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“Queremos ser respeitados, não apenas tolerados”, diz Imã

Em uma visita marcada por diálogo, espiritualidade e compromisso com a paz, o Imã Ihtsham Ahmad Moman, vice-presidente da Comunidade Muçulmana Ahmadia do Brasil, esteve em Limeira com o propósito de fortalecer os laços inter-religiosos e promover um entendimento mais profundo sobre o Islã. Em entrevista concedida à Gazeta, ele destacou a importância de combater a intolerância religiosa por meio do conhecimento, da empatia e do respeito mútuo.

 

“O nosso objetivo é combater a intolerância por meio da informação e do diálogo pacífico, apresentando o verdadeiro ensinamento do Islã: paz, justiça, compaixão e respeito por todos”, afirmou o Imã, que está no Brasil desde 2020, após atuar como missionário no Rio de Janeiro. Hoje, ele reside em São Paulo e atua em visitas e ações educativas em diversas cidades do estado.

 

A Comunidade Ahmadia, da qual o Imã faz parte, é um ramo do islamismo fundado em 1889, que tem como lema “Amor para todos, ódio para ninguém”. Conhecida mundialmente por seu empenho em iniciativas humanitárias e em promover o diálogo inter-religioso, a Ahmadia busca desconstruir estereótipos associados à fé islâmica.

 

Durante a entrevista, Ihtsham destacou que a ignorância é uma das principais fontes de preconceito contra os muçulmanos. “Infelizmente, muita gente associa o Islã com violência, quando, na verdade, a própria palavra 'islã' significa paz e segurança. Como pode uma religião cujo nome é paz pregar o ódio? Isso é uma contradição”, observou.

 

O líder religioso apontou ainda que a desinformação, aliada aos conflitos globais e à generalização dos atos de grupos extremistas, têm aumentado a islamofobia e o preconceito. “Existem grupos e indivíduos que, em nome da religião, cometem atrocidades. Mas esses atos não representam o Islã verdadeiro. Isso ocorre em todas as religiões, em todos os países. Julgar um povo inteiro por ações de poucos é injusto e perigoso.”

 

Segundo ele, o Islã, como ensinado por Maomé há mais de 1.400 anos, sempre valorizou a vida, a educação e a igualdade de direitos. “O Profeta já dizia: buscar o conhecimento é uma obrigação para homens e mulheres. Muito antes de outras civilizações garantirem direitos às mulheres, o Islã já reconhecia seu papel social e espiritual.”

 

O Imã reforça que a proposta da Ahmadia é mais do que tolerância — é o respeito. “Tolerar é o mínimo, mas ainda assim tem algo de condescendente. Nós queremos respeito verdadeiro. Ninguém quer ser apenas tolerado. As religiões, como as pessoas, têm diferenças. Mas podemos conviver com essas diferenças com base na empatia, como acontece dentro de uma família”, comparou.

 

Ele defende que todas as crenças precisam trabalhar juntas pela harmonia social. “Hoje uma comunidade sofre, amanhã pode ser outra. Se quisermos construir um mundo justo, precisamos unir forças e reconhecer a verdade do outro. O diálogo é essencial”, disse.

 

Durante sua visita a Limeira, o Imã participará de encontros com lideranças religiosas, membros da sociedade civil e representantes do poder público. Ele também mantém aulas online gratuitas de língua árabe e estudos sobre o Islã, disponíveis para interessados de qualquer religião.

 

Além do preconceito no Ocidente, o Imã alertou para a perseguição que a própria comunidade Ahmadia sofre em países de maioria muçulmana. “No Paquistão, por exemplo, a Constituição foi alterada em 1984 para nos declarar como não muçulmanos. Lá, não podemos construir mesquitas, rezar publicamente ou nos identificarmos como muçulmanos. Há casos de prisão e até assassinatos de membros da nossa comunidade simplesmente por causa da nossa fé”, afirma.

 

Relatando a morte de quatro membros da comunidade no Paquistão, entre eles um médico querido por toda a população local, ele lamenta que o ódio seja incentivado até por legislações. “É uma tristeza para a humanidade. Quando perdemos os valores da vida humana, todos nós perdemos. O Alcorão é claro: quem mata um inocente é como se tivesse matado toda a humanidade”, reforça.

No Brasil, a estimativa é de que existam mais de 1 milhão de muçulmanos, segundo dados não oficiais, já que o censo do IBGE não inclui a religião. A Ahmadia é uma das comunidades ativas, com presença em vários estados e crescente participação de brasileiros convertidos.

 

“O Brasil tem um povo acolhedor, gentil e aberto. Minha esposa é brasileira, mas infelizmente ela também enfrenta preconceitos. Há quem diga que ela ‘não precisa mais usar o véu’, como se sua fé não fosse legítima só por estar em outro país. Isso fere a liberdade religiosa e precisa ser discutido”, criticou o Imã.Ele elogiou o espírito receptivo do brasileiro, mas ressaltou que ainda há muito trabalho a ser feito. “Estamos aqui para mostrar que o Islã é parte da diversidade religiosa brasileira. Nosso papel como líderes é promover a compreensão e a união”, disse.

 

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