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Direita x Esquerda: o que defende cada ideologia

Com as eleições deste ano, os embates entre diferentes ideologias políticas voltam a ganhar força. Direita, Esquerda, Liberalismo e Conservadorismo são alguns dos temas em alta na imprensa e nas rodas de conversa. Mas será que sabemos exatamente o que cada um destes movimentos defende e como estas crenças aparecem nas propostas e programas de governo dos candidatos?

Uma pesquisa da Ipec (ex-Ibope) divulgada no último dia 12, apontou que 37% dos eleitores brasileiros se identificam como de centro, 35% com a direita e 26% com a esquerda. O Ipec pediu para que os eleitores se classificassem de 0 (completamente de esquerda) a 10 (completamente de direita). Os que se identificam completamente com a direita são 23% e os que se identificam completamente com a esquerda 15%.

Em entrevista para a Gazeta de Limeira, a cientista política Juliana Fratini e o jornalista e professor pós-graduado em Filosofia, Clayson Felizola esclareceram pontos primordiais sobre o que cada ideologia representa e como o eleitor pode identificá-las nestas eleições. Juliana acabou de lançar o livro "Ideologia: Uma Para Viver" que reúne explicações didáticas sobre as linhas de pensamento político adotadas na atualidade.

Confira a entrevista:

O que caracteriza a direita?

Juliana: Em linhas gerais, como um agrupamento político que possui valores tradicionais em maior evidência, como a defesa de instituições como a família tradicional constituída por homem e mulher, a defesa de valores cristãos, a manutenção da ordem vertical (uma hierarquia vertical) e a manutenção do status quo social. 

Realmente existe a extrema-direita no Brasil?

Clayson: Sim, e ela atua no sentido de "demonizar" e criminalizar a esquerda como um todo, bem como liberais democratas que defendem as instituições políticas. Este pensamento, por estar oposto à ideia democrática de ceder espaço a todas as formas variadas de pensamento na política, se encontra espectro da extrema direita. 

E o que define a esquerda?

Juliana: A esquerda pode ser definida, basicamente, por correntes de pensamento que são contra qualquer forma de opressão, prezam pela igualdade entre os sujeitos e a justiça social. Há correntes que, em seus primórdios, discutiam o fim da propriedade privada, contudo essa mesma discussão não encontra bases na contemporaneidade enquanto pauta factível. 

Como saber em que posição o meu voto se encaixa?

Juliana: A escolha por um determinado candidato tem uma dimensão afetiva muito forte, que se correlaciona com valores e identificação. O mais provável é que se o sujeito possui sentimentos ou simpatia por justiça social (ou menos favorecidos social e economicamente) e que seja liberal nos costumes, que prefira candidatos mais à esquerda do espectro político, ou progressistas. Já quando valoriza mais o livre mercado e a ideia de meritocracia, bem como quando prefere os costumes tradicionais, a tendência é de escolher candidatos mais próximos do espectro político de direita, ou mais conservadores. Todavia essas posições não são estanques. Há no Brasil mais de 33 partidos de direita, esquerda e centro que apresentam pautas muito diversas e que em alguma medida se correlacionam, sobretudo quando estes partidos estão mais ao centro. 

Além da direita e esquerda também existe o neoliberalismo, como você analisaria?

Juliana: O neoliberalismo não se constitui exatamente como uma corrente de pensamento com valores bem definidos. O neoliberalismo trata do poder do capital que se impõe diante de qualquer sentimento mais abstrato. O neoliberalismo tem mais a ver com a satisfação de desejos que o capital pode comprar, não importando o que esses desejos significam. É a satisfação pela satisfação. O poder pelo poder.

Clayson: O neoliberalismo surge no contexto do liberalismo que, por sua vez, remonta ao surgimento da própria direita. O liberalismo se consolida no pensamento político e social à partir dos movimentos gerados pelo iluminismo e, desde aquele momento, se transforma em uma proposta que se reforça no pensamento de liberdade econômica e de costumes. O neoliberalismo, na contemporaneidade, traz o aprofundamento de pensamentos que se solidificaram no combate a ideia de "bem estar social" promovida pelo estado. Ao contrário, ele defende a existência de um "estado mínimo". A ideia é o combate à tributação e da atuação direta do estado na vida social. Também há a difusão do conceito de meritocracia, associando exclusivamente ao esforço pessoal de cada indivíduo, o resultado do sucesso de cada um, mesmo que desconsidere os fatores específicos das peculiaridades do meio em que cada indivíduo está inserido.

Muito se fala sobre o “centrão”. Poderia nos explicar como funciona?

Juliana: O centrão é um agrupamento político constituído e unido por interesses volúveis, mais contextuais e oportunistas. Não possui uma corrente ideológica que pré-determina as suas ações ou coligações, além da manutenção do poder ao qual se integra, com a finalidade de, em qualquer ocasião, permanecer no poder.

Qual a principal diferença do comunismo e do fascismo?

Clayson: O fascismo, em sua essência, combate todos os pressupostos do comunismo. O comunismo e suas vertentes estão voltados ao pensamento de coletivo e de poder por força de um grupo, a saber, o "proletariado" ou o trabalhador. O fascismo acredita na estrutura social por meio de um líder e de um comandante com "mão de ferro". Enquanto o comunismo e o socialismo se detêm na horizontalidade, o fascismo é vertical. Em termos gerais, o fascismo se posiciona em um estado opressor, que dita regras que devem ser aceitas sem que sejam contestadas, sob pena de severas sansões, que podem culminar, inclusive em prisão e morte. Apesar de poder haver a existência de governos autoritários que se utilizem do pensamento comunista, a proposta do comunismo é a promoção de direitos iguais a todos. No fascismo estes direitos estão restritos exclusivamente aos que concordam com as ideias proposta pelo líder e seu grupo.

Em seu livro você reuniu pesquisadores de diversos espectros para apresentar um panorama do atual pensamento político. Como foi essa experiência?

Juliana: Foi uma experiência bastante complexa e rica, pois todos os pesquisadores são altamente gabaritados em suas respectivas áreas de atuação, o tema importante e diverso, o que requereu uma atenção profunda para evitar qualquer falha conceitual e, ainda assim, criar uma obra com linguagem simples, agradável e de fácil acesso a qualquer pessoa com interesse em se aprofundar um pouco mais no debate político. O resultado final, todavia, foi muito gratificante.

As redes sociais ajudaram ou facilitaram as linhas de pensamento político?

Clayson: Apesar dos muitos problemas gerados pela disseminação de notícias falsas, de grupos que propagam mensagens de ódio e da profusão de ideias que buscam o desencontro e o desentendimento, as redes sociais trouxeram para o debate muitos que estavam afastados do debate político e viam com apatia estes assuntos. Por ser algo ainda muito recente e pelo fato de muitos ainda estarem se habituando a utilizar as redes sociais para conversar sobre política, com o tempo, as redes sociais poderão contribuir para a união de grupos e o fortalecimento de ideias. Até lá, os problemas de ataques e de combate aos pressupostos democráticos vão continuar existindo. É um erro pensar que as redes sociais beneficiaram apenas um grupo ou um pensamento. Em pouco tempo será possível promover o debate mais amplo de ideias, quando as próprias redes sociais puderem promover ferramentas para a interação entre bolhas.  

Como você vê essa polarização política no Brasil?

Juliana: Como um problema a ser sanado por uma nova geração de líderes que seja tão preocupada com a manutenção do poder e suas crenças particulares quanto com a união e pacificação de uma sociedade por meio da aceitação e integração das diferenças. As principais lideranças da atualidade não procedem deste modo.

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