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Dia do orgulho LGBTQIA+: “nossa bandeira jamais pediu por privilégios, apenas respeito”

No mês em que se celebra o Orgulho LGBTQIA+, o dia 28 de junho tem como objetivo dar visibilidade e destacar a ocupação de espaços e a necessidade de combater a LGBTfobia. A sigla que significa Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Intersexo, Assexual e o + de outras identidades de gênero e orientações sexuais tem em seu movimento civil e social a busca de defender a aceitação das pessoas representadas por esses termos na sociedade, além do respeito integral aos direitos dessas pessoas. Maycon Marabez tem 33 anos, é limeirense e servidor público. O estudante de Pedagogia é militante da causa LGBTQIA + desde os 20 anos e atualmente é presidente da Adlim (Associação da Diversidade de Limeira) que foi fundada no dia 7 de setembro de 2017. A organização comunitária nasceu com objetivo de trazer de volta eventos com temas de políticas públicas para a comunidade LGBT, além de informações sobre DST AIDS e conhecimentos sobre o mundo Pride.   

 “No início era apenas voluntário do CAD (Centro de Apoio a Diversidade) e na época a comando do Laércio  Baraldi e juntamente com o Jaime Ferreira (atual presidente do Coletivo Sobreviver) uma outra instituição que  faz um trabalho extremamente necessário para população LGBTQIA  e a vereadora Isabelly Carvalho na época servidora pública, resolvi criar a Adlim. Desde então estamos na luta enfrentado tudo e todos parar garantir igualdade social ,e principalmente respeito a população LGBTQIA+ da cidade de Limeira”, conta.

O que você acha essencial destacar na luta pelos direitos LGBTQIA+?

O progresso que tivemos nos últimos 40 anos, sendo interessante destacar o fato de que em 17 de maio de 1990, há mais de 30 anos, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), e em 2011 quando o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou a união estável homoafetiva, evoluindo o que em 1995 a então deputada federal Marta Suplicy apresentou que seria o PL 1.151 que na época propunha a criação da Parceria Civil Registrada, assegurando os direitos dos homossexuais, porem o projeto não foi aprovado na Câmara dos Deputados, e só então em 2000 que o Instituto Nacional de Previdência Social estabelece benefícios previdenciários todo aquele que se entende como homossexual. A decisão foi um verdadeiro marco para a comunidade LGBTQIAP+ brasileira. Além disso, o Conselho Nacional de Justiça determina que cartórios não podem rejeitar a celebração de casamentos homoafetivos. Baseado nesses dois exemplos, digo que o importante sempre foi lutar por direitos iguais a todos com muito respeito.

Este ano, a Parada LGBT+ tratou sobre o voto consciente e sobre representatividade. É importante eleger representantes que lutem pela causa?

Sem sombra de dúvidas, isso faz parte da nossa luta diária: colocar pessoas no poder que nos defendam para poderem lutar por nossos direitos como qualquer cidadão em lugares que possamos ser ouvidos. Existe toda uma militância nas redes sociais, nas ruas, na TV, mas é importante termos pessoas em câmaras para sermos ouvidos em todos os lugares que possamos estar e pedir por igualdade e respeito, afinal pagamos os mesmos impostos, e merecemos sermos tratados de maneira igual a todos. Às vezes a falta de apoio da classe política a nossa comunidade e nossas necessidades aparenta desdém somente por sermos quem realmente somos, friso aqui que nossa bandeira jamais pediu por privilégios, apenas respeito.

Em Limeira, quais os pontos de políticas públicas que podem ser melhorados para a diversidade?

Na verdade, em Limeira temos que começar do zero, infelizmente estamos escassos na questão políticas públicas, atualmente contamos com o apoio da vereadora Isabelly Carvalho em nossa luta para colocar um Conselho Municipal LGBTQIAP+ e construir outros caminhos para fazermos o que é necessário ser feito.

Como é o trabalho da Adlim? Quais as ações programadas para este ano?

O foco da Adlim é a realização da Parada do Orgulho LGBTQIAP+ da cidade, e nós também fazemos várias outras atividades na cidade que envolvendo o esporte, a cultura e o entretenimento para toda a população, sendo LGBTQIAP+ ou não, e querer apoiar o movimento.

Nossa cidade elegeu a primeira vereadora trans na última eleição, é importante essa representação na Câmara?

É de extrema importância essa cadeira para o movimento, assim podemos exigir do legislativo, políticas públicas em nossa cidade com mais força sabendo que a nossa voz será ouvida na política, por uma de nós. É uma luta bastante difícil mesmo com a vereadora lá, até agora nenhum um projeto nosso foi aceito na casa, não é novidade já que vivemos numa cidade bastante conservadora e de certo modo arcaica em questão a isto, mas os movimentos são feitos para enfrentar e lutar para que essa população entenda que nós existimos e temos direitos como eles!

O Brasil é um dos países mais perigosos para a comunidade LGBT+. Já se sentiu ameaçado?

Não, e me sinto um privilegiado por isso, sempre fui bem aceito pela minha família, mãe e irmãos, tive um problema com meu pai, foi passageiro, mas acredito que depois ele entendeu. Hoje em dia está tudo ótimo, nós somos sete irmãos sendo três gays e minha mãe se sente orgulhosa de todos, ela não faz diferença de nenhum de nós por questão de sexualidade ou orientação sexual. É triste saber que essa não é a realidade de todo LGBTQIAP+ no Brasil. No ano passado foram mortas mais de 300 pessoas da nossa comunidade, sendo uma pessoa a cada 29 horas, é muito triste que pessoas sejam mortas por LGBTfobia e, os números vêm aumentando cada dia, por isso eu volto a repetir: é essencial que nós LGBTQIAP+ nos unamos para lutar contra a LGBTfobia e qualquer outro tipo de preconceito que exista em nossa sociedade.

E o que temos a celebrar neste mês de orgulho LGBT+?

Temos que celebrar as vitórias que tivemos em todos esses 53 anos desde a revolta Stonewall que foi onde tudo começou, tem até um filme que conta como foi esse dia histórico na luta contra o preconceito.

Em muitos casos, o preconceito já começa na família, como foi para você?

Eu tive um problema com meu pai, porém foi tudo "resolvido". Ele aceitava, na verdade, posso dizer que ele respeitava, mas aceitar acredito que não. Com o restante da família sempre foi maravilhoso, o respeito com que me tratam e também a meus outros dois irmãos, eu penso sempre que todo LGBTQIAP+ necessita de uma família acolhedora como a minha, pois quando se tem esse carinho em casa, você se vê forte para lutar e poder enfrentar essa sociedade que tanto nos discrimina.

O que diria as pessoas que ainda não se sentem seguras para assumirem sua sexualidade?

Eu diria: Tudo no seu tempo, muitas pessoas são “tiradas do armário” (expressão que usamos) e deve ser muito ruim perder o controle de algo que só você tinha o direito de fazer, da forma e quando se sentisse preparado. Tenho conhecidos que tiveram que enfrentar isso e os relatos são bem tristes, mas os relatos de quando uma pessoa se assume porque sente que é o momento é bastante gratificante. Você coloca para fora tudo aquilo que sente desde criança, o medo de ser julgado, pois cresce ouvindo que ser quem você é está errado.

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