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Pneumologista alerta sobre os riscos do uso do cigarro eletrônico

A proposta de substituir o cigarro tradicional pelo eletrônico preocupa especialistas. O uso do novo dispositivo tem avançado, notadamente, entre os consumidores mais jovens. A presença de menor quantidade de substâncias prejudiciais à saúde do que o tradicional tem gerado debates. O médico João Carlos Almeida, pneumologista do Sistema Hapvida em Limeira (SP), chama a atenção para o fato de os estudos ainda não terem avançado quanto ao conteúdo presente neste novo tipo de cigarro. Os riscos vão além das doenças respiratórias, afetando também coração, cérebro e gengiva. Veja a avaliação do médico.

Doutor, o que sabemos a respeito do cigarro eletrônico?

Dr. João Carlos Almeida – Os cigarros eletrônicos aquecem a nicotina e outras substâncias químicas, para criar um aerossol que o usuário inala. O cigarro comum contém cerca de sete mil substâncias químicas, muitas delas tóxicas. E o cigarro eletrônico? Na verdade, não sabemos exatamente quais substâncias estão presentes nos cigarros eletrônicos, mas, não há dúvida que usá-los expõe a pessoa a menos substâncias que o cigarro tradicional.

Pode-se, então, dizer que o cigarro eletrônico é seguro?

Dr. João Carlos – Não! Há relatos de surtos de lesões pulmonares e mortes associados com o uso do cigarro eletrônico. Por exemplo, em fevereiro de 2020, o CDC americano, que é equivalente a nossa Anvisa, confirmou 2.807 casos de doença pulmonar associada ao uso do cigarro eletrônico e 68 mortes atribuídas a ele. Estes casos foram mais frequentes entre pessoas que modificaram o dispositivo ou inalaram produtos contendo THC (tetra-hidrocarbinol), que é o principal componente da planta da maconha, sendo responsável por seus efeitos alucinógenos.

Os efeitos nocivos estão restritos às doenças respiratórias?

 Dr. João Carlos – Pesquisas sugerem que o uso do cigarro eletrônico tem sido ligado à doenças pulmonares, cardíacas, cerebrais e gengivais. A nicotina é altamente capaz de causar dependência, eleva a pressão sanguínea e libera adrenalina que aumenta a frequência cardíaca e a probabilidade de um ataque cardíaco. A exposição a toda uma gama de substâncias químicas, em parte desconhecidas, ainda, provavelmente, não é segura.

O usuário pode se tornar um dependente deste tipo de cigarro?

Dr. João Carlos – O uso do cigarro eletrônico causa tanta dependência quanto o cigarro comum, pois ambos contêm nicotina, que pode causar dependência tanto quanto a heroína e a cocaína. Há ainda um agravante: o usuário pode adquirir cartuchos extrafortes que têm uma concentração ainda maior de nicotina. Também surgem perguntas, como: "eu posso migrar do cigarro comum para o eletrônico como meio de parar de fumar?" O cigarro eletrônico não é a melhor ajuda para parar de fumar. Um estudo recente mostrou que a maioria das pessoas que pretendeu usar o cigarro eletrônico para se libertar da dependência à nicotina continuou a fumar cigarro comum e cigarro eletrônico. Para quem deseja deixar de fumar, há estratégias eficientes que incluem suporte psicológico e medicamentos e que visam reduzir os sintomas de abstinência, o que pode ser obtido através de profissional médico.

Como tem sido o impacto nos grupos de usuários?

Dr. João Carlos – É preocupante que, entre os jovens, os cigarros eletrônicos possam se tornar mais populares do que os cigarros comuns. Por exemplo, mais de dois milhões de estudantes de nível fundamental e médio dos Estados Unidos revelaram que experimentaram cigarros eletrônicos, com mais de oito em 10 deles usando cigarros eletrônicos com aroma. Outra preocupação é o fato de que pessoas que nunca fumaram, especialmente jovens, tenham se tornado dependentes de nicotina através do cigarro eletrônico.

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