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Laranja: de Limeira para o Brasil; a história que merece ser lembrada

Limeira destacava-se como a “Capital da Laranja” por ter os primeiros pomares comerciais do Brasil e ser a primeira cidade a exportar a fruta com sucesso, conforme relata o pesquisador José Eduardo Heflinger Junior, o Toco, em seu livro "Retratos de Limeira". Isso aconteceu em 1926, mas tudo começou no início do século XX, em 1902, por conta de um imposto sobre novas produções de café, os cafezais foram dando espaço aos laranjais, fazendo com que houvesse maior capital e mais trabalhos disponíveis na cidade do que em outros municípios.

Para divulgar a produção e consumo da laranja, por muitos anos foram realizadas festas e exposições, como a Festa da Laranja e a Feira Agro-Científicas e Industriais (FACIL) com a participação de artistas famosos. A Festa da Laranja de 1955 foi um marco na cidade com a participação de Marta Rocha, Miss Brasil.

A Casa da Laranja, que ficava ao lado da estação de trem, para facilitar o transporte, funcionava como uma cooperativa de produtores. As frutas vinham das fazendas e ali eram lavadas, enceradas e encaixotadas. Na época, em caixotes de madeira.

A cidade deixou de ser a maior produtora de laranja por conta da contaminação do greening - uma doença muito séria na citricultura que gera sintomas como ramos amarelados, mosqueado nas folhas e frutos assimétricos. No entanto, de acordo com o Censo Agropecuário do IBGE o estado de São Paulo continua sendo o maior produtor da fruta, responsável por quase de 80% de toda produção nacional.

EXPORTAÇÃO

O Brasil é o maior produtor de laranjas do mundo, mas no início da citricultura no país a população tinha preconceito com a palavra "laranja". A exportação da fruta era um grande desafio, principalmente para outros continentes.

Em seu livro “Um pouco da história de Limeira – Volume II”, Toco cita que na década de 1920, algumas caixas de laranjas já tinham sido levadas para países próximos, como Argentina e Uruguai, mas boa parte das frutas estragava no caminho. Para a Europa, a missão era quase impossível, uma vez que a viagem de navio era longa. Já as tentativas de exportação para a Inglaterra nunca davam certo porque realmente as frutas estragavam.

O problema só foi superado em 1926, depois que uma leva de laranjas de Limeira chegou pela primeira vez em boas condições no velho continente. Mas, parte das frutas também estragou e dessa vez os produtores encontraram a razão para isso: a mosca da laranja, fazendo com que apodrecessem no caminho.

"Então, é considerado que em 1926, a partir de Limeira, foi realizada a primeira exportação bem-sucedida, e profissional, para a Europa, para as cidades de Londres e Hamburgo."

José Eduardo explica que Limeira ganhou destaque e ficou marcada na história pelo sucesso alcançado nas tentativas de exportação.

Ao portal G1, ele contou que a partir disso, foram realizados trabalhos de alteração na indústria de exportação, com uma preparação especial da laranja antes de ser mandada para viagem.

Com o uso de luvas, as frutas eram enceradas e depois cobertas com papel de seda, e também havia o cuidado para que o transporte fosse rápido até o porto.

A Companhia Paulista era a responsável pelo transporte das laranjas até o porto de Santos e, já na época, possuía vagões refrigerados, onde iam as frutas saídas de Limeira com destino à exportação para a Europa.

Segundo o pesquisador, esse procedimento, que permitiu sucesso das vendas, abriu caminhos para a Europa e que despertou o grande interesse dos laranjeiros da época, fazendo com que começassem a comprar pomares com antecedência para que pudessem fazer parte das viagens de exportação para o outro continente - o que que trazia mais lucros do que as vendas para o próprio estado de São Paulo.

