Projeto de lei proíbe uso de celular em sala de aula de escolas
Foi protocolado o projeto de lei, de autoria da vereadora Constância Félix, que dispõe sobre a proibição do uso de celulares e outros dispositivos tecnológicos pelos alunos nas unidades escolares da rede municipal de ensino de Limeira. A exceção se dá apenas quando houver autorização expressa do professor responsável, para fins pedagógicos, tais como pesquisas, leituras, acesso a materiais digitais e outro conteúdo ou serviço.
“A atenção do aluno em sala de aula é fundamental. Segundo alguns professores, é mais importante do que o estudo realizado em casa. Qualquer coisa que venha tirar a atenção do aluno é prejudicial. Por outro lado, o celular é um mecanismo eficaz na área da pesquisa, por isso devemos proibir ou restringir o seu uso em ambiente escolar, deixando a cargo do professor”, diz a parlamentar.
Segundo o projeto, os celulares e demais dispositivos eletrônicos deverão ser guardados na mochila ou bolsa do próprio aluno, desligado ou ligado em modo silencioso e sem vibração. Para os alunos com deficiência ou com problemas de saúde que
necessitam destes dispositivos para monitoramento ou auxílio de sua necessidade, os dispositivos serão autorizados.
Caso haja descumprimento, o professor deverá tomar as medidas para que a regra seja cumprida. Se for necessário, poderá acionar a equipe gestora da unidade que prestará todo o apoio ao docente. “Os aparelhos tecnológicos, quando utilizados em sala de aula, devem ser considerados ferramentas de aprendizagem e não devem ser motivo de distração ou interrupção do processo educacional”, afirma.
A conscientização também é importante e precisa vir de casa. “Compete aos pais e responsáveis orientar os alunos sobre o uso
adequado e sem tempo excessivo de aparelhos tecnológicos, reforçando a importância de seguir as regras estabelecidas neste documento e, quando permitido, utilizar os dispositivos eletrônicos de forma produtiva em sala de aula”, destaca o projeto.
UNESCO
O relatório da Unesco alerta para os impactos de celulares na aprendizagem e na concentração dos estudantes. Um em cada quatro países proíbe ou tem políticas públicas sobre uso de celular em sala de aula. A internet trouxe benefícios e desafios. O acesso às ferramentas da nova tecnologia como as redes sociais, por exemplo, é um grande desafio para o professor. Como manter presente um aluno dentro da sala de aula?
O relatório da Unesco aponta ainda que há uma variedade de opiniões sobre o quanto as tecnologias digitais podem melhorar a qualidade da educação. Alguns argumentam que, em princípio, a tecnologia digital cria ambientes de aprendizagem envolventes, anima as experiências dos estudantes, simula situações, facilita a colaboração e amplia conexões. “Mas a tecnologia digital tende a favorecer uma abordagem individualizada à educação, reduzindo as oportunidades dos estudantes de socializar e aprender ao observar uns aos outros em cenários da vida real. Ademais, ao mesmo tempo em que a tecnologia leva à superação de alguns problemas, ela traz os seus próprios", destacou a organização.
EXEMPLOS
Alguns países como México, Finlândia, Holanda, Portugal, Espanha, Suíça, Estados Unidos, Canadá e França já baniram ou têm políticas sobre o uso de celular na escola. No Brasil, a Prefeitura do Rio de Janeiro proibiu o uso de aparelhos tecnológicos em salas de aula nas escolas municipais; diversas outras cidades têm projetos de lei que dispõe do mesmo tema.
O projeto foi protocolado e segue para tramitação na Câmara de Limeira. Se aprovado pelos vereadores limeirenses, o projeto vai para sanção do prefeito para se tornar lei.
Tecnologia precisa ser utilizada de forma consciente
Professores ouvidos pela Gazeta comentaram sobre o projeto e destacaram os principais desafios do uso dos equipamentos em sala de aula. “Acredito que a proposição da vereadora possa ser um marco do ponto de vista legislativo para o que já acontece na prática. É claro que muitos estudantes usam o celular indevidamente e é sempre uma batalha enorme para que guardem e aprendam a usar nos momentos adequados. Educar o uso da tecnologia, especialmente do celular, é um dos desafios que nós professores temos”, disse o professor Márcio Bergamini.
“Berga” como é conhecido, destacou que em algumas escolas existem limitações do uso recreativo em sala de aula. Há escolas, inclusive, que recolhem o aparelho e devolvem nos momentos de intervalo aos alunos, mas fica a critério de cada unidade. “Como professor, penso que qualquer regulamentação só é válida se apontar os caminhos para o enfrentamento da questão. Proibir por proibir muitas escolas já tentam. O que precisamos é de estratégias que fomentem o uso pedagógico das ferramentas tecnológicas, quaisquer que sejam. Elas fazem parte do cotidiano da vida e é necessário educar o uso, mostrar os benefícios e principalmente os perigos que elas trazem. Também precisamos de políticas de formação de professores para isso e de programas de acesso à tecnologia, visto que muitos alunos não possuem um celular”, disse o coordenador da Escola Castello Branco.
“O uso recreativo atrapalha, sim. Assim como atrapalha na missa, no culto, nas reuniões sociais, à mesa de jantar, nas sessões da câmara, ao volante. Por outro lado, o uso pedagógico é formidável, quando bem orientado e estruturado. Podemos trabalhar com objetos digitais de aprendizagem, ferramentas de multimídia, hipertextos, inteligência artificial, entre outras coisas. É necessário que o professor tenha preparo e planejamento para isso. Será que temos? Limeira é a segunda cidade mais inovadora do país. Temos aqui a Fábrica de Inovação que oferece à comunidade formação em programação, tecnologia, empreendedorismo, entre outras coisas. Que tal aproveitarmos o que temos em casa para criar um programa de educação tecnológica para professores, a fim de que possamos orientar o uso dos recursos em sala de aula? Podemos estender aos pais, aos alunos, às pessoas interessadas no assunto”, indica. Berga também atua nos Colégios Portal e Acadêmico.
A professora Gisele Godoi também comentou sobre a iniciativa. “Eu lecionei no ensino fundamental por quase 15 anos. Como professora, penso que ter as tecnologias a serviço da educação é importante. É preciso ressaltar que na ocasião de pandemia, o celular foi muito importante, pois enquanto estudantes da rede particular tinham computadores de alta tecnologia, com aulas online, muitos da rede pública foram salvos pelo celular. Ter as tecnologias como apoio ao professor, e na aquisição de saberes é de suma importância, num tempo em que a sociedade borbulha mudanças e tudo recai na escola, como espelho da sociedade. Assim, como professora coordenadora, oriento e recomendo o uso somente com objetivo muito bem definido e com diálogo com o currículo municipal. Do contrário não recomendo”, afirma.
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