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Nossa gente popular: figuras importantes eternizadas por escritor limeirense

Zé Sessenta, Irmãos Coca-Cola, Zé Ambrósio, João Delega, Bodinho, Pinho, Geny Preta, Baiano do Cine Vitória, Baca, João Bambu.. Limeira ao longo de sua história coleciona figuras populares que marcaram época e deixaram saudade.

Conhecido por suas pesquisas históricas sobre a imigração européia no Brasil há mais de 30 anos, o limeirense José Eduardo Heflinger Júnior, conhecido como Toco, resgatou histórias, curiosidades, biografias e causos de pessoas populares.

O livro, lançado em 2020 traz mais de 200 fotos e ilustrações, de alguns dos personagens mais conhecidos da cidade ao longo de sua história. O volume, pode ser adquirido na Banca IV Centenário da Praça Toledo Barros e pelo Disk Livro: (19) 3444-8810, 3034-0115 ou 99643-2855 (WhatsApp).

“Os Populares” é resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e uma homenagem as personalidades limeirenses que marcaram a vida da cidade. Para a edição especial da Gazeta, o autor separou, entre tantos, oito nomes que permeiam em nosso folclore local.

Confira:

 

ZÉ SESSENTA

 

Direto dos anos 60, um personagem que povoa a memória é o saudoso e imprevisível "Zé Sessenta", o mendigo número um da Limeira das belas árvores, dos canários e dos bem-te-vis, que escondiam seus ninhos nessas maravilhas verdes. Poucos sabem, mas essa figura ímpar se chamava José de Oliveira Santos, e a razão do apelido se deve ao fato de ele afirmar, durante anos, que tinha sessenta anos, isso mesmo antes de ter se tornado um sexagenário. Outros contemporâneos dizem que ele costumava profetizar que morreria quando completasse sessenta anos de idade. Quando a temida data foi se aproximando, o Zé foi ao Foto Cruzeiro, do Missao Ito, e contando com a colaboração de uma gráfica, as fotos realizadas se transformaram em um impresso registrando o seu falecimento. Por mais incrível que pareça, o futuro falecido se encarregou pessoalmente de distribuir em mãos o comunicado. Como a profecia não se cumpriu na data do sexagésimo aniversário do Zé, o falso profeta recolheu as fotografias que ainda estavam com seus conhecidos, uma a uma.

Chapéu amassado, bengala encardida, lábios queimados com uma bituca de cigarro apagado no canto da boca, o `Zé Sessenta" foi envelhecendo, sofrendo as tribulações inerentes, mas ficou guardado na memória, como a ilustre morador do “Hotel das Estrelas”.

 

 ZÉ AMBRÓSIO

Ninguém jamais o viu, fosse quando fosse, frio ou chuva, durante o dia ou à noite, sem o seu paletó, sua gravata e chapéu. Em 1947, entrou para a "Gazeta de Limeira", a convite de Irineu Francisco, como entregador e vendedor de jornais avulsos. Além de sua competência indiscutível, sempre atribuiu sua permanência naquele jornal aos laços de amizade como Moacir e o Antônio Campos. O marido de dona Olivia de Moraes ficou marcado na memória dos limeirenses como um respeitadíssimo tipo popular. O saudoso João Francisco Duarte, registrou na edição da Gazeta publicada em 14 de maio de 1975: 'Ele: baixo, moreno, rosto redondo. Está sempre por aí, pela cidade ou pelos bairros, caminhando. Passos lentos, mas seguros. Contudo, ninguém jamais o viu sem paletó ou sem chapéu, a Prada deveria homenageá-lo como o mais intransigente adepto do chapéu. Andando por aí, ele sempre foi o mensageiro das tristes ou das boas notícias. Até por isso, um dia, alguém o chamou de "Comunicado ao Povo". Ela: branca, muito alva: se trajando listras pretas. Abraçado a ela, vai ele passeando por aí, até que um novo dia surja. Assim o fazem, duas vez por semana, há muitos anos. Não estão casados, mas vivem muito bem e felizes. Os dois formam um par perfeito. Duas imagens indissociáveis, no cenário da cidade.

