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Hapvida é acusada de pressão a médicos para prescrição de ‘kit Covid’ em Limeira

A edição do Jornal Nacional da última segunda-feira, 04, trouxe com exclusividade a denúncia de médicos que trabalharam na operadora de planos de saúde Hapvida, onde acusam o grupo de pressionar os profissionais a receitarem o “kit Covid”, medicamentos ineficazes contra a doença, como Cloroquina e Ivermectina.

A Medical foi comprado pelo grupo em 2019 e a Hapvida assumiu oficialmente a gestão do hospital em 2020 (confira matéria abaixo).

Segundo a reportagem, em um áudio enviado a médicos da Medical, o coordenador da unidade cobrava a prescrição desses medicamentos. “Utilizar aí o tratamento precoce conforme preconizado aí pelo Departamento e Coordenação Nacional de Urgência e Emergência e adesão ao protocolo de Covid”, conforme publicado pela emissora.

As dúvidas sobre esse tipo de procedimento adotado começaram após a CPI da Pandemia no Senado Federal passar a investigar a Hapvida por conta da pressão pró-tratamento precoce e diversas reportagens mostrarem que a intimidação da coordenação sobre os médicos para essa prescrição era frequente.

 

Demissões

Em entrevista ao noticiário, uma médica que não quis se identificar afirmou que foi demitida por ter se recusado a prescrever cloroquina aos pacientes. “Todos os dias era: 'Bom dia, lembrando do protocolo Covid'. 'Boa tarde, lembrando da aderência ao protocolo Covid'. Uma vez, vai chamar atenção, na segunda você vai tomar uma advertência, e na terceira você está fora”, contou a médica em relato reproduzido no site oficial do JN.

Um outro médico que trabalhou em um hospital da Hapvida em Fortaleza, sede da empresa, alegou que também foi demitido em maio do ano passado por recusa à prescrever o tratamento precoce. “Pelo menos eu recebi quatro visitas em consultórios durante os plantões em que foi orientado que deveria seguir o protocolo da instituição, pois fazia parte do tratamento preconizado pelo plano Hapvida a prescrição de cloroquina”, diz o médico F. N.

O Ministério Público do Ceará abriu um procedimento investigatório após o médico denunciar e encaminhar as mensagens recebidas. Em uma delas, dizia que a “lista dos colegas que não prescreveram já se encontra com você. Discutir com cada colega o motivo pelo qual não houve prescrição. Urgente”.

Em outra mensagem repassada aos promotores, há o questionamento de um superior imediato ao médico sobre a prescrição de cloroquina ser determinante para permanência na empresa. “É protocolo da instituição amigo, devemos seguir”, foi a resposta obtida. Quando alegou ter autonomia para decidir o que era mais adequado, recebeu horas mais tarde uma nova mensagem o avisando que havia sido demitido, conforme o JN.

 


 

Em 2019, cooperativa foi vendida por R$ 294 milhões

No final de 2019, a operadora adquiriu 100% do Hospital Medical e a incorporação efetiva se deu em novembro de 2020. O valor da aquisição da cooperativa  que envolve as cidades de Limeira, Cordeirópolis e Iracemápolis, foi de R$ 294 milhões, pagos à vista.

Na época, a operação fez parte dos planos de expansão da Hapvida no interior paulista: em 2018, já havia comprado a São Francisco, operadora que também atua no estado, por R$ 5 bilhões. Ainda em 2019, a Hapvida fez outras oito novas compras em todo país, totalizando mais de R$ 5,8 bilhões de investimentos.

Com isso, o Sistema Hapvida passou a contrar com mais de 6 milhões de clientes e 15 mil médicos, atuando em 47 hospitais, 199 clínicas médicas, 47 prontos atendimentos e 172 centros de diagnóstico por imagem e coleta laboratorial, segundo informações obtidas no site oficial da empresa. Ao todo, são Atua om mais de 37 mil colaboradores diretos envolvidos.


 

Convênio para manutenção da URC chegou a ter participação da Medical

Em maio de 2020, a Prefeitura de Limeira assinou um convênio com os hospitais Humanitária, Medical, Santa casa e Unimed, para instalação e manutenção da Unidade Referência Coronavírus na cidade, instalada no Jardim Nova Itália.

Dentre as cláusulas do convênio, existia a previsão da cessão de equipamentos para os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e também de profissionais para o atendimento ambulatorial.

A Medical ficou responsável, de acordo com o convênio assinado, pelo empréstimo do maior número de profissionais dentre as entidades envolvidas. 

Na primeira assinatura do convênio, o valor global era de R$ 4,416 milhões válido até setembro de 2020. Após esse prazo, o grupo HapVida assumiu totalmente a coordenação da Medical e o convênio foi desfeito, segundo informações oficiais repassadas pela entidade à reportagem da Gazeta.

No mesmo período, um termo de aditamento no valor de R$ 8,299 milhões prorrogou tanto o prazo quanto o valor até dezembro do ano passado, segundo o Portal da Transparência.

Este ano, foram ainda mais dois aditamentos, nos valores de R$ 13,1 milhões em janeiro e R$ 24,2 milhões em maio. Em 16 meses, o convênio consumiu um total de R$ R$45,599 milhões.

O ambulatório teve suas atividades encerradas em agosto e a unidade de referência no final de setembro, após baixa demanda de atendimento e internações. Foram mais de 2,7 mil internações entre abril de 2020 e setembro de 2021, segundo fontes oficiais.


 

Hospital diz que hoje “não sugere o uso por não haver comprovação de efetividade”

Em nota oficial enviada à reportagem da Gazeta, o hospital Medical declarou que a fase inicial da pandemia foi marcada por espanto e incerteza em todo o mundo, principalmente quanto à existência de vacinas ou medicamentos que pudessem tratar a doença.

“No passado, havia um entendimento de que a hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes. No melhor intuito de oferecer todas as possibilidades aos nossos usuários, houve uma adesão relevante da nossa rede, que nunca correspondeu à maioria das prescrições”.

         Segundo a operadora, nas ocasiões em que o médico acreditava que a hidroxicloroquina poderia ter eficácia, sua definição ocorria sempre durante consulta, de comum acordo entre médico e paciente.

“Ainda assim, há meses, não se observa a prescrição dessa medicação nas nossas unidades. A adoção da hidroxicloroquina foi sendo reduzida de forma constante e acentuada. Hoje a instituição não sugere o uso desse medicamento, por não haver comprovação científica de sua efetividade. Mas segue respeitando a autonomia e a soberania médica para determinar as melhores práticas para cada caso, de acordo com cada paciente”.

A nota encerra dizendo que o grupo Hapvida acredita na ciência. “Desde o primeiro momento, defende e promove a vacinação, o uso de máscaras e as práticas de distanciamento social. A organização agradece ao empenho de seus mais de 67 mil profissionais que continuam lutando no enfrentamento dessa pandemia e reforça a todos os brasileiros seu propósito de servi-los com medicina de alta qualidade de maneira acessível”.


 

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