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“Professor de Limeira precisa dobrar período para receber melhor”

 

 

Professor e presidente da Apeoesp comenta os desafios da categoria que tem a missão de formar todas as outras profissões

 

 

“O professor em Limeira, a exemplo do que ocorre em todo nosso estado precisa dobrar período ou acumular cargos para receber um pouco melhor, trabalhando com 2 cargos no estado ou na prefeitura e muitos ainda na rede privada”. A fala é de Fábio Santos de Moraes, professor de história e pedagogo e primeiro presidente da APEOESP. Moraes é também membro do Conselho Nacional de Entidades da CNTE e do Fórum Estadual de Educação.

Neste Dia do Professor, ele destaca os muitos desafios enfrentados por essa categoria que tem a missão de formar todas as demais. “Nossa profissão é a mais importante de todas, sem modéstia, pois sem o professor não haveria médico, engenheiro, mecânico, enfermeiro, secretário, motorista...Todos sem exceção sentaram no banco de uma escola”.

 

Qual o maior desafio hoje dos professores?

Garantir uma escola pública, laica, gratuita, inclusiva, segura e de qualidade com professores valorizados financeira e socialmente, respeitando a legislação vigente como a Lei do Piso, seus reajustes e os Planos Municipal e Estadual de Educação.

Na maior rede de educação do Brasil o secretário, Renato Feder realizou sucessivos ataques à escola pública, seus profissionais e estudantes. A recente tentativa do governo Tarcísio/Feder de desligar a rede estadual de ensino do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) demonstra não somente o descaso para com o direito dos estudantes ao conhecimento, como mostra profundos equívocos de análise e procedimentos metodológicos, que alienam o professor dos conteúdos de sua própria disciplina e transformam o processo ensino-aprendizagem em mero treinamento para a participação dos estudantes nas provas do IDESP/IDEB e para sua adequação às necessidades do mercado de trabalho.

Ao mesmo tempo, o ataque à liberdade de ensinar e aprender e à autoridade dos professores, por meio da vigilância de seu trabalho em sala de aula, é mais uma tentativa de desqualificação da nossa categoria.

Além disso, os professores e professoras são submetidos a jornadas de trabalho estafantes e têm a obrigatoriedade do cumprimento das Atividades Pedagógicas Diversificadas (APD) dentro das unidades escolares e não em locais de livre escolha.

 

Qual a importância de termos um dia para celebrar os professores?

Nossa profissão é a mais importante de todas, sem modéstia, pois sem o professor não haveria médico, engenheiro, mecânico, enfermeiro, secretário, motorista e etc.. Todos sem exceção sentaram no banco de uma escola. Apesar do baixo salário que recebemos, da carga horária absurda, de trabalharmos adoecidos, pois não temos atendimento de saúde – o IAMSPE é um escândalo –, aquela professora ou professor que saiu de casa às 5h30 e deixou seu filho dormindo e retorna para casa às 23h30, porque leciona em três escolas, quando entra em sala de aula e olha para aqueles 44 alunos, pensa, porque é apaixonado pela sua profissão, “vou dar o máximo, vou transformar estas crianças”. É por isto que quando encontramos um ex-aluno na rua ele nos fala: professor, você transformou minha vida”.

 

Como nossa sociedade está tratando os professores?

Pesquisa realizada em 2022 apontou que as profissões de professores e de bombeiros são admiradas por 82% dos entrevistados sobre as profissões mais respeitadas, perdendo apenas para médicos e cientistas. Ou seja, a sociedade em geral respeita e admira os professores, infelizmente os governadores – com poucas exceções e muitos prefeitos – não nos tratam com respeito e não nos valorizam como deveriam. Como já disse, se com pouco que temos nós professores e professoras nos  esforçamos para transformar a vida de nossas crianças, imagina o que não faríamos com salários condizentes com nossa formação, com certeza a qualidade da educação daria um salto extraordinário.

 

Qual a realidade do professor em Limeira especificamente?

O professor em Limeira, a exemplo do que ocorre em todo nosso estado precisa dobrar período ou acumular cargos para receber um pouco melhor, trabalhando com 2 cargos no estado ou na prefeitura e muitos ainda na rede privada. Somado a isso é submetido a um processo extremamente burocratizado e além da sua aula tem diários, planos, avaliações, correções, centro de mídias, pressões, fiscalizações, vigilância física e por câmeras.

Na sala de aula os professores enfrentam muitos desafios, como salas superlotadas, falta de estrutura, indisciplina, violência, materiais didáticos de baixa qualidade, as vezes com erros de conceito e até ortográficos, o que dificulta o processo de aprendizagem e aumenta ainda mais o trabalho do professor. Na rede estadual a maioria dos professores tem contrato precário, chamados de categoria O, com direitos reduzidos em relação aos demais, o atendimento de saúde da categoria é uma calamidade

IAMSPE que outrora atendeu no hospital Frei Galvão, hoje praticamente não tem convênio em Limeira.

