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Nacionalistas israelenses gritam 'morte aos árabes' em marcha em Jerusalém

Nacionalistas israelenses passaram por bairros mulçumanos na Cidade Velha de Jerusalém gritando "morte aos árabes" durante a marcha anual que marca a conquista da Jerusalém Oriental por Israel.

Ônibus de turismo com jovens judeus ultranacionalistas alinharam-se próximos às entradas da Cidade Velha, trazendo centenas de pessoas de fora de Jerusalém, inclusive de assentamentos na Cisjordânia ocupada por Israel.

Comerciantes palestinos fecharam as lojas mais cedo e a polícia fez um cordão de isolamento antes da marcha, que às vezes se transforma em uma procissão violenta de judeus ultranacionalistas. Em certo momento, um policial ergueu os braços em comemoração e abraçou um manifestante.

A marcha celebra o Dia de Jerusalém, data da captura da parte oriental que inclui a Cidade Velha e seus locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, na guerra de 1967.

No centro do conflito entre israelenses e palestinos, a disputa por Jerusalém é causa frequente de confrontos. Os dois lados veem a cidade como parte essencial de suas identidades nacionais e religiosas.

Israel considera toda Jerusalém sua capital eterna e indivisível, mas a anexação da parte oriental da cidade não é reconhecida internacionalmente. Os palestinos desejam que Jerusalém Oriental seja a capital de um futuro Estado independente.

Na marcha do ano passado - a primeira desde o início da guerra em Gaza - israelenses ultranacionalistas atacaram um jornalista palestino na Cidade Velha. Quatro anos atrás, a marcha contribuiu para o início de uma guerra de 11 dias em Gaza.

Este ano, o Dia de Jerusalém ocorre durante a nova ofensiva israelense na Faixa de Gaza. Os bombardeios desta segunda-feira atingiram uma escala transformada em abrigo para deslocados e deixaram mais de 50 mortos.

As lojas de palestinos em Jerusalém foram cobertas com adesivos que diziam "Gaza é nossa". Em outra provocação, um manifestante gritou para uma mulher palestina: "Essa é a nossa casa, esse é o nosso Estado". Ao que ela respondeu, em hebraico, "vão embora daqui!"

A polícia, que chamou a marcha de "Dança das Bandeiras", disse que prendeu várias pessoas e "agiu rapidamente para evitar violência, confrontos e provocações".

Invasão ao complexo da ONU em Jerusalém

Horas antes, um pequeno grupo de manifestantes invadiu um complexo pertencente à agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) em Jerusalém Oriental.

O coordenador da UNRWA na Cisjordânia, Roland Friedrich, relatou que eles escalaram o portal principal na frente de policiais israelenses. A polícia não comentou o incidente.

O grupo exibiu uma faixa pedindo que o complexo fosse transformado em assentamento israelense. O ministro da Habitação de Israel afirmou no ano passado que havia dado ordens para "avaliar como devolver a área ao Estado de Israel e usá-la para habitação".

Entre os manifestantes estava a deputada Yulia Malinovsky, uma das autoras da lei que baniu a agência da ONU em Israel. O governo israelense acusa a agência - maior fornecedora de ajuda humanitária em Gaza - de ter sido infiltrada pelo Hamas, alegações que a ONU nega.

O complexo permanece praticamente vazio desde o fim de janeiro, quando a UNRWA ordenou que seus funcionários evitassem trabalhar lá por motivos de segurança. A ONU afirma que o local não foi abandonado e continua protegido por leis internacionais.

Entraves nas negociações para o cessar-fogo

Falando de um parque arqueológico em bairro palestino da Jerusalém Oriental, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu prometeu "preservar uma Jerusalém unificada, inteira, e a soberania de Israel". Ele afirmou que o governo está incentivando embaixadas estrangeiras a reconhecerem a cidade como capital israelense.

Netanyahu prometeu continuar com sua "missão" para trazer de volta os reféns mantidos em cativeiro pelo Hamas, "os vivos e os mortos". Contudo, as negociações para o acordo de cessar-fogo e liberação de reféns seguem travadas.

Uma fonte do Hamas disse que o grupo terrorista teria aceitado a proposta do enviado dos EUA, Steve Witkoff, mas a informação foi desmentida pelo americano.

O site Axios reportou que a proposta citada pelo Hamas difere da última oferta que havia sido apresentada por Witkoff no número de reféns vivos e mortos que deveriam ser liberados durante o cessar-fogo.

Pela última proposta dos Estados Unidos, o Hamas deveria entregar 10 reféns vivos e os corpos de 19 reféns mortos durante a trégua, que seria de 45 a 60 dias. Em troca, Israel soltaria prisioneiros palestinos.

O enviado americano disse que Israel concordaria com a proposta e que o plano levaria a negociações substanciais para um cessar-fogo permanente. "Esse acordo está na mesa. O Hamas deveria aceitá-lo", disse Steve Witkoff ao Axios.

Por outro lado, o Hamas afirmou que o acordo incluía o cessar-fogo de 70 dias em troca da libertação de 10 reféns em duas partes. O grupo sinalizou que "durante a trégua começariam negociações sobre um cessar-fogo permanente com garantias americanas".

O enviado dos EUA negou que uma nova proposta tenha sido apresentada ao Hamas.

Uma autoridade palestina disse ao Times of Israel que Witkoff teria voltado atrás no entendimento sobre o acordo. Segundo o relato, ele teria informado ao Hamas que aceitava as alterações feitas pelo grupo em sua proposta de cessar-fogo. Depois, teria mudado de ideia e afirmado que a versão do Hamas não era aceitável.

O último cessar-fogo fracassou por discordâncias sobre como avançar para a segunda fase do acordo, que previa o fim do guerra na Faixa de Gaza em troca pelo restante dos reféns israelenses. Israel retomou as operações no território palestino em 18 de março.

Desde o dia 2 de março, o governo israelense bloqueava toda ajuda humanitária à Faixa de Gaza para forçar concessões do Hamas. A proibição continuou em vigor por 11 semanas até que a assistência foi parcialmente retomada na semana passada diante dos alertas para a fome entre os palestinos.

Caminhões de ajuda começaram a chegar a Gaza, mas organizações internacionais tem feito apelos para que mais assistência entre no território palestino e mais rápido.

Nesta segunda-feira, um grupo apoio pelos Estados Unidos disse ter aberto os primeiros pontos de distribuição de ajuda humanitária sob o novo sistema que vinha sendo anunciado pelo governo Binyamin Netanyahu.

A Gaza Humanitarian Foundation informou que seus centros receberam os primeiros caminhões carregados de alimentos e que a distribuição para os palestinos havia começado. Mas sem detalhar o número de caminhões, a localização dos centros ou ou como as pessoas beneficiadas foram selecionadas.

O grupo assumiu a responsabilidade pela entrega da ajuda, apesar das objeções da ONU, que é crítica ao novo sistema apoiado por Israel e EUA. As organizações internacionais afirmam que Israel está tentando usar alimentos como arma e que o plano forçaria o deslocamento de palestinos em busca de ajuda.

A fundação começou a operar um dia após a renúncia de seu diretor-executivo. O americano Jake Wood disse ter ficado claro que a Gaza Humanitarian Foundation não teria permissão para operar de forma independente.

Não está claro quem está financiando a organização, composta por ex-funcionários de agências humanitárias, do governo e das forças armadas.

A Gaza Humanitarian Foundation declarou que seus pontos de distribuição serão protegidos por empresas de segurança privada e que a ajuda chegará a 1 milhão de palestinos - cerca de metade da população de Gaza - até o final da semana. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)



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