Ele: o JOSÉ AMBRÓSIO.

Ela: a "GAZETA DE LIMEIRA”.

 

 PEDRO LOCO

Seria impossível esquecer aquele tipo estranho, cabelos raspados, olhar ligeiramente oblíquo, tez manchada e vestes rasgadas, que saía pelas ruas desejando bom dia, ostentando uma gargalhada incomum a todos que passavam. Vivia sempre sujo, descalço e quando alguém lhe dava dinheiro ou comida, corria pelas ruas aos pulos esbanjando euforia. Ficava enfurecido quando alguém o chamava de “Pedro Loco”. Um apelido maldoso. Certa vez, ele entrou em um templo católico, durante uma missa, e de repente, passou a correr e a pular pelos bancos, dirigindo-se ao altar, saudando o público com uma banana. Ninguém se atreveu a impedi-lo. As crianças o temiam. No entanto, se compararmos suas ações, com as maldades que vivenciamos hoje em dia, seu apelido deveria ser “Pedro Carinhoso”.

 

 

PINHO

José Lucas dos Santos, popularmente conhecido como "Seu Lucas", ficou registrado na história de Limeira. Extremamente carinhoso com as crianças, ele carregava uma cesta de bambu em sua bicicleta "Philips", cheia de pacotes em formato de cones contendo pinhões cozidos, denominação popular da semente da "Araucária" (Pinus). Em 1938, Lucas iniciou sua carreira como vendedor ambulante, escolhendo o seu ponto de vendas nas proximidades do "Theatro da Paz", na Praça Toledo Barros.

Sempre foi motivo de indizível alegria o momento final da última aula, quando o sino do Grupo Coronel Flamínio Ferreira anunciava o fim do horário escolar. Era uma aventura sair correndo pelos jardins que rodeavam a escola, para encontrar-se com aquele cidadão simpático e, finalmente, saborear o delicioso pinhão quentinho. Em ocasiões festivas, como quermesses, festas juninas, domingos e feriados, o saudoso Lucas vendia pamonhas, brinquedos, ioiôs confeccionados com bolas de pó de serra, envolvidas em papel celofane, amarradas com elástico, não muito comuns nos dias atuais. O querido Lucas faleceu há muito tempo, mas o seu grito de "guerra", "Pinho... Pinho... Pinho", ficou marcado para sempre na vida dos meninos que vivenciaram a Limeira Romântica.

 

BODINHO

 

António Rosada nasceu em 27 de outubro de 1923, na Fazenda Santa Tereza, no então subdistrito de Cordeirópolis. Ele foi apelidado de "Bodinho" ao término de um jogo de futebol. Revelando a sua insatisfação pela derrota de seu time, Antônio Rosada dirigiu impropérios à numerosa torcida e como a peleja foi sediada no campo do adversário, para evitar o confronto desleal, saiu correndo em alta velocidade, pulando uma cerca sem o auxílio das mãos. Daquele dia em diante, passou a ser chamado de "Bodinho", uma das figuras mais queridas de Limeira. Bodinho iniciou sua carreira de barbeiro na adolescência, casou-se com 39 anos, e foi trabalhar num salão da Praça da Sé, na

"São Paulo Quatrocentão". Durante mais de cinco décadas, exerceu a profissão na cidade, com brilhantismo e um humor invejável. Após o falecimento do fantástico "Bodinho", o Barbeiro das Multidões, a região do Mercado Municipal nunca mais foi a mesma.

