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Povos Indígenas: Limeira celebra a cultura e a luta pela preservação

Nesta sexta-feira, 19 de abril, celebra-se o Dia dos Povos Indígenas, uma data que reflete sobre a riqueza cultural e a importância de preservar as tradições desses povos que são parte essencial da história e identidade do Brasil.

 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 (dados mais recentes), foram registradas 223 indígenas nas cidades de Limeira, Artur Nogueira, Cordeirópolis, Engenheiro Coelho e Iracemápolis. Em Limeira, são 161 indígenas. O município registrou uma queda de 14,8% no número de pessoas que se autodeclararam entre as pesquisas do Censo de 2010 e 2022. Em Artur Nogueira são 31, Iracemápolis 7, Engenheiro Coelho 18 e em Cordeirópolis 6.

 

Em Limeira, acontece o "Abril Indígena", uma parceria entre a FCA e a Secretaria de Educação de Limeira, que tem visado a formação de estudantes e de professores da Rede Municipal. Em 2019, Limeira foi destaque nacional, já que a Unicamp realizou o primeiro "Vestibular Indígena".

 

Atualmente, 545 indígenas estudam na Unicamp, considerando-se os campi de Campinas, Piracicaba e Limeira. Desse total, mais de 100 indígenas, de 20 diferentes povos, estão em Limeira e Piracicaba. Os alunos estão em diferentes graduações na Faculdade de Ciências Aplicadas, na Faculdade de Tecnologia e na Faculdade de Odontologia da Unicamp. Os cursos mais requisitados são os de saúde e de ciências biológicas. 

 

Nesta semana, alunos da Emeief Tenente Aviador Ary Gomes de Castro visitaram a exposição artístico-cultural Xinãnawahu - Pensamento dos Povos, na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA)/Unicamp. Eles foram recepcionados pela professora-doutora em Geografia, Jamille da Silva Lima, do povo indígena Payayá. 

 

Ao ser questionada por um aluno da Tenente Aviador, por que falava a Língua Portuguesa, Jamille esclareceu que os Payayá, assim como outros povos, enfrentaram um duro processo de colonização e não falam mais a língua originária. "Meu pai era proibido de falar a língua dele na escola, se falasse, apanhava", relatou. No entanto, ela observou que muitas palavras incorporadas à Língua Portuguesa são de origem indígena, como Piracicaba [lugar onde o peixe para] e tatu [casca, couraça].

 

A professora-formadora da área de História da Secretaria de Educação, Juliana Bueno, que acompanhou a visitação à FCA, falou sobre os objetivos do que ela classificou de "vivência". "É importante que os alunos entendam a existência de outras culturas, sobretudo, por meio do contato direto com os povos indígenas", argumentou. 

 

O "Abril Indígena" terá outras atividades ao longo do mês. Ontem, a exposição Xinãnawahu foi levada à sede da Secretaria de Educação, onde ocorreu uma "Aula Aberta", com José Ángel Quintero Weir, da Universidad Autónoma Indígena Wanjirawa, sobre o tema "Fazer Comunidade e Pedagogia Nóstrica".

 

Para a Gazeta, Jamille abordou três desafios na educação dos não-indígenas. "Um primeiro desafio, para a educação dos não-indígenas, é entender o sentido de comunidade. Dentro da lógica individualista em que a maioria das pessoas vive atualmente, cada um preocupado somente com sua própria trajetória e formação individual, fica muito difícil compreender o sentido de viver coletivamente. Esta falta de compreensão fere qualquer indígena que busca conviver - ou viver coletivamente - com não-indígenas em um espaço educativo”, destacou.

 

Um segundo desafio é uma certa folclorização ou cristalização da cultura indígena, que também está relacionada com uma forma estereotipada de olhar para os povos originários. “É um Brasil que não se conhece, que não conhece a diversidade de povos indígenas em seu próprio território”, disse.

 

Um terceiro desafio é olhar a educação como uma relação de horizontalidade entre ensinar e aprender, entendendo que é uma relação de mão-dupla, intercultural, e não simplesmente uma vivência cínica do multiculturalismo. “A educação é uma horizontalidade que deve fundar as relações - assim será possível construir relações éticas e respeitosas nos espaços de formação educacional.  É muito importante também termos professores indígenas, pois construímos conhecimentos que não se concebem dentro de um laboratório ou escritório.  Entendo esta abertura da Secretaria de Educação de Limeira para a questão indígena como um momento histórico muito importante. Sinto este diálogo e a vontade de aproximação como ganhos mútuos muito grandes. É um caminho possível para que indígenas e não-indígenas possam contribuir mutuamente para a construção de uma vida melhor para todos”, finaliza.

  

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