No município os profissionais também enfrentam na sua maioria jornada dupla, muitos não recebem vale alimentação e ainda temos falta de quadras cobertas para que alunos e professores tenham condições plenas nas aulas de Ed. Física em algumas unidades.

Em Limeira os professores já receberam 70% acima do PSPN e hoje encontram-se no piso, por isso, a luta para estender e incorporar o bônus e respeitar os reajustes nacionais do piso estão sempre em pauta.

É preciso registrar que em nosso município conquistamos uma mesa de negociação permanente que é um espaço muito importante de diálogo com o executivo.

Por fim, é preciso parabenizar os professores e professoras, pois os nossos mestres em Limeira, assim como de forma geral é uma marca da categoria, com todos os problemas, o professor e a professora quando entram na sala olham para seus alunos e fazem o possível e as vezes o impossível para garantir a eles uma educação pública de qualidade social referenciada.

 

Fale um pouco do trabalho da Apeoesp no apoio ao professor.

Nossa luta em defesa da categoria é cotidiana e travada em várias trincheiras: nas ruas, no judiciário e no legislativo paulista. Por exemplo, entre os dias 1 e 3 de setembro, realizamos em Piracicaba nosso XXVII Congresso Estadual, que reuniu 2000 professores de todo o Estado, quando aprovamos uma plataforma para enfrentarmos o governo Tarcísio/Feder que vem se concretizando por meio de sua proposta de reforma administrativa que pretende retirar ainda mais direitos do funcionalismo, eliminar a estabilidade no serviço público e impor a remuneração por subsídio para todos os servidores públicos; da continuidade da vigência da Lei Complementar 1374/2022 e desmonte do Plano de Carreira do Magistério; do assédio moral e vigilância dos professores em sala de aula, confrontando o princípio constitucional da liberdade de ensinar e aprender e a autoridade dos professores, provoca superlotação de classes nas demais escolas e o fechamento do noturno; descumprimento da lei do piso salarial profissional nacional e manutenção da política de abonos complementares, para ficarmos em alguns exemplos.

 

Acredita que muitos tem deixado o sonho de ser professor? Se sim, por que?

Pesquisas apontam que apenas 5% dos nossos jovens que cursam o Ensino Médio pretendem seguir a carreira de professor. E isto tem uma explicação: os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, a violência no entorno e no interior das escolas. Uma de nossas lutas é para que o governo cumpra a Meta 17 dos Planos Nacional e Estadual de Educação, que prevê valorizar os profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente, e a aplicação correta do Piso Nacional Profissional – sobre o salário base e não com abono complementar. Sem a valorização salarial, um plano de carreira atraente, melhores condições de trabalho não atrairemos os jovens para a profissão de professor.

Nós estamos vivendo um apagão na Educação. Em São Paulo, no ano passado, segundo dados da própria Secretaria da Educação, somente dos itinerários formativos do Ensino Médio, houve 44.939 aulas não atribuídas na rede. Ficamos quase dez anos sem concurso público. O governo realizou neste ano concurso para 15 mil vagas. É insuficiente, pois temos na rede 98 mil professores contratados de forma temporária.

 

Como anda a vida dos Professores Aposentados?

A APEOESP defende que, os professores da ativa e aposentados tenham as mesmas condições salariais, defendemos integralidade e paridade. É importante registrar que os professores quando se aposentam não tem fundo de garantia, por isso manter o salário, que já é menor que a média dos profissionais com a mesma formação, é condição sine qua non para garantir a dignidade nessa etapa da vida. O governador Dória, antes de deixar o governo aprovou o confisco absurdo no salário dos aposentados. Com luta e muita mobilização por parte do nosso sindicato e a articulação da Deputada Professora Bebel na ALESP, conseguimos reverter e suspender o confisco. Agora nossa prioridade em todas as instancias e espaços em especial nas ruas é obrigar o estado a devolver cada centavo confiscado dos aposentados.

 

Deixe um recado aos professores neste dia.

Em primeiro lugar quero parabenizar todos os professores e professoras por realizar um trabalho tão bonito, importante e comprometido para a sociedade que vai da alfabetização nos anos iniciais até o final do ensino médio na educação básica. O respeito, a garra, o envolvimento e a empatia dessa categoria com toda comunidade escolar é absolutamente inquestionável. Na pandemia os professores se reinventaram com pouca estrutura e condições garantiram que, o conteúdo, pelo menos o mínimo, dentro daquela triste realidade em passamos chegasse até os alunos. Quantos professores não pegaram seu meio de transporte ou as vezes utilizando transporte público foram entregar os kits pedagógicos na casa dos alunos e disponibilizaram seu número particular de telefone para toda escola em nome da educação.

Hoje continuamos fazendo o máximo porque acreditamos na educação pública por isso lutamos tanto, na perspectiva de melhorar cada vez mais a escola para os nossos alunos.

Nossa história já demonstrou que a força e a persistência da mobilização pode conquistar avanços. Quem luta conquista. É com este espírito que deixo um abraço em cada professora e cada professor de nossa cidade e de nosso Estado. Desejo a todos e todas um feliz Dia dos Professores.

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