 

Histórias de sucesso iniciadas em Limeira

Os maiores produtores de laranja da atualidade começaram em Limeira. Uma das primeiras fazendas a se tornar grande produtora de mudas cítricas foi a Fazenda Citra, de propriedade da família Dierberger. Tudo começou com João Dierberger (1869 - 1931), que tinha apenas 20 anos de idade quando desembarcou no Rio de Janeiro, em 1890, e adquiriu sua própria terra, iniciando um trabalho que culminaria com a constituição de um grupo de empresas que até hoje é uma referência na história da agroindústria, nacional e internacional. Em 1924, os Dierbergers resolveram ampliar suas atividades adquirindo 160 hectares de terras em Limeira. Aos 25 anos, João Dierberger Junior adquire a Fazenda Citra, em Limeira importando, aclimatando e propagando um grande número de plantas frutíferas, ornamentais e hortaliças do mundo inteiro, ainda não existentes no Brasil. A Fazenda abrigou um espetacular viveiro cítrico e o primeiro barracão de classificação e embalagem de laranjas. Mais tarde, essas instalações foram transferidas para a cidade, próximo da via férrea, para facilitar os embarques na Cia. Paulista de Estradas de Ferro, que, desde 1906, já mantinha um serviço utilizando vagões especiais para o transporte de frutas do interior para a capital. Em 1940, João Dierberger Júnior inicia o cultivo em escala de outras variedades de cítricos, tais como Bergamota, Limão Siciliano, Laranja Amarga, Grapefruit, Cidra, Mandarina. Em meados desta década complementa a iniciativa investindo na industrialização dos óleos essenciais, agregando valor e adaptando-os para a Industria de aromas e fragrâncias. A Fazenda Citra ostenta reconhecimento nacional e internacional como estação experimental distribuindo plantas por todo o Brasil.

A Markbem Citrus de propriedade dos irmãos Dorival e Sergio Fortes também é uma empresa tradicional nesse ramo, produzindo laranja em Limeira há mais de 50 anos. Os irmãos têm uma história de empreendedorismo e paixão pela citricultura que começou com o pai, que possuía uma pequena propriedade com pés de laranja, cereais e uma horta. Os filhos mais velhos além de cuidar do pomar, se dedicavam na colheita e embalagem da horta para vender os produtos na feira e, dominados pela vontade de conquistar renda própria, os irmãos assumiram os cuidados e os lucros da horta e propuseram ao pai que lhes vendesse a laranja para que revendessem no mercado. Assim nasceu o grupo Irmãos Fortes Ltda, em 1964. Em seguida eles construíram a empresa no sítio do pai, onde fizeram um barracão e foram para a capital vender a laranja principalmente no Mercado Municipal, que hoje é uma grande referência em gastronomia. “Nosso processo era apanhar e embalar a laranja e o Toninho, nosso irmão mais velho, levava a produção para comercializar em São Paulo. Assim foi o nosso começo”. Com o jeito de comercializar acertado, os Irmãos Fortes começaram a crescer e foi em 1966 que compramos nosso primeiro pedaço de terra, a Fazenda Água Branca de 60 alqueires, conta Dorival.

A empresa MarkBem Citrus surgiu após a divisão de bens entre os irmãos, começando a funcionar em 2002 pertencendo inteiramente aos dois irmãos, Dorival e Sérgio. O mercado já não era como antes e foi marcado por altos e baixos. “Para manter uma fruta limpa como o mercado prefere, tenho que acertar na adubação para ter uma casca que seja equilibrada, nas pulverizações desde a florada para não adquirir nenhuma marca nessa casca e tudo isso tem um custo alto”, diz Sérgio.

A Simonetti Citrus que hoje tem sua produção de laranja na cidade de Aguaí também iniciou sua trajetória em Limeira há mais de 70 anos.

O citricultor Ademir Batistella e a empresa Irmãos Incerpi também são exemplos de produtores que iniciaram sua trajetória na cidade e mantém o cultivo e a chama acesa da lembrança em Limeira do título de Berço da Citricultura Nacional.

 

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