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“A sociedade necessita muito de informação sobre autismo”

Desde a entrada da escola, com o atendimento dos porteiros, até à sala de aula, na didática dos professores, todos os profissionais de educação precisam se apropriar de uma perspectiva inclusiva para garantir acesso, permanência e aprendizagem com equidade aos estudantes com deficiência.  A educação inclusiva é importante porque, diferentemente da educação especial, ela não separa o aluno do convívio e aprendizado dos estudantes de uma escola regular, permitindo que de se desenvolva como parte integrante da sociedade.

Dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) mostram que o Brasil realizou, em 2021, 9,6 milhões de atendimentos em ambulatórios, a pessoas com autismo, sendo 4,1 milhões ao público infantil com até 9 anos de idade. Os dados são do Ministério da Saúde, mas o Brasil ainda não tem números exatos de crianças e pessoas com Transtorno do Espectro Autista.

O TEA é um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, que podem englobar alterações qualitativas e quantitativas da comunicação, seja na linguagem verbal ou não verbal, na interação social e do comportamento, como: ações repetitivas, hiperfoco para objetos específicos e restrição de interesses. Dentro do espectro são identificados graus que podem ser leves e com total independência, apresentando discretas dificuldades de adaptação, até níveis de total dependência para atividades cotidianas ao longo de toda a vida.

A suspeita inicial do Transtorno do Espectro Autista é feita normalmente ainda na infância, por meio da Atenção Primária à Saúde (APS), durante as consultas para o acompanhamento do desenvolvimento infantil. Por ser essencialmente clínico, a identificação de traços do espectro autista é realizada a partir das observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de métodos de monitoramento do desenvolvimento infantil, durante as consultas de avaliação do crescimento da criança, que acontecem em qualquer unidade da APS.

“A criança autista matriculada apresenta melhoras em sua socialização, tanto na escola, quanto em casa. O aluno passa a tomar iniciativas e recebe acolhimento pelos colegas de classe. Outro ponto importante é o aumento de autoestima, não só da criança autista como também da família. Ela aumenta a tolerância, auxilia a convivência em sociedade, traz mais bagagem cultural e proporciona a empatia”, explica Aline Costa, psicopedagoga especializada em autismo.

Professora há 22 anos, Aline se aprofundou em TEA e hoje oferece atendimento educacional especializado para crianças autistas e TDAH em Limeira. “Sei das dificuldades em implementar a inclusão em sala de aula, por isso minhas palestras e treinamentos auxiliam na efetivação desse trabalho. Para uma escola ser de fato inclusiva, a formação de todos os envolvidos com a educação é primordial”, explica.

Confira:

Qual a principal área do psicopedagogo?

O psicopedagogo atua como mediador entre a escola e a família tendo em vista que os problemas de aprendizagem podem surgir de vários fatores e contextos.

Como surgiu o seu interesse por esta área?

Atuava como professora de rede pública de ensino e tinha um aluno com comportamentos diferentes dos demais, isso foi em 2015. E desde então comecei a ler um pouco mais sobre o assunto. Mas foi em 2017 que após ter outros alunos é que comecei a estudar com afinco o autismo. Até atuei em sala de educação especial de libras e como intérprete, mas o amor bateu mais forte pelo autismo.

Como funciona o atendimento psicopedagógico no autismo?

O atendimento psicopedagógico inicia-se com a anamnese (entrevista) com os pais e depois é aplicado protocolos avaliativos para identificar os déficits da criança e planejar intervenções.

Ainda há muita desinformação sobre o assunto?

Um dos principais inimigos do autismo é ficar aguardando o ‘tempo’ da criança. Isso pode atrapalhar seu desenvolvimento. Existem ações que as crianças devem executar, de acordo com o marco do desenvolvimento. Ao menor atraso de determinadas ações e ou habilidades, deve-se desconfiar de algo e procurar um neuropediatra para avaliação da criança.

Hoje a sociedade já identifica melhor as manifestações do autismo?

A grande maioria das vezes é a mãe que desconfia dos primeiros sinais de autismo. Em alguns casos é a escola. Algumas mães já percebem o bebê sem o contato visual durante a amamentação, a inquietação com os dedos no rosto e a dificuldade em dormir. Porém, muito se percebe também pela fala da criança. Defendo a intervenção precoce, independentemente de ter laudo ou não. A estimulação não irá atrapalhar, mesmo sem o diagnostico fechado. Hoje já se sabe que a causa do autismo é genético em 90%. Depois aparecem mutações genéticas e a prematuridade em alguns casos. Autismo é um transtorno do neuro-desenvolvimento, portanto, já se nasce com ele.

Temos uma aceitação maior por parte dos pais quanto ao diagnóstico dos filhos?

Sim, os pais são muito atuantes e sempre buscam o melhor tratamento para seus filhos.

Hoje a sociedade já identifica melhor as manifestações do autismo?

A sociedade necessita muito de informação sobre autismo. Ainda muitas atitudes capacitistas são vistas diariamente.

Falta políticas públicas e de educação para crianças com TEA?

O Brasil ainda está longe de cumprir com uma inclusão sem exclusão. Falta informação e principalmente capacitações nas escolas. Com a lei Berenice Piana de 2012, já conquistamos muitas coisas, porém ainda se tem muito a fazer. Espero que com o censo demográfico desse ano, possamos ter um número estimado de autistas no Brasil, por que ainda não temos.

Qual a importância do treinamento parental para familiares e cuidadores de crianças autistas?

Treino parental é considerado um dos mais importantes pilares da intervenção comportamental do indivíduo com autismo. O treino possibilita a criação de oportunidades para praticar em outros ambientes o que foi aprendido em sessão. A família orientada e treinada reduz a frequência e variação de comportamentos disruptivos dos filhos.

Quais são os desafios no processo de inclusão do autismo e educação?

O processo de inclusão nas escolas deve-se iniciar com capacitações\formações para professores e funcionários das escolas. Como o próprio nome já fala ‘espectro’, cada autista é diferente do outro. A intervenção que se realiza com um as vezes não servirá para outro. Por isso as formações devem ser constantes.

Qual mensagem ou orientação você daria aos pais e familiares que convivem com crianças autistas? E pra sociedade?

Nascemos para ser felizes e não perfeitos. A inclusão não é apenas um ato institucional na escola, ela precisa ser um ato social também e não deve ser restrita somente no ambiente escolar.  É necessário e urgente fazer a inclusão social também. O autista precisa estar em todos os ambientes que desejar, porém se alguém ver outra pessoa com comportamento diferente do seu, que tenha no mínimo empatia de oferecer ajuda. Pode ser um autista com uma sobrecarga sensorial grande. Em alguns momentos como esses, sentar- se ao lado pode ser de grande ajuda.

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