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Com mais adeptos, comércio investe em cardápios vegetarianos

Sem carne e sem sofrimento animal

A mudança no perfil de consumo da população brasileira está transformando o mercado alimentício nos últimos anos. O estudo, encomendado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) revela que um terço dos brasileiros já escolhe opções veganas nos cardápios de restaurantes e lanchonetes. Além disso, 46% dos brasileiros já deixam de comer carne, por vontade própria, pelo menos uma vez na semana.

Apesar da definição do vegetarianismo excluir qualquer produto de origem animal, como ovos, leite e mel, o termo ficou mais conhecido entre os brasileiros que diferenciam o vegano (como a restrição extrema de produtos e derivados) e o vegetariano (que adota produtos derivados). O veganismo é conhecido como um estilo de vida que elimina não só a alimentação, mas vestuários, cosméticos, remédios e outras esferas do consumo. Já o flexitarianismo é um estilo em que se reduz o consumo de carne.

A SVB explica que os principais tipos de vegetarianismo são: ovolactovegetarianismo (utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação), lactovegetarianismo (utiliza leite e laticínios na sua alimentação), ovovegetarianismo (utiliza ovos na sua alimentação) e o vegetarianismo estrito (não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação), porém, os termos ainda são poucos utilizados.

Segunda sem carne é opção para iniciantes

“O que acontece é que, além da parcela vegetariana da população, cresce muito rapidamente a parcela que procura reduzir o seu consumo de carnes e derivados. Em um, dois, três ou vários dias por semana, os brasileiros têm optado por fazer refeições vegetarianas ou veganas”, observa Ricardo Laurino, presidente da SVB.

Ele avalia que uma parte desse universo (de 46% da população, segundo o IPEC) são os milhões de adeptos da ‘Segunda Sem Carne (SSC)’, movimento que existe no Brasil desde 2009 e que convida as pessoas a trocar, pelo menos uma vez por semana, a proteína animal pela proteína vegetal.

O movimento é conhecido mundialmente pelo seu embaixador Paul McCartney, mas o Brasil é reconhecido por ter “a maior SSC do mundo” - presente em refeitórios corporativos, escolas particulares e públicas, restaurantes e outras organizações, e tendo servido mais de 300 milhões de refeições com fontes vegetais de proteína desde o seu lançamento. 

 

Aumenta oferta em restaurantes de Limeira

Embora ainda exista muita demanda não atendida, a oferta de restaurantes nos últimos anos vem aumentando rapidamente. Um mapa da Sociedade Vegetariana Brasileira mostra milhares de endereços que já oferecem boas opções veganas (www.ondetemopcaovegana.com.br). Batizado de ‘Onde Tem Opção Vegana’, o recurso reúne mais de 3,2 mil estabelecimentos no Brasil.

Em Limeira, o primeiro restaurante vegano, Soul Kitchen oferece desde almoço self service à opções delivery. Fundado em 2016, o estabelecimento trabalha com kit para festas (churrasco, bolos, esfihas, kibes e pastéis), sobremesas e opções congeladas. A proprietária Adriana Rodrigues conta que é uma das principais fornecedoras de produtos para restaurantes da cidade. “Nossa linha de congelados atende várias hamburguerias e bares, é uma demanda que vem aumentando nos últimos anos”, disse.

Segundo ela, além dos adeptos ao veganismo e vegetarianismo, o restaurante também atende outros públicos. “Nossa maior clientela hoje, por incrível que pareça, é de pessoas em busca de uma alimentação saudável ou tolerantes a lactose e a glúten. Com a pandemia, muita gente optou pelo delivery, devido a quarentena, por isso estamos sempre inovando no cardápio”, disse. 

Em restaurantes que se adaptaram, a Hamburgueria Stout já oferece duas opções no cardápio. O combo vegetariano vem chamando a atenção dos clientes. O lanche é feito de hambúrguer de grão de bico com legumes, queijo minas padrão, cebola roxa, tomate, picles, maionese de limão siciliano e alface americana. Servido no pão de fubá. Outra opção é o Futuro Burger, que é hambúrguer de plantas que propõe o gosto e textura de carne e é feito de proteína de ervilha, proteína isolada de soja e de grão-de-bico. Segundo os proprietários, a procura vem sendo positiva.

Na Cozinha da Família, há 8 anos, a chef Patty Soares enfatiza que sempre trabalhou com opções vegetarianas e veganas. “Costumo destacar que temos um cardápio inclusivo, assim agregamos a todos os tipos de público, principalmente na própria família. É importante oferecer opções que atraia todo o tipo de restrição, mas que seja comida de verdade”, afirma.

A TripAdvisor separou outros restaurantes que oferecem o cardápio vegetariano como: Rhais, Macaco Verde Vegan, Rayo de Sol Culinária Veg, Nosso Boteko, Riquezas do Solo, Old House Vegan Food, Recanto Árabe Limeira, Espaço Vida Saudável, Stahl Haus - Café & Restaurante entre outros.

Vegetarianos relatam experiências e expansão no cardápio

A arquiteta Patrícia Mine é vegetariana e relata que nos últimos anos, o mercado tem oferecido mais opções no cardápio, porém os preços ainda não são acessíveis. “Em bares e restaurantes, já consigo encontrar hambúrgueres a base de plantas, cogumelos, grão de bico e soja. São os mais comuns. No mercado, algumas redes já oferecem congelados e em segmentos especializados consigo encontrar carne de jaca, por exemplo, mas os produtos são caros, até o triplo do valor de um produto a base de carne”, afirma.

Ela conta que os desafios são diários. “Além do próprio preconceito que já enfrentei com amigos e familiares, em muitos estabelecimentos, meu pedido não foi respeitado. As vezes preciso fiscalizar e é frustrante, não é fácil, mas vale a pena pela causa social e ambiental. Não precisamos causar nenhum tipo de sofrimento aos animais para se alimentar bem”, afirma. E relata. “No começo foi bem difícil, pois não gostava de legumes, mas aprendi a comer e a apreciar. Com o tempo, receitas e produtos cada vez mais atrativos, incorporei esse estilo. Hoje aprendi a lidar com a retaliação social, mas também vejo muito apoio com que eu convivo”, destaca.

Bruna Bosqueiro é adepta há três anos. Ela conta que o processo deu início nas aulas de yoga. “No momento que tomei consciência do sofrimento dos animais não consegui mais digerir carne. Passei muito mal, meu corpo reagiu de uma forma avassaladora. Desde então me adaptei a outros alimentos. Hoje, tanto os restaurantes, quanto hamburguerias já oferecem mais opções no cardápio em Limeira, mas ainda existe um certo tipo de receio. É um processo que precisa ser melhorado e principalmente respeitado”, disse.

Os ‘fiscais de proteína e B12’ também foi um desafio para a estudante Maria Eduarda. “Mas, nem peixe?”, é o que ela sempre ouve quando relata sua transição ao vegetarianismo. “As pessoas acabam se preocupando mais com a sua alimentação, do que com a própria nutrição diária de vitaminas”, desabafa. Ela afirma que foi influenciada por documentários, mídias sociais e pela irmã que optou pelo flexitarianismo. “Também fiz acompanhamento nutricional e faço exames periódicos. Hoje cuido mais da minha saúde e já vejo uma mudança no humor, na pele e na consciência. Espero também influenciar outras pessoas”, afirma.  

 

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