 

 JOÃO DELEGA

O irmão do Galé foi um dos maiores baluartes da nossa "Polícia Informal". Com o rosto vermelho, é incrível como o toco de cigarro não lhe caía do canto da boca. Sempre presente às grandes comemorações da cidade, ganhou até prêmio em carnaval de rua, uma taça que era seu orgulho e que exibiu durante um desfile de escolas de samba em município vizinho e amigo (no caso, Cordeirópolis). Se houvesse uma fanfarra ensaiando, ele apareceria para solicitar maior firmeza no ritmo, ou simplesmente, para marchar à sua frente. João Delega adorava controlar o trânsito trajando um uniforme semelhante ao da Força Pública, adornado de revólver e cassetete da "Estrela", acreditando manter a ordem com todo o rigor. Não foram raras as vezes em que o João sofreu acidentes pertinentes à sua profissão. Num dos carnavais da década de 1960, participou de um loco e passou o resto do Carnaval no hospital, vitimado por escoriações e fraturas provocadas por uma queda voluntária de cima de uma diligência que compunha a coreografia de um carro alegórico de mais ou menos uns quatro metros de altura. Um de seus companheiros de bloco, apontou-lhe uma espingarda de brinquedo e gritou: - "Delega, agora você vai morrer" e, em seguida, imitou o som de um estampido de um tiro. Ele levou a sério o seu "trabalho", por isso, ao simular sua morte, promoveu uma queda de causar inveja aos dublês de Hollywood. A cena foi protagonizada com tamanha perfeição que culminou com a internação do Delega na Santa Casa de Misericórdia.

 

 

GENY PRETA

Geny da Costa Nemitz, filha de Maria Rosa da Conceição e de Severino Henrique Costa, nasceu em Niterói. Quando completou nove anos, mudou-se com seus pais para a cidade de São Carlos. Sua família se instalou em lbaté, na fazenda Boa Vista. Aos dez anos apenas, com o falecimento do pai, foi obrigada a trabalhar na roça, na colheita de algodão. Geny teve doze irmãos, os quais nasceram na fazenda. Com quinze anos conheceu Frederico Nemitz, com quem se casou somente na igreja. A mãe não concordou com o casamento. Depois da passagem por Araraquara, Geny mudou-se para Agudos. Durante o tempo de casada, Geny não participou dos carnavais, porque seu marido não permitia. O Sr. Manoel Monteiro Moraes, proprietário da Padaria América, sabendo que o marido de Geny era um bom padeiro e confeiteiro, trouxe a família para Limeira. Ela ficou viúva e trabalhou muito, lavando roupa e no serviço de limpeza, na Telefônica, na Humanitária, na Casa do Dr. Waldomiro Francisco e, posteriormente, nos sanitários da Praça Toledo Barros. Em 1956, Geny voltou a brincar o carnaval, saindo no cordão do "Grêmio Recreativo Ás de ouro". Também participou da Escola de Samba “Garotos da Vila", como destaque, procurando ela mesma cuidar do seu guarda-roupa de trajes variados para as noites de carnaval. Ela não gostava de repetir vestidos. Além do carnaval de rua, Geny também participava dos bailes da prefeitura, sempre anunciada como a "Rainha do Carnaval". Essa maravilhosa criatura, sambista classe A, jamais será esquecida; aliás, após o seu falecimento, o carnaval limeirense ficou órfão de mãe.

 

 

BAIANO DO CINE VITÓRIA

Nascido em Ituassú (BA), João Batista de Souza, o popular Baiano, tradicional porteiro do Cine Vitória, chegou a Limeira com 24 anos de idade. Em 1939, ele trabalhou como servente de pedreiro na demolição do "Theatro da Paz", então propriedade da "Santa Casa de Misericórdia de Limeira", e na construção do Cine Teatro Victória, construído pela mesma instituição e inaugurado no dia 31 de outubro de 1940. Depois de algum tempo, o Baiano, como era carinhosamente conhecido, passou a atuar como lanterninha e, finalmente, porteiro do cinema. Sempre sorridente, dono de uma educação incomum, o Sr. Souza merece ser lembrado pelos serviços prestados à comunidade. Casou-se com uma limeirense, dona Maria Aparecida Fagundes de Souza, com quem teve cinco filhos. Era impossível assistir aos filmes proibidos para menores. Baiano monitorava minuciosamente todas as carteiras de identidade. Ninguém conseguia burlar a vigilância dos atentos "apanhadores de ingressos". Quem não conhece ou nunca ouviu falar do Baiano não é limeirense antigo.

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