró e 10 contra, um saldo de 5 gols. Inter: 9 Jogos, 6 vitórias, 1 empate e 2 derrotas. Total 13 pontos, com 10 gols pró e 3 contra, um saldo de 3 gols. O que o Velo reclama? Se o jogo fosse jogado apenas o 2º tempo e em data próxima ao ocorrido, com a Pinhalense interessada na partida, “provavelmente” ela sairia vencedora e o Velo seria o campeão ao final de 10 rodadas. Conjecturas apenas, todavia, concretas, e quem poderá dizer o contrário? E com o jogo realizado, só em abril de 79, a Pinhalense já havia perdido seu técnico Ilzo Neri, que veio para a Inter, além de alguns jogadores que haviam saído.


Entraram em campo com 10 atletas, sendo alguns “amadores” dentro do limite permitido. Final do 1º tempo, Inter 2 a 0, torcida de Pinhal derrubou alambrado, desta vez, e fim de jogo. INTER Campeã! 


O Velo fez a melhor de três com Paulista e venceu, conseguindo seu o acesso. Problema, que na incerteza dos fatos, não contratou ninguém para iniciar o Paulistão e o descenso no mesmo ano foi “tragédia anunciada”. A chegada de alguns com campeonato em andamento, não deu “liga”. Há outros fatos não mencionados. Uma confusão em Catanduva no jogo do Velo. Outra em Presidente Prudente, sobre um suposto caso de ‘suborno” de um dirigente, que até a FOLHA fez matéria sobre o ocorrido em um Hotel da cidade, no jogo da Inter. É o nosso interior raiz!

 

Glória Máxima


Tudo foi mágico, tudo foi indescritível, tudo foi inacreditável, todavia tudo estava escrito na caminhada da “Laranja Caipira” (referência à Seleção Holandesa de 1974, a Laranja Mecânica). O Paulistão começa com a Inter tendo em seu elenco a base de 1985. Jogadores como o atacante João Luis, que passou a ser lateral-direito, “invenção” do professor José Carlos Fescina, já que havia chegado naquele ano para o ataque, não menos que o craque da Seleção Brasileira de 1982, Éder Aleixo.


No primeiro turno a Inter faz uma boa campanha, em 6º lugar, à frente de mais 14 clubes. O Santos foi o campeão deste turno e já garantido na semifinal. Lusa, Palmeiras, Juventus e Corinthians os que ficaram à frente do Leão. O São Paulo, que cedeu jogadores pra Seleção Brasileira e Dario Pereira para a Uruguaia, ficou só em 7º na classificação. Era o cartão de visita da Veterana. No 2º turno, os comandados de Pepe foram “triturando” os que vinham pela frente. Uma campanha espetacular. Foi campeã do returno. Em 19 jogos, fez 28 pontos, com 11 vitórias, uma vantagem de quatro pontos sobre o Palmeiras, o 2º colocado. De cartão de visita à realidade. Por ser campeão do returno, a Inter também já tinha carimbado a classificação para a semifinal.


A vaga dos outros dois semifinalistas se dava pela classificação geral. Palmeiras (47) e Corinthians (46) garantidos também. Se a Inter não fosse a campeã do returno, entraria na semi pela classificação geral, já que somou 49 pontos. Diferente disso, o Santos, foi campeão do 1º turno e “lanterna” no returno, somando apenas 39 pontos no geral, ficando atrás de quatro clubes. A Inter de quebra levou a “Taça dos Invictos” ao bater o Paulista, em Jundiaí, por 3 a 2, com um gol de Tato aos 44 minutos do 2º tempo, conseguindo seu 16º jogo sem perder, tirando do Santos, que havia conquistado 15 partidas em 1984. E ainda venceria o Guarani, no Limeirão, por 1 a 0, fechando com 17 jogos. Perdeu sua invencibilidade na derrota para o Timão na rodada seguinte.


Começam as semifinais e a Inter vai até à Vila Famosa. Bate o Santos por 2 x 0 (Kita e Gilberto Costa). No jogo da volta, Limeirão com 27 mil pessoas. Vitória leonina por 2 a 1, gols de João Batista e Kita, com Zé Sérgio descontando para o Peixe. Estava “carimbada” a vaga pra final inédita no Paulistão. No outro confronto, o Palmeiras eliminou o Corinthians. Com uma derrota de 1 a 0 e depois uma vitória também por 1 a 0, fazendo 2 a 0 na prorrogação. Era o Verdão em busca de um título Paulista que perseguia desde 1976, quando venceu o XV de Piracicaba por 1 x 0 (gol de Jorge Mendonça).


Tudo somado à derrota no Brasileiro de 78 para o Guarani. Era a senha. Um título para lavar a alma dos esmeraldinos. No dia 31 de agosto, domingo ensolarado, Morumbi marcando 16º, com 104 mil pessoas, sendo 100 mil de camisas verde empurrando seu time. Do lado de cá (o escriba que vos escreve, galista e são-paulino estava lá), a torcida leonina cheia de esperança. Um jogo morno e o empate em zero no final. Tudo ficou para quarta-feira.

Chegou o dia 3 de setembro, 21h30, com 78 mil pessoas. Os torcedores  viram Kita girar sobre Amarildo e chutar rasante no canto direito de Martorelli e em seguida, Denis, recuar mal para seu goleiro, e o esperto Tato, entra no meia da “besteira” do lateral, dribla o arqueiro alviverde e empurra para o fundo da rede. Placar 2 x 0.

Palmeiras vai atrás, Éder Aleixo agora contra seu ex time, cobra todos escanteios em cima de Silas, até que Amarildo acha a bola e o gol. Era o placar final: Inter 2 x 1.


Para quem não foi ao Morumbi (ainda este nome), com certeza ouviu no radinho na voz metálica de Edmundo Silva a narração e a emoção dos dois gols. INTER CAMPEÃ! 


Uma campanha irrepreensível, como diria o saudoso João Ferraz: Insofismável! Foram 38 jogos na 1ª fase, mais dois na semifinal e outros dois na final. E de acordo com o “Livro 100 anos da Inter” de Edmar Ferreira e o “Livro dos 125 anos de História da FPF”, o Leão fez 42 jogos, obtendo 21 vitórias, 14 empates e apenas 7 Derrotas. Marcou 59 gols (1,55 g/j) e sofreu 33. Com saldo de 26 gols. Foram 56 pontos (dois por vitória) num total de 84 possíveis, obtendo 66,6% de aproveitamento.



Os campeões de 1986

 

Silas - um goleiro das defesas impossíveis. Quando o torcedor falava dentro de si: Vixeee! Tomamos o gol, eis que surge o goleirão, não tão alto, mas tão bom e fazia a defesa improvável. João Luis – adaptado por Fescina na lateral. Marcava, apoiava, fazia o “overlap” com Tato e cruzamentos perfeitos para Kita. Defendia e atacava incansavelmente.

Juarez – o zagueiro clássico, que saía jogando com tal habilidade que causava calafrios na torcida.

Bolivar – Aquele “Xerifão”. Se é para jogar bonito, vamos lá. Se o adversário “engrossava”, ele já mostrava suas garras de gaúcho da gema. Chegava chegando como se diz na gíria do futebol.

Pecos – lateral firme na marcação, sério na hora do jogo. Atacava menos, já que a Inter explorava mais o lado direito. Sr Galina deu conta do recado.

Gilberto Costa – o canhão do Limeirão. O “Capita”, aqui é respeito, muita raça, vontade e suor.

Manguinha – jogador mais sereno, um verdadeiro operário da bola. Estava em todos lugares. Campeão com Guarani em 78, uma bela contratação, encaixou neste meio.

João Batista – meia clássico, fazedor de gols. Contribuiu demais para campanha vitoriosa.

Tato – irreverente. Rápido, insinuante, fazia a dobradinha com João Luis. Apavorou o Denis na final, era o famoso “X1”.

Kita – o homem gol. O homem dono da casinha. Foram 24 gols, artilheiro do campeonato.

Lê  Lucatto– o homem que o Pepe usava, principalmente jogos fora de casa, como o “meia água”, o 4º homem do meio-campo. Craque, tinha muita habilidade, “pescoço” peça importante do time.

Gilson Gênio – ponta, também titular desta equipe, dribles, cruzamentos, importunava a defesa adversária. Ponta, ponta na acepção da palavra.

E some se a isso: Carlos Silva, craque desde Fernandópolis e do XV de Jaú (o reserva de luxo). E também Gilcimar, o outro ponta rápido e insinuante como Tato. Quando não era um, era o outro na  linha ofensiva, que assustava os rivais. Ajudaram a fazer a história de 86.

Pepe – José Macia, o grande técnico vencedor. O Canhão da Vila Famosa, agora campeão inédito, o primeiro de um clube do Interior. Sempre reverencia quando aqui vem pra ser FELIZ!

Paulo Omar, Tonho, Alves, Vilson Cavalo, Donizetti, Marquinhos, Claudinei, Cleber, Ronaldo e Gatãozinho, também colaboraram com o elenco vencedor do título.
A comissão técnica ainda tinha: Pitanga (preparador físico), Bolão (massagista) e Fininho (preparador de goleiros).

E uma homenagem póstuma ao presidente/86, Vitório Marchesini, falecido recentemente.                        

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