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Rubi: estudo expõe dificuldades no transporte, lazer e acessos

Em seu trabalho de pós-doutorado, o sociólogo Vitor Sartori Cordova se dispôs a ouvir os moradores do Residencial Rubi em Limeira. O estudo problematiza a situação da moradia popular no município e expõe as dificuldades dessa população em termos de transporte, lazer e outros acessos importantes para essa comunidade. Vitor é doutor em urbanismo, especialista em sociologia urbana e professor. 

Denominada A solidariedade dos abalados na cidade contemporânea: qual o lugar da ação política nos condomínios residenciais populares?”, a pesquisa foi realizada no Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência (LAGERR) da FCA/Unicamp, em Limeira.

 
Segundo o estudo, mesmo que a maioria dos entrevistados expressassem um sentimento de gratidão por terem conseguido o apartamento, também destacavam várias dificuldades como: insuficiência de transporte público para chegarem ao trabalho ou à escola do bairro, morar longe dos familiares, carência de supermercados ou farmácias próximas, falta de área de lazer para jovens, adultos ou idosos, poucas atividades socioeducativas para os mais jovens, falta de segurança nos arredores do condomínio, entre outros.

 

O Rubi é um empreendimento abarcado pelo “Programa Minha Casa, Minha Vida” e foi construído entre os anos de 2015 a 2017. A análise, além do enfoque histórico, político e sociológico sobre como foram surgindo os empreendimentos de habitação de interesse social no município - e de que maneira os processos de especulação imobiliária e financeirização da moradia popular afetam a construção da cidade e a própria vida dos moradores - contou ainda com uma abordagem de cunho filosófico em sua investigação. No estudo, o autor destacou os escritos do filósofo tcheco Jan Patočka, considerado um dos mais importantes contribuintes da Fenomenologia e da Filosofia na Europa Central do século XX, ainda pouco conhecido no Brasil.

 

“O objetivo foi contribuir, a partir das leituras da obra deste filósofo, com os estudos urbanísticos sobre Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social e chamar a atenção para alguns conceitos esquecidos pelo planejamento urbano, como a questão existencial, para a efetivação de políticas urbanas que abranjam qualitativamente o espaço da cidade”.

 

SONHO DA CASA PRÓPRIA

 

Para o pesquisador, o sonho destas pessoas de conseguir moradia própria é explorado por interesses do capital imobiliário e financeiro em uma competição desigual em relação à velocidade das ações do poder público. Segundo ele, os mais pobres são usados como “iscas” para a valorização de áreas circundantes da malha urbana. A estratégia, em sua grande maioria, é utilizar de uma alta densidade demográfica que é levada a morar no local e, por conseguinte, se aproveitar da grande (e legítima) pressão para obtenção de infraestrutura e equipamentos urbanos como transporte, escolas, postos de saúde, entre outros, por parte dos residentes.

 

Com a passagem do tempo, muitas vezes décadas, a pressão pelo direito de uso destas infraestruturas e equipamentos se torna sinônimo de elevação do custo de vida, fazendo com que os moradores se vejam obrigados a alugar ou vender as suas habitações quando este direito finalmente se concretiza.

 

Relata o pesquisador que “é comum ouvir dos moradores de lá que, mesmo habitando um lugar tão longe, os especialistas (comumente envolvidos com o mercado imobiliário) lhes falam que daqui a alguns anos o local vai ficar bom de morar, que aguardem um pouco mais, pois o bairro vai ter uma boa estrutura. Nós sabemos que, quando ficar ‘bom de morar’, também significará ‘caro’. Mas, o discurso é tão sedutor que acaba sendo aceito já que, se o empreendimento (e o local) não lhes possibilitar algum desfrute no presente, talvez, seus filhos e netos tenham essa chance no futuro. É este aguardo, este tempo de vida das pessoas que o mercado imobiliário consegue colonizar e que encaro como perverso”, destaca.